A OUTRA FACE DE TIRADENTES
Olá pessoal. Um dos instrumentais de verificação de aprendizagem do ENEM é a análise da pintura. Trata-se da Competência de área 1 (compreender os elementos culturais que constituem as identidades) da Habilidade 5 (Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades), de Ciências Humanas. Vamos analisar uma das pinturas sobre Tiradentes.
Junto aos eixos verticais e horizontais temos a cabeça decepada com cabelos e barba longos. Ao lado da cabeça, temos um Cristo crucificado que observa e realça o esquartejamento, A morte serena estampada na face, remete-nos a imagem dos heróis e mártires cristãos representando realisticamente o fato. Não se observa os olhos esbugalhados e a língua projetada para fora típico de um esquartejamento. A decapitação não é vista como um amontoado de carne humana, ela é recheada de valores simbólicos. O tronco magro e o braço direito pendente e a disposição do corpo lembram "Pietá” de Michelangelo e a “Deposição de Cristo" de Caravaggio na linha religiosa; A morte de Marat, de Jacques Louis David na linha heroico-nacional. (imagens abaixo )
A túnica azul oculta a visão dos cortes das vísceras e do abdômen. O artista evita expor os cortes da perna direita e do pescoço (que se cruzam e se completam). Entre o observador e o cadafalso temos um estandarte da barbárie humana: a perna esquerda amarrada e traspassada por uma haste de madeira exibe a carne dilacerada que completa a leitura cristã do martírio de Tiradentes.
A corrente, próxima à corda, simboliza a perversidade colonial. Na leitura do quadro temos um percurso proposto pelo artista. Nosso olhar deverá ir da perna espetada para o tronco, deste para a cabeça que está levemente inclinada e, com os olhos semiabertos, contempla o céu luminoso. Porém, nosso olhar se fixa no sangue que escorre da cabeça e da coxa que atrai e repele devido à exposição da carne.
Transformado em tela definitiva pelos republicanos, o herói em pedaços do Pedro Américo retratado em Tiradentes supliciado (hoje conhecido como Tiradentes esquartejado) faz parte de uma série de quadros produzida peto artista que contém cinco obras sobre a Conjuração Mineira (o termo Inconfidência significa falta de fidelidade ao soberano ou ao Estado e Conjuração é o ato de conspirar contra o governo e a autoridade estabelecida).
Os demais quadros são:
"A cena idílica de Gonzaga a bordar o fio de ouro o vestido nupcial de sua Marilia”,
“ A mais importante reunião dos conjurados”,
" A cena da constatação do óbito, passada diante do cadáver de Cláudio Manuel da Costa"
e " A prisão de Tiradentes em uma das casas da antiga rua dos Latoeiros".
Como a História é uma ciência dinâmica, novos estudos refutam a visão tradicional apresentada nos livros. Elencamos a seguir algumas dessas novas abordagens:
1. Os inconfidentes foram estimulados pelo escritor da antiguidade clássica, Virgílio (libertas quae será tamen) pelo pensador iluminista, Montesquieu (1689-1755) defensor da interdependência dos poderes, pela Independência dos EUA (1776) cujo modelo de republicanismo (excludente e escravista) agradava seus membros.
2. Os líderes e ideólogos do movimento eram Tomas Antônio Gonzaga ao lado de Claudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, poetas do arcadismo brasileiro e ricos proprietários de terra e escravos.
3. Tiradentes não era um homem pobre, simples. Apesar de ser, auferes (posto militar equivalente ao de tenente) e, também dentista, possuía 43 lavras de minas. Os autos da devassa apontam que o mesmo possuía 200 mil reis de empréstimos ao cadete Jose Pereira de Almeida Beltrão e 220 mil reis a Luís Pereira Queirós. A quantia inicial (de Jose) corresponde a 30 vacas leiteiras ou a uma fazenda de médio porte. Tiradentes recebia 142$350 reis anuais de soldo militar valor incompatível para o seu sustento. Herdara 96S$744 reis de sua mãe, Antônia da Encarnação Xavier e era dono de escravos (5) e de um sitio de 50 quilômetros quadrados na Rocinha negra (Porto de Meneses em MG) todos os bens confiscados pela coroa durante a devassa. Portanto, era um homem de posse e não pobre como querem os republicanos.
4. Tiradentes foi enforcado no subúrbio do campo de São Domingos (atual Avenida passos não no local da rua Tiradentes (atual rua Visconde no Rio de Janeiro).
5. Antes do movimento mineiro ocorreram outras sublevações na região de Minas. Curvelos (1760-1763), Mariana (1768) e Curvelos (1776). Porém sem o caráter emancipatório.
6. Tiradentes foi o único enforcado pela coroa portuguesa na Conjuração Mineira (1789). Na Conjuração Baiana (1798), João de Deus, Gonzaga das Virgens, Manuel Faustino e Lucas Dantas tiveram mesmo destino: foram enforcados e esquartejados em 8 de dezembro de 1799. Estes defendiam um projeto de emancipação acompanhado do fim da escravidão e de uma republica baseada nos princípios da igualdade. Porém, por representarem as classes menos favorecidas não tiveram a mesma honraria que o alferes mineiro com um feriado nacional e alçado a condição de herói.
7. O movimento era regional não defendia a emancipação do Brasil. A proclamação da República e a independência seria de Minas.
8. A liberdade defendida no lema da bandeira era política (emancipação) e econômica (livre comercio) e não social.
9. Sobre Tiradentes, não há registros fidedignos de sua aparência, mas tão somente descrições faladas e pouco detalhadas. A imagem de Tiradentes representada nas obras é uma livre interpretação dos pintores.
10. A aplicação da derrama (uma cobrança que recaia sabre toda a população - 8 mil quilos de ouro) motivou a conjuração em que homens ricos, militares, letrados e clérigos articularam não só ideias, mas interesses. Era necessária uma rebelião que os Iivraria das dívidas e dos impostos.
11. O dial 21 de Abril, no ano de 1890 foi declarado feriado nacional em virtude de ser esta a data do seu enforcamento. Os republicanos escolheram Tiradentes, pois o mesmo havia morrido pela causa republicana (Não fora o Único. Ver ponto 6) Estava criado o culto a sua imagem, e a imagem de um herói nacional para Republica.
Para finalizar, note a semelhança entre as obras abaixo e a pintura de Pedro Américo principalmente no que se refere ao braço estendido.
Pietá, -Michelangelo
Deposição de Cristo- Carravaggio
A morte de Marat, de Jacques Louis David
Manoel Mosilânio Malaquias da Cruz (Pixote Cruz)
Historiador (URCA), Pedagogo (URCA), Graduado em Mídias da Educação (MEC) Especialista em Mídias da Educação(UFC), em Educação e Direitos Humanos (UFC); em Análise Transacional (Academia do Futuro) e em Metodologia do ensino Superior (UNICAP). Pesquisador sobre Música Brasileira e Tutor do Projeto Professor Aprendiz da SEDUC- FUNCAP na área de Ciências Humanas. Professor de Graduação e Pós- Graduação da Faculdade FACEN. Professor da Rede Privada e Pública Estadual de Brejo Santo-Ce, e do Curso Sapiento. (Salgueiro – Pe) Especialista e Consultor Educacionais das Matrizes Curriculares e dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da prova do ENEM



