Experiências culturais
Viver em um país que não é o nosso, requer de nós a capacidade de adaptar-se a diversas realidades. A primeira delas é, sem dúvida, a língua. Uma coisa, como sabemos, é a gramática dos livros; outra, é a língua falada no dia a dia. É difícil ter que raciocinar em outra língua. Embora sejam de origem neolatina, e tenham algumas coisas semelhantes, o português e o italiano são bem diferentes.
No meu caso, tenho que falar as duas línguas todos os dias, porque não perdi o contato com minha família e amigos do Brasil. Continuo lendo e escrevendo (esta coluna, por exemplo) em português. Os estudos e a vivência cotidiana, porém, me obrigam a falar, ler e escrever em italiano. E eu quero aproveitar ao máximo essa minha temporada por aqui para aprender bem a língua de Dante Alighieri. Mas, acreditem, uma hora as duas línguas começam a fazer uma confusão na cabeça da gente.
Às vezes, por exemplo, eu falo algumas palavras em português, pensando estar falando italiano. Ou então esqueço palavras básicas do português, e algumas me soam bem estranhas. Nós usamos com frequência o verbo ficar, certo? “Onde fica isso; onde fica a casa de fulano...”. No entanto, meus amigos, a palavra “fica” em italiano é um palavrão terrível. Nos meus primeiros dias aqui, é óbvio que eu caí nessa armadilha. Os meus interlocutores, coitados, não sabiam o que fazer...
A temperatura é outra coisa que precisamos nos acostumar. Aqui, no verão deste ano, fez muito calor, chegando a casa dos 40 graus. Nenhum problema para um cearense. O problema é o frio. Estamos agora no outono e a temperatura está, em média, entre 7 e 13 graus. Imagino quando o inverno apertar. Graças a Deus, todas as casas são equipadas com aquecimento. Ufa!
Existem várias outras coisas que ainda terei oportunidade de tratar neste espaço... A última que gostaria de destacar, hoje, é a alimentação. Sim, é verdade que os italianos comem bem. Mas engana-se quem pensa que por aqui se come pizza todos os dias. Não, o prato cotidiano é o macarrão (em italiano, “pasta”). Todos os dias, isso mesmo, todos os dias, no almoço e no jantar se come macarrão. Existem massas de vários tipos e gostos. É um pouco estranho para mim, porque nós brasileiros estamos acostumados a comer todos os dias arroz e feijão. (Ah!, como eu sinto saudade do baião de dois preparado pela minha mãe – o melhor do mundo, diga-se de passagem).
Além disso, as refeições são divididas em “etapas”. No dia a dia, temos o primeiro e o segundo prato. No primeiro, come-se o macarrão puro. No segundo, carnes e verduras. Mas, nos domingos e dias festivos, a coisa se prolonga. Primeiro são servidos os “aperitivos”, alguma coisinha para ir abrindo o caminho (um pequeno biscoito etc.). Depois, o “antepasto”. Neste caso, já é algo mais elaborado. Em seguida, o primeiro e o segundo prato, que já sabemos como são (embora o segundo seja dividido em dois: “carnes” e “contornos”, que são as verduras e legumes). Depois, o “dolce”, que pode ser uma fruta, uma torta ou um delicioso “tiramisu”. E para finalizar, claro, um café quentinho. Alguns ainda bebem o “ammazzacaffè”, que pode ser um licor, por exemplo. Com tudo isso, você, caro(a) leitor(a), pode imaginar que a refeição em dias de festas não se faz em pouco tempo. E imaginem como é difícil manter uma dieta equilibrada, para quem quer emagrecer (como é o meu caso).
De todas essas experiências culturais que estou vivendo, gostaria de ressaltar duas coisas: primeiro, a importância de estar sempre aberto ao novo, ao desconhecido. Deixar-se entrar totalmente no universo em que se está vivendo. Aprender coisas novas todos os dias! Segundo, valorizar nossas origens. E isso acredito que só seja possível fazer quando nos afastamos um pouco. A nossa cultura, a nossa língua, a nossa alimentação também são riquíssimas e belíssimas. Mas, às vezes, não paramos para pensar nisso. A distância está me fazendo valorizar cada vez mais a nossa história, a nossa cultura. Aqui, digo com orgulho que sou brasileiro (ou “brasiliano”, em italiano).
Bom final de semana a todos! Até a próxima.
Danilo Alves Lima