domingo, 18 de fevereiro de 2018

COLUNA DO DR. JÚNIOR BONFIM - Observatório 18.02.18


 


                                        OBSERVATÓRIO

 
José Alon Aguiar Portela foi, por várias legislaturas consecutivas, o representante maior do Distrito de Ibiapaba na Câmara Municipal de Crateús. (Ibiapaba, o maior ajuntamento urbano na zona rural crateuense, está situado no pé da Serra da Ibiapaba, cadeia montanhosa que separa o Ceará do Piauí. A localidade é uma procissão imóvel, permanentemente ajoelhada para aquele majestoso altar de pedra também chamado de Serra Grande.)
O certo é que o distrito de Ibiapaba era a bandeira de vida, o mastro sagrado, a razão de ser dos mandatos de Zé Alon. Este, porém, tinha um senão. Gostava muito de exaltar o polo negativo da bateria da vida. Para cada notícia boa, sempre arrancava um contraponto, ponderando ou ressaltando um aspecto delicado ou preocupante ou negativo.
 
Durante a gestão do Prefeito Paulo Nazareno, houve um período de escassez de chuvas. Zé Alon vivia a lamuriar, em razão da falta de água, o estado de dificuldades do povo do distrito que representava. Alegava sentir o coração partir quando via aquela gente com sede e fome. Mas, um belo dia, veio a chuva, chuva torrencial, e o tão esperado líquido precioso caiu dos céus e alagou as ruas da Ibiapaba.
Na manhã seguinte, quando Zé Alon adentrou à Prefeitura, o Alcaide o saudou efusivamente: - Bom dia, Zé! Dizem que, ontem, na Ibiapaba todas as biqueiras botaram água. É verdade?! O povo deve estar comemorando!
- Que nada, Prefeito – retrucou Zé Alon. Está cheio de gente doente, com gripe e resfriado. E a lama nas ruas... nem lhe conto...

CHUVA
A despeito das exceções, que confirmam a regra, a verdade é que a chuva, no interior do nosso Ceará, é um achado milagroso: espanca o mau humor, revitaliza os espíritos, abre um largo sorriso na alma das pessoas. A Natureza veste uma roupa nova, exuberante, perfumada. Todos os seres vivos vibram e cantam. É festa de vida! No entanto, a vida segue e as matérias controversas, as batalhas e pelejas pelo conserto do mundo continuam a instigar a cidadania pensante. Vejamos.  

DESAFIOS
Dois grandes temas têm desafiado a consciência nacional e constituem a pauta recorrente das mídias nacional e estadual nos últimos dias: a Previdência e a Segurança Pública. O problema é que, como quase todos os assuntos relevantes para o País, o debate é contaminado pelo vírus da irracionalidade. A paixão política se sobrepõe à razão analítica.

PREVIDÊNCIA
Dados do Tesouro Nacional mostram que as receitas do Regime Geral de Previdência Social, que atendem os trabalhadores da iniciativa privada, somaram R$ 358,1 bilhões em 2016, enquanto os gastos com o pagamento de benefícios foram de R$ 507,9 bilhões. Ou seja, as despesas foram maiores que as receitas em R$ 149,8 bilhões. Quando agregamos a essa conta a previdência dos servidores públicos federais, civis e militares, o déficit se amplia. A receita do regime previdenciário desses servidores em 2016 foi de R$ 33,6 bilhões, enquanto a despesa somou R$ 110,8 bilhões, resultando em déficit de R$ 77,2 bilhões. Somando os déficits dos dois regimes chega-se a um total de R$ 227 bilhões em 2016. Para se ter uma ideia, é quase dez vezes o valor gasto com o Programa Bolsa Família, que despendeu R$ 28 bilhões em 2016 e é mais que o dobro de todo o gasto do Ministério da Saúde. O ajuste na Previdência, portanto, não é desafio de um governo, mas de todo o País.

SEGURANÇA
Outro tema inoculado pela verborragia política é o da Segurança. A intervenção no sistema de segurança do Rio de Janeiro reacendeu essa chama. Vejamos os índices. Conforme o Jornal do O Povo do último domingo, “em 2017, o Rio de Janeiro contabilizou 6.731 homicídios, enquanto o Ceará registrou 5.134. Só que a população de lá é quase o dobro da nossa. Ou seja, proporcionalmente, aqui se mata muito mais. Tanto que a taxa de homicídios do Ceará é de 57 para cada 100 mil habitantes e a do RJ é de 40 por 100 mil.” Mais do que a quantidade de valores investidos em Segurança Pública, há que se discutir a qualidade dos gastos. No mesmo itinerário, mirar o exemplo de outros lugares que reverteram igual situação caótica. Da Colômbia, por exemplo, vem um modelo vigoroso e vitorioso de combate à criminalidade e à banalização da vida: reformulação do aparato de segurança, leis rigorosas, campanhas educativas eficientes combinadas com um maciço investimento na área social. Sigamo-lo.

PARA REFLETIR
“Toda a Natureza é um desejo de serviço. / Serve a nuvem, serve o vento, servem os vales. / Onde haja uma árvore que plantar, planta-a tu;/ Onde haja um erro que emendar, emenda-o tu;/ Onde haja um esforço que todos evitam, aceita-o tu.

Sê aquele que afasta a pedra do caminho, / O ódio dos corações e as dificuldades de um problema/ Existe a alegria de ser são, e a alegria de ser justo, / Mas existe, sobretudo, a maravilhosa, a imensa alegria de servir.” (Gabriela Mistral)