quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

COLUNA DO PROFESSOR PIXOTE - A arte efêmera de constestatória de Artur Barrio


A ARTE EFÊMERA E CONTESTATÓRIA DE  ARTUR BARRIO
"Barrio desenvolve a relação arte/vida no sentido da recuperação da vida e repotencialização da arte"  SHEILA CABO

 Nascido em Porto, Portugal e radicado no Brasil desde 1960 este artista plástico luso-brasileiro utiliza-se da arte experimental  marginal como forma de causar no observador  a perplexidade  com forte contundência poética e resistência política. 

Seu trabalho se utiliza de métodos e materiais não convencionais para expor a sua obra. Na sua intervenção  artística denominada Trouxas Ensanguentadas, ele se valeu de colocação de sacos com  dejetos e materiais orgânicos (trouxas de pano, preenchidas com fezes, urina carne, osso, sangue, comida, cabelo, unha, borracha, plástico, etc. ) para dar a impressão de que se tratava de corpos ensanguentados.

Artur Barrio, Situação T,T1...... 2ª Parte, 1970, Coleção Inhotim

A obra em si causa estranheza mas se trata de uma denúncia.  Com um olhar mais atento, verificamos pois que as trouxas  ensanguentadas (TE) foram apresentadas em 1969 pela primeira vez no Salão da Bússola, organizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ e posteriormente abandonadas nas ruas daquela cidade. Ou seja, em plena Ditadura civil- militar no Brasil.


“As T.E denunciavam o terror ditatorial, o "desovamento" de corpos assassinados pelo "Esquadrão da Morte". Cada "trouxa" significava um corpo torturado e morto pela ditadura. Corpos que flutuavam sem ninguém ver. Corpos lançados na avenida principal. O escândalo e o choque serviam para rasgar o véu imposto pela censura. Barrio explicitava o terror à luz do dia.   A morte ocultada pelos grandes meios de comunicação apareciam em metáfora ensanguentada.”


LIVRO DE CARNE, 1978-1979










o livro vem  acompanhado de um manual que apresenta instruções com os seguintes  dizeres: 

 “A leitura desse livro se faz a partir do corte/ação da faca do açougueiro na carne com o consequente seccionamento das fibras; / fissuras etc. etc., assim como as  diferentes tonalidades e colorações diferentes. Para terminar é preciso não esquecer de falar das temperaturas, do contato sensorial (dos dedos), dos problemas sociais etc. e etc.................................................................................................
.................................................................................................................................Boa Leitura  ” A. A. Barrio 3.79”
(Artur Barrio, In: CANONGIA, 2002. Artur Barrio - Ligia Canongia - 2002 - Texto bilingue (Português e Inglês) - Ilustrado - 272 páginas)

Novamente com o seu tom provocativo e radical, Artur Barrio faz  uma arte conceitual que valoriza a experiência e não a imagem ou o objeto.  O uso do material (a carne ) constitui-se em uma  reflexão sobre experiências sensoriais  que envolvem o público através das  reações extremas com a obra e seus significados. A obra tem apelo político, pois o uso da carne como material artístico  é associada a violência e outras injúrias impostas  durante o  regime militar  brasileiro. ( 1964-1985)
 Em suma, vale a pena conferir as opiniões abaixo sobre esse grande artista plástico luso - brasileiro. 

 “A arte de Barrio expõe o constrangimento econômico do Terceiro Mundo. Barrio sustentou dois embates: pela liberdade de expressão na ditadura e contra a desigualdade de expressão no capitalismo. Sua estratégia denuncia o condicionamento da produção pelos materiais artísticos no Terceiro Mundo. Não se tratava de história, disponibilidade ou custo dos materiais: ‘o processo não era de conseguir os meios (ainda que mínimos), mas o de fazer’. Barrio enfrenta a politização dos materiais da linguagem para desenvolver estratégias de superação, atuando nas etapas de produção, distribuição e apropriação da arte (…). Para Barrio, o registro de obras responde à apropriação da arte, irredutível à condição de mercadoria: ‘as coisas não são indicadas (representadas), mas sim vividas’. Reviu seu estatuto: ‘abro mão de meu enquadramento como artista'; e a produção de consumo: ‘o trabalho não é recuperado pois foi criado para ser abandonado e seguir sua trajetória de envolvimento psicológico'; testando a ideologia do mercado, desconstruiu os signos com que se reconhecia na operação artística uma possível formação de valor de troca”.         PAULO HERKENHOFF
“É revelador como na poética de Barrio manifesta-se, com intensidade, o duplo sentido do termo escatologia que se refere, então, não apenas aos dejetos do corpo, mas também à ‘doutrina sobre a consumação do tempo e da história’. Isto porque elementos orgânicos de putrefação garantida são, antes de mais nada, metáforas da dialética vida/morte inerente à consideração humana. O contexto da forte repressão política fornece os parâmetros necessários para se compreender este trabalho, no momento de sua formulação. Da adversidade vivemos, conclui Hélio Oiticica em Esquema Geral da Nova Objetividade (1967).   (... )O gesto toma o sentido da ação a ser francamente compartilhada através de obras, um ativismo que se faz pelo envolvimento das pessoas, subvertendo, definitivamente, a ideia institucionalizada e passiva de público de arte”.   CRISTINA FREIRE

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS  (SELEÇÃO )
2002 documenta 11, Kassel
2001 Museu de Arte Moderna, Salvador; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
2000 Paço das Artes, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto.
1995 Paço Imperial, Rio de Janeiro.
1983 Gallery Suspekt, Amsterdam; Espace Cairn, Paris; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1978 Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1977 Livro de Carne, Espace Cairn, París.
Galeria Millan, São Paulo, Brasil (2017, 2014, 2008 e 1986);
Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal (2012); Museo Tamayo, Cidade do México, México (2008); Fonds Régional d'Art Contemporian Provence-Alpes-Côte D’Azur, Marselha e Palais de Tokyo, Paris, França (2005);
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil (2001 e 1982); Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Brasil (1998), entre outras.
Foi vencedor do Prêmio Velázquez, em 2011, e único representante do Brasil na 54a Biennale di Venezia, Itália, no mesmo ano. Participou de dezenas de exposições coletivas incluindo a Bienal de São Paulo, Brasil (2013, 2010, 2004, 1998, 1996, 1994, 1985, 1983 e 1981);
 mostra Insurrecciones/ Uprisings, Museu Nacional da Catalunha, Barcelona, Espanha e Memories of Underdevelopment, Museum of Contemporary Art San Diego, California, EUA (2017);
Soulèvements/Uprisings, Jeu de Paume, Paris, França (2016);
Imagine Brazil – Artists Books, Musee d'art contemporain de Lyon, França (2014);
America Latina 1960–2013, Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris, França (2013); Artists Hands Project, Stedelijk Museum Voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica (2008);
Inverted Utopias: Avant-Garde Art in Latin America, Museum of Fine Arts, Houston, EUA (2004);
 dOCUMENTA, Kassel, Alemanha (2002);
De L’adversité, nous vivons, Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, França (2001), entre outras.
Suas obras integram importantes coleções públicas no Brasil — Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Inhotim, Minas Gerais — e no exterior, como o Musée d' Art Moderne de la Ville de Paris e Centre Pompidou, França;
S.M.A.K Stedelijk Museum Voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; MoMA – Museum of Modern Art, Nova York, EUA, entre outros.

EXPOSIÇÕES COLETIVAS  (SELEÇÃO )
2000–01 Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid; Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, París.
2000 Kwangju Biennale, Kwangju
1999 Beyond Identity: Global Conceptualism: Local Contexts, Queens Museum of Art, New York.
1998 Out of Actions, The Museum of Contemporary Art, Los Angeles; MAK, Vienna; Museo d'Art Contemporani de Barcelona, Barcelona; Museum of Contemporary Art, Tokyo; National Museum of Osaka, Osaka.
1996 Bienal de São Paulo, São Paulo.
http://www.banquete.org/v2/espagnol/obrasEspagnol/fichaobra.php?id=33&idioma=es

FONTES CONSULTADAS
CABO, Sheila. Barrio: A morte da arte como totalidade. In: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001. (N-Imagem).
 BARRIO, Artur. Manifesto. In: BARRIO, Artur. Artur Barrio: a metáfora dos fluxos 2000/1968. São Paulo: Paço das Artes, 2000. p. 100.
http://umbigomagazine.com/um/2017-02-03/artur-barrio-vence-edp-arte.html
http://www.galeriamillan.com.br/pt-BR/artista/artur-barrio
http://muvi.advant.com.br/artistas/a/artur_barrio/livro_de_carne.htm
http://www.banquete.org/v2/espagnol/obrasEspagnol/fichaobra.php?id=33&idioma=es
https://www.publico.pt/2017/02/03/culturaipsilon/noticia/artur-barrio-visto-do-brasil-contundencia-poetica-e-resistencia-politica-1760751
https://www.google.com.br/search?q=livro+de+carne+artur+barrio&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwjQ0PKVp5HZAhXShOAKHawrCxsQsAQIJg&biw=1366&bih=613#imgrc=kd6QaIV59WdwqM:
http://bibliotecacehb.blogspot.com.br/2015/01/artes-artur-barrio.html

Manoel Mosilânio Malaquias da Cruz (Pixote Cruz)
Historiador (URCA), Pedagogo (URCA), Graduado em Mídias da Educação (MEC) Especialista em Mídias da Educação(UFC), em Educação e Direitos Humanos (UFC); em Análise Transacional (Academia do Futuro) e em Metodologia do ensino Superior (UNICAP). Pesquisador sobre Música Brasileira e Tutor do Projeto Professor Aprendiz da SEDUC- FUNCAP na área de Ciências Humanas. Professor de Graduação e Pós- Graduação da Faculdade FACEN. Professor da Rede Privada e Pública Estadual de Brejo Santo-Ce, e do Curso Sapiento. (Salgueiro – Pe)
Especialista e Consultor Educacionais das Matrizes Curriculares e dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da prova do ENEM
 Acesse o canal ENEM TOMARA 2017.