quarta-feira, 22 de novembro de 2017

COLUNA DO PROFESSOR PIXOTE - Um novo olhar sobre a educação II

 Um novo olhar sobre a educação II

O prazer, a sabedoria de ver, chegavam a justificar a minha existência. Uma curiosidade pelas formas me assaltava, me assalta sempre. Ver coisas. Ver pessoas na sua diversidade, ver, rever, ver, rever. O Olho armado me dava e me continua a me dar força para a vida.
                                                       

MURILO MENDES                                                                        

A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há flores, Mostra-me como as coisas são engraçadas Quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
 

 ALBERTO  CAEIRO
                                                                                                                                    
Os dois textos literários, de renomados poetas (brasileiro e português) servem de assertiva para iniciar esse nosso diálogo acerca dos pressupostos desse importante posto avançado de fronteira chamado ESCOLA, que nas suas diversas e variáveis funções nos conduz às rotas múltiplas de conhecimentos e saberes.

Nós educadores somos guardiões da sabedoria, promotores em busca da paz, da justiça e  da equidade entre os homens. Temos uma missão árdua, porém bela: impedir que as drogas da ignorância, da insensatez, da injustiça e as armas da intolerância e do preconceito continuem a penetrar nossas fronteiras, a conjurar nossos jovens para um outro caminho, ampliando o abismo social que se coaduna entre diversos pontos desse planeta.
 
Temos que estar atentos. E a nossa maior arma, como apontou os poetas, é o nosso olhar. A palavra teoria vem do grego theoria, cujo termo romano denomina-se contemplátio que significa “olhar por admiração”. E foi nesse olhar contemplativo que surgiu a filosofia, cujo referencial serve-me de base para nosso diálogo sobre a educação pelo olhar.
 
Os gregos, como nós sabemos, tinham enorme preocupação em entender o mundo que os rodeava. Buscavam explicações sobre os elementos físicos, sobre as coisas, sobre o mundo que os rodeava e chegaram a rotas múltiplas do saber.
 
Tales defendeu que A ÁGUA era o princípio substancial. Anaximandro no APEÍRON ou ilimitado, no infinito distante dos nossos sentidos.  Anaxímenes buscou conciliar as ideias de Tales e as de Anaximandro, ou seja, para ele a substância primordial e a massa geradora indeterminada era O AR. Temos aí a Tríade Pré- Socrática de Mileto.
 
Numa outra variável, Pitágoras de Samos viu que os NÚMEROS, por estabelecer harmonia e ordem, eram a morada e essência de todas as coisas.
Heráclito de Éfeso entendia o mundo com um MOVIMENTO PERPÉTUO DINÂMICO (o famoso vir-a-ser do mobilismo dialético das coisas).
Parmênides, por outro lado, entendia que a realidade só seria compreendida pela RAZÃO que nos levaria a explicar, entender, refletir sobre a essência da realidade (princípio da não - contradição)
Empédocles viu NO FOGO, NA ÁGUA, NA TERRA E NO AR os quatros elementos essenciais para se compreender as coisas do mundo e por fim Demócrito de Abdera NO ÁTOMO a maneira ideal de compreender as coisas e a realidade vistas por ele como uma ação mecanicista entre os átomos e o mundo real (o vácuo).
Platão, discípulo de Sócrates, buscou argumentos para explicar um mundo inteligível, ideal onde somente o conhecimento filosófico, racional e científico romperia com as impressões sensíveis que levaria-nos  a contemplar a verdade e o bem nos dando suporte para  partilhar com as outras pessoas.(a teoria das ideias)
Para isso, seria necessário uma evolução do mundo das sombras (aparências) para o mundo das ideias (essência). Platão formulou, então, uma alegoria para ilustrar como o conhecimento evolui.

O Mito da Caverna -Platão
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
 
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
 
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.

Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.

Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.

Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros  o que viu e tentaria libertá-los.

Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.

 O MITO DA CAVERNA -EXTRAÍDO DO LIVRO "CONVITE À FILOSOFIA" DE MARILENA CHAUI.


 “A educação, disse eu, seria uma arte da reviravolta, uma arte que se sabe como fazer o OLHO mudar de orientação do modo mais fácil e mais eficaz possível: não a arte de produzir nele o poder de ver, pois ele já o possui, sem ser corretamente orientado e sem olhar na direção que deveria, mas a arte de encontrar o meio para reorientá-lo”.                      (PLATÃO, República VII, 518D)

Como se percebe, a visão de educação de Platão consiste numa transformação de pensamento que nos leva a sobrepor a realidade vivida (mundo sensível) para a realidade verdadeira (mundo do ser) que nos conduz de forma gradual ao bem.  Cabe ao filósofo-educador reeducar-se superando o mundo sensível e chegando ao mundo das ideias (papel intelectual); A ele cabe, ainda, retornar à caverna e tentar convencer os outros prisioneiros a abandonar a ilusão –opiniões.     Desacomodar e procurar contemplar a realidade verdadeira – conhecimento-  sobre a que os cerca (papel político) e por último, compreender o seu papel de auxílio aos outros prisioneiros (papel pedagógico). Trata-se segundo Platão, de uma tarefa árdua que deve ser desenvolvida concomitantemente.(Heerdt2005).
 
Essa alegoria é uma analogia de olhares (corpo e espírito). A luz do sol ofusca os olhos do corpo e a alma sofre com a luz das ideias. Assim corpo e alma passam da escuridão à luz, pois a verdade torna-se visível não só para os olhos, mas, e principalmente para a alma. O olhar é convertido pela força da razão que nos leva a transpor nosso pensamento, nosso olhar, das coisas sensíveis para as ideias. O sol ilumina nosso mundo sensível (os olhos ver) assim como o Bem, a Verdade ilumina o mundo inteligível (a alma conhecer)
 
Essa análise de Platão não busca levar o homem a abandonar o mundo sensível, mas mostrá-lo como cópias imperfeitas e incompletas que precisa da PANDÉIA adequada para chegar à razão, à verdade.
   
Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
                                                                                                            ÉRICO VERÍSSIMO
                                                                                                                                       
   


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAUÍ Marilena. Convite à Filosofia.
HALL, Stuart.A identidade cultural na pós-modernidade; tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro: Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
HEERDT, Mauri Luiz. Pensando para viver alguns caminhos da Filosofia. 5ª ed. , SC: Sophos 2005


Manoel Mosilânio Malaquias da Cruz (Pixote Cruz)
Historiador (URCA), Pedagogo (URCA), Graduado em Mídias da Educação (MEC) Especialista em Mídias da Educação(UFC), em Educação e Direitos Humanos (UFC); em Análise Transacional (Academia do Futuro) e em Metodologia do ensino Superior (UNICAP). Pesquisador sobre Música Brasileira e Tutor do Projeto Professor Aprendiz da SEDUC- FUNCAP na área de Ciências Humanas. Professor de Graduação e Pós- Graduação da Faculdade FACEN. Professor da Rede Privada e Pública Estadual de Brejo Santo-Ce, e do Curso Sapiento. (Salgueiro – Pe)
Especialista e Consultor Educacionais das Matrizes Curriculares e dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da prova do ENEM
 
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