segunda-feira, 6 de junho de 2022

O antivoto e as antíteses

Imagem Reprodução O POVO

*Da coluna do jornalista Jocélio Leal no O POVO.


 As declarações de cores golpistas do presidente da República, a ponto de pôr em xeque a lisura do sistema pelo qual foi eleito, se bastam para demonstrar a gravidade do voto na reeleição. Ao mesmo tempo, os claros sinais de ressentimento, com direito a ameaças autoritárias do ex-presidente e pré-candidato, como regular a mídia, mostra não ser uma escolha tão digerível assim. Isso para ficar no tempo presente. 


O maniqueísmo no qual nos metemos é a prova cabal do nosso fracasso. De todas as instituições democráticas. Os três poderes, a imprensa, a academia, o terceiro setor... Um País com a dimensão do Brasil não consegue ter como favorito um nome capaz de merecer um voto, não um antivoto. Um se alimenta do outro em uma coreografia conveniente - e pobre. A patrulha corre solta de lado a lado.


Na militância chapa branca (ou anti-petista), ancorada em uma risível ameaça comunista, como se o PT não tenha dado soberbas demonstrações de que trafega absolutamente desenvolto na Faria Lima ou onde mais for preciso. De revolucionário tem, no máximo, os militantes de Twitter. No mais, as conveniências comuns a todos os partidos mais relevantes.


O passado que condena

Qual a grande tacada de fundamento no establishment em 14 anos de Poder? Qual nada. Levou junto um grande industrial como vice e um banqueiro como presidente do Banco Central. Depois um politico tradicional. Concertou. No Planalto, reproduziu o tucanismo e apaziguou-se assinando contrato com o Centrão. Para sustentar o amor que era cilada, pagava um mensalão. Na maior estatal, dutos de dinheiro, por meio da cobrança de propina das empreiteiras, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e superfaturamentos de obras. Dinheiro para o PT e outros. Mas no discurso do anti-Bolsonarismo, a insistência petista do monopólio do dom da salvação.


O antipresidente

Quanto ao presidente-pré-candidato, a falta de projeto para o País, a gestão da economia que não dá respostas à baixa produtividade, ao elevado desemprego, à pobreza e à renda per capita precária. Ademais, viramos párias no mundo, pelo desapego à democracia. A coerência com o que sempre foi no Congresso. Uma personagem abaixo do rés-do-chão do baixo clero, capaz de celebrar a Ditadura e torturadores de qualquer tempo. A fala do presidente sobre o assassinato sob tortura de um homem por policiais rodoviários federais é mais do mesmo de sempre. Segundo o presidente, "Não é a primeira vez que morre alguém com gás lacrimogêneo no Brasil". E asfixia: "Se pesquisar um pouquinho, até nas Forças Armadas já morreu gente. […] Eles queriam matar? Eu acho que não. Lamento. Erraram? Erraram. A Justiça vai decidir. Acontece, lamentavelmente", disse na sexta-feira (3), em Foz do Iguaçu. Um antipresidente.


Não, militantes, não está fácil escolher.


E SEM BARULHO

 

*Da redação do BFJR com O POVO.