Filosofia nossa de cada dia
Não é tarefa fácil dar uma resposta adequada à pergunta: “O que é a filosofia?”. São muitos os filósofos, os pensamentos e os conceitos que precisam ser levados em conta. Além do mais, dada a distância temporal, é impossível conhecer todas as definições que já foram feitas ao longo da história da humanidade. Definições essas que, muitas vezes, são contraditórias e excludentes. Por exemplo, é possível que um filósofo tenha mais de um conceito do que seja a filosofia para ele.
É necessário, portanto, não considerar um único conceito como sendo o correto, uma escola ou corrente filosófica com sendo a “melhor”. Uma coisa, pelo menos, é certa: não existe verdade absoluta em se tratando de filosofia! De origem grega, a palavra “philosophia" significa literalmente “amor pela sabedoria”. Esse amor quer dizer uma constate busca, e não a posse da sabedoria. Por isso, mais importante do que as respostas, são as perguntas. Mais importante do que o ponto de chegada, é o caminho a percorrer. Compartilho com vocês o pensamento de alguns filósofos que refletiram e escreveram sobre este tema.
Bertrand Russel (1872-1970), em seu livro Os Problemas da Filosofia, escreveu o seguinte: “O valor da filosofia deve de fato ser procurado em sua própria incerteza. O homem que não tem nenhum conhecimento da filosofia atravessa a vida aprisionado aos preconceitos provenientes do senso comum, das crenças habituais de seu tempo e de sua nação, e das convicções que cresceram em sua mente sem a cooperação ou o consentimento deliberado da razão. Para um tal homem, o mundo tende a tornar-se definitivo, finito, óbvio; os objetos comuns não lhe trazem questões, e as possibilidades desconhecidas são desdenhosamente rejeitadas. Ao contrário, tão logo começamos a filosofar, descobrimos que mesmo as coisas cotidianas nos trazem problemas (questões) para os quais só podemos dar respostas muito incompletas. A filosofia, embora incapaz de nos dizer com certeza qual é a resposta verdadeira para as dúvidas que ela própria levanta, é capaz de sugerir muitas possiblidades que ampliam nossos pensamentos e os libertam da tirania do hábito”.
Karl Jaspers (1883-1969), no livro Introdução ao Pensamento Filosófico, afirma: “A filosofia designa aquele que ama a sabedoria e não aquele que, possuindo a sabedoria, intitula-se sábio. Esse sentido persiste ainda hoje: a essência da filosofia é a busca da verdade, não sua posse. [...] Fazer filosofia é estar a caminho. Em filosofia, as questões são mais essenciais do que as respostas, e cada resposta torna-se uma nova questão.”
Jean de La Bruyère (1645-1695) escreveu em seu livro Caracteres: “A filosofia convém a todo mundo. Sua prática é útil para todas as idades, todos os sexos e para todas as condições sociais: ela nos consola da felicidade do outro, de nossos fracassos, do declínio de nossas forças ou de nossa beleza. Ela nos arma contra a pobreza, a velhice, a doença, a morte, contra os ignorantes e as pessoas maliciosas. Ela nos permite viver solitários, ou nos permite suportar aqueles com quem vivemos.”
Se você, querida leitora e caro leitor, já é alguém habituado a ler filosofia, o meu incentivo é de continuar a fazê-lo. Lembrando que não basta ler e conhecer apenas para demostrar erudição, mas que esse conhecimento faça a diferença em sua vida. E se você ainda não começou, e não sabe por onde começar, aí vai a minha dica: leia a Carta Sobre a Felicidade, de Epicuro (341-271 a.C.). É possível encontrar o texto gratuitamente na internet. É breve, você lerá em poucos minutos. Espero que a leitura dessa carta desperte em você o desejo de filosofar.
De fato, Epicuro inicia sua carta dizendo: “Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz”. Bom final de semana a todos!
Danilo Alves Lima
