As estatísticas apontam uma realidade trágica que, diariamente, vitimiza adolescentes no Ceará. São os jovens que mais estão na mira do crime, tanto para morrer quanto para matar e traficar. Por meio de consultas aos boletins diários da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) o G1 contabilizou que, pelo menos, 71 adolescentes de 13 a 17 anos de idade foram mortos no estado no primeiro semestre.
O número é menor do que o de igual período de 2018, quando morreram 208 adolescentes desta faixa etária. Apesar da redução de 66%, os índices mostram que o fim precoce de uma juventude ameaçada é rotineiro. Na lista das 278 vítimas desde o ano passado, há nomes e sobrenomes populares no Brasil que são recorrentes: foram mortos 30 Franciscos e 82 Silva.
De todas as mortes, 95% aconteceram com uso de uma arma de fogo. O perfil do adolescente que mais morre no Ceará é o do negro, morador de periferia, com problemas familiares e que já estava há mais de seis meses fora da escola; 85% são do sexo masculino.
O sociólogo e coordenador do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, Thiago Holanda, ressalta que a redução dos índices de adolescentes assassinados não acompanha a diminuição da vulnerabilidade destas vítimas.
"Como a queda está muito associada à dinâmica da reorganização dos grupos que disputam esse mercado varejista da droga no estado do Ceará e a resposta do estado é o recrudescimento da força policial, a gente não sabe qual resposta para isso. Se tiver uma nova onda de mortes, quem vai ser afetada é essa juventude vulnerável", ponderou Thiago.
Estratégias adotadas
A adoção de políticas públicas eficientes é passo primordial para reduzir os assassinatos. Thiago reforça a necessidade de acolher as famílias dos adolescentes assassinatos para evitar novas mortes. O sociólogo ressalta que "é importante que o estado chegue logo e chegue perto, não só para que dê garantia da proteção, mas a responsabilização do autor do homicídio".
O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Leonardo Barreto, acrescenta que pesquisas mostram que dentro do círculo familiar ou de amizade da vítima, costuma ter um irmão, amigo ou primo que também foi assassinado: "o crime é retroalimentado. Se parar para pensar na profundidade deste conflito, um não saberia explicar para o outro porque a briga. No meio desta questão falta o elemento principal: educação. A última pesquisa do Ipea concluiu que 1% a mais de jovens nas escolas significa redução de 2% na taxa de homicídios em um município", afirmou.
Leonardo Barreto destaca que a Polícia Civil do Estado do Ceará estipulou que os homicídios contra adolescentes devam ser prioritariamente investigados. Segundo ele, a decisão parece simples, mas é um direcionamento de política pública que vai de acordo com a realidade social percebida.
*Da redação do Blog do Farias Júnior com dados do G1 CE