sexta-feira, 20 de outubro de 2017

COLUNA DA MICHELINE MATOS - Essa tal paternagem


Essa tal paternagem

Em épocas de  debates e polêmicas envolvendo o tema  gênero, vale a pena trazer a tona a relevância do papel do pai na primeira infância dos seus filhos, além de claro, no restante da vida também, mas é que acredito ser a primeira infância, a base de tudo.

Nossa sociedade paternalista engessa responsabilidades nas mães e libera os pais de outras tantas, mas aqui não cabe um aprofundamento acerca desse modelo já normatizado e “aceito”. Aqui só me cabe  levantar uma questão: A importância da paternagem no desenvolvimento de um ser que futuramente irá respeitar muito mais as diferenças. E respeito é uma peça fundamental para se viver em harmonia com os outros seres e com a natureza.

Mas o que é essa tal paternagem e qual a diferença entre paternidade? A segunda é algo biológico e que pode ser confirmada com teste de DNA. Já a primeira anda pelo terreno da afetividade, do estar presente, do nutrir os cuidados e realmente fazer diferente da cartilha antiga do ser pai.

Eu não sei para vocês, mas me parece algo bastante óbvio que todos os pais deveriam ter o mesmo envolvimento, o mesmo tesão em participar ativamente do cotidiano de um filho. Nesse calendário de tarefas repetidas e que podem parecer até chatas, aprendemos tanto... As vezes estou vestindo a roupa da minha filha e ela fala: Mamãe eu te amo! E eu penso: como pode um momento tão mecânico virar uma coisa assim tão linda?

Paternagem é estar ali sempre que necessário não só pela criança, mas também pela mãe. É apoiá-la sabendo que a maternagem quase nunca é o que aparece nas fotos das redes sociais, aonde estão lindas e felizes. Só quem atravessou o túnel do puerpério vai saber o que estou falando.

Eu sei que muitos homens já começam a descobrir as delícias da paternagem e como seria bom que essa onda de cuidado paterno tomasse mais conta da infância! Nossos meninos e meninas covivendo com essa paternagem ativa crescerão sem aquela coisa de que isso é tarefa de mamãe e essa do papai.

Crianças criadas sem esse padrão engessado de pai e mãe crescerão dentro de valores mais humanos. As chances de serem adultos que julgam menos e que respeitam mais é muito maior.

Meu convite é para que os pais derrubem o muro que os separa dessas tarefinhas que parecem bobas mas que fazem uma baita diferença na vida de alguém: pentear cabelo, dar banho, preparar e oferecer uma comida, enfim coisas simples mas que criam elos para vida inteira. Eu não tenho recordações assim do meu pai.Nem por isso o amo menos, mas teria sido mais fácil, encarar certos problemas na fase adulta se eu tivesse sentido o poder da paternagem. E falo isso não por achismo, mas apoiada em falas ouvidas em algumas sessões de terapia.

Pesquisas mostram que a forma como você se relaciona com seus filhos atinge diretamente a vida amorosa e profissional deles. Nunca é tarde para criar esse elo. 

A chave para uma sociedade mais acolhedora e rica de verdade não está no portão das universidades, está em nós, em cada pai e mãe que decide caminhar lado a lado com seus filhos respeitando e orientando as suas escolhas. Mas isso começa na primeira infância.

Para quem tiver interesse em conhecer mais sobre paternagem para se inspirar:

no youtube:
Paizinho, virgula!

Micheline Matos
Jornalista, fotógrafa, mãe de menina e de cachorro...Lutando pelo protagonismo da paternagem como ferramenta para uma sociedade menos patriarcal.