Raimundo Cabral, Esposo, Pai, Avô, Discípulo de Cristo
Mais um dia ao ouvir outro protagonista da nossa história cotidiana da cidade e suas colocações. Deparo-me desta vez com o nosso conhecido Raimundo Cabral em sua oficina de trabalho, no Bairro Alto da Bela Vista em um dia nublado e gentilmente cede um espaço em sua residência, para que eu pudesse ouvir um pouco de sua vida, pois o tempo é curto diante de tantos acontecimentos.
Mas quem é Raimundinho? A resposta em meio ao sorriso diz: “Não sou nada”. Mas sei do seu potencial enquanto pessoa e profissional. Segue a nossa conversa e Raimundinho inicia sua fala retratando sua participação na história de Brejo Santo como um cidadão comum. E faz memória da sua raiz familiar. Na verdade, os Cabral tem sua origem em Águas Belas (Paraíba). Mas segundo ele, tudo estava escrito para que ele pertencesse a Brejo Santo. Seu bisavô era conhecido como Bom de Ouro, e quando vinha a cidade de Missão Velha vender suas mercadorias como comboieiro, parou em Brejo Santo e profetizou que um dia viria morar na cidade. E foi fato, ele não só veio como trouxe toda a família. Desta prole pode-se citar o Lourenço Gomes da Silva, seu bisavô. Cita o nome de alguns primos como Erialda, Maria de Adilzio, pois enfim se fosse citar a relação seria imensa.
Dando continuidade ao diálogo, não se separa o Raimundo do Diácono e Missionário. Mas para chegar aonde chegou, passou por outros conhecimentos de outras religiões: “Tive várias experiências no contexto da Fé, andei uns tempo por igreja protestante, evangélica, depois fui ser espírita, fui kardecista muito tempo, andei fundando centro espírita...”, relata Raimundinho. Mas como aconteceu sua mudança? Só depois de dez anos de casado, foi convidado a participar do ECC (Encontro de Casais com Cristo), ai volta para o tronco de onde veio à família, Igreja Católica.
Diante dos relatos de Raimundinho faço uma analogia da sua vida, a conversão de São Paulo e Santo Agostinho. Pois ele diz que sua juventude foi um pouco conturbada, sem segmentos religiosos e bebia além da conta, mas encontra seu caminho de volta. Quando fala da juventude ele diz que assumiu a profissão de professor (ensinou nos cursinho e no Colégio Padre Viana) a disciplina de matemática comercial. Pergunto então sua formação acadêmica e ele diz que não era formado em pedagógico. Então digo que ele é autodidata. Ele sorrir, novamente. E o que é interessante é que Raimundinho diz que toda sua vivência de juventude foi ao lado de Gorete, sua esposa, tudo que viveu foi com ela ao lado. Como professor ele preparou uma pequena turma para o concurso do Banco, porém todos os que passaram e ele não, pois não ligou para estudar.
Depois destes experimentos de vida, foi trabalhar no Bradesco, porém fora transferido para Fortaleza. Quando deixou o Banco Bradesco, foi gerente no Banorte na cidade do Crato por dois anos, mas o banco veio a fechar devido aos planos do Governo José Sarney. Quando saiu do Banco Banorte, recebeu uma proposta de trabalhar nas Casas Pernambucanas por intermédio do Gerente que era seu amigo. O amigo então consegue que Raimundinho seja inspetor da loja na cidade de Altamira no Pará. Mas Raimundo não aceitou o emprego e resolve vir embora para Brejo Santo. Seu amigo intervém perguntando-lhe o que ele viria fazer em Brejo Santo. Raimundinho responde: “Vou botar uma banca de banana, o povo do Brejo bota uma banca de banana e vive tudo bem”. E assim veio embora, fica um tempo sem trabalho, lembrou que sabia cobrir sofá, mas resolve dedicar-se a profissão de marcenaria, é uma herança da família, todos da família gostam da arte, está na veia: “Por outro lado me sinto feliz, não me arrependo de nada, só louvo e agradeço a Deus, por que posso dizer que a minha vida é abençoada, como pobre, mas abençoada”.
Raimundinho começa a falar sobre sua vida religiosa: “Tive esta grande graça de ter sido convidado a fazer o ECC, na época do ECC eu era espirita, eu fui pra lá pensando que ia desmantelar as palestras, que podia interferir fazer umas perguntas... mas não deu tempo e aos poucos Deus foi desmanchando, desmanchando e aí eu volto pra Igreja Católica”. Trabalhou vizinho a antiga serralharia do Monsenhor Dermival, porém sua relação com o padre era apenas profissional.
Como então nasceu o homem e religioso? Da relação de trabalho com o Monsenhor? Em parte foi, porém Raimundo reflete e diz que: “já estava dentro, só fez florar”. Que filosofia! Ele diz que toda vida católica veio do berço. Estas são as primeiras lições que devem ser dados pelos pais. Assim começa a ser conhecido por todos nós da cidade: Raimundo Cabral. “Assim florou” como ele mesmo diz que de Ministro da Eucaristia, passa a ser Diácono Permanente a convite do Monsenhor Dermival. Fez o curso em de seis anos, todos os finais de semana na Diocese do Crato, se fosse preciso repetiria tudo, pois em tudo há um crescimento espiritual: “Não mereço nada é tudo misericórdia de Deus, os problemas as provações da vida existe, mas a gente vai vencendo, a gente que tem fé nesse Deus vivo, verdadeiro, ressuscitado, presente, no nosso meio, a gente tem em quem se segurar”.
Quem é Raimundinho no Alto da Bela Vista? “Eu sou um irmão, doido pra ajudar esse povo no que eu posso, eu só acho ruim porque eu sou pouco demais” Evangeliza em todas as localidades, desde Ceará ao Pernambuco, enfim cidades do interior. Um dos fatos marcantes na vida de Raimundinho foi o Programa Sal e Luz na Rádio Sul Cearense, pois como ele pertencia ao grupo da Renovação Carismática Católica, este programa era uma corrente de cura e libertação, aos domingos ao meio dia. O programa de inicio tinha hora e meia de programação e depois já estava com mais de duas horas, pois era ao vivo e as pessoas enviavam mensagens e umas 200 cartas eram recebidas por programa. A audiência era tanta, que se pensou em fazer em um auditório. Faz uma analogia entre o Programa de Padre Manzote. Houve de fato milagres e Raimundinho destacou o Senhor de um sitio chamado Amarrador, em uma cidade depois de Salgueiro, o mesmo tinha feito uma promessa, pois o sonho dele era cavar uma cacimba no terreno e não tinha conseguido e que já tinha escrito para o Presidente da República 4 vezes e nunca tinha recebido reposta. Então ele mandou uma carta para o presidente e a cópia para o Raimundinho, pelo programa dizendo que tinha certeza se a carta fosse lida e pedisse a Deus conseguiria. Pois, bem o senhor recebeu uma resposta do gabinete do Presidente e conseguiu cavar sua cacimba. A fé era tamanha do Senhor que na simplicidade o senhor disse que a cacimba não importava, mas sim a resposta da carta. Outro milagre foi de uma menina que retirou um espinho de carrapicho do olho orientado por uma senhora que participava do programa ao vivo.
“Não era Raimundo Cabral, era um grupo” que fazia o programa acontecer, pois segundo ele, o que precisamos é de fé, não podemos deixar a graça passar, ela existe, o que falta em nós é a experiência da graça em nós, não é devoção de um santo ou de outro, é experimentar a graça, tudo que acontece em nossa vida é por misericórdia. Mas é preciso fazer a experiência, a graça da oração está em cada um de nós. A experiência de fé vem de sua mãe dona Zilda (Catequista), pois esta uma vez pediu por Bete, irmã de Raimundinho, que se encontrava doente e foi curada, então, para ele a mãe é a melhor intercessora de oração entre Deus e os filhos.
Raimundinho este missionário faz uma bela catequese para todos nós sobre a ressurreição, como é bom se debruçar em palavras tão ricas de Deus: “Qualquer um que pedir a Jesus Cristo e fizer a experiência desta graça ela acontece, não é coisa de outro mundo é a coisa mais fácil do que a gente imagina o problema é falta de fé... é um momento propicio o que nós estamos vivendo, o momento da ressurreição de Jesus, vivemos este mistério pascal de Cristo, vivemos hoje, este Cristo ressuscitado entre nós, se a gente não sentir essa presença dele em nós, de nada serve tudo o que se celebra na semana Santa, é um teatro? Nosso problema de católico é que a gente vive uma grande verdade, como um padre disse uma vez, como se fosse uma mentira... mas com nossas fraquezas e pecados, vamos caindo e se levantando”.
Percebi que Raimundinho não se sente um profeta, mas é sim! Com sabedoria ele proclama Isaias o qual ensina sobre a profecia da construção de Israel e reconstrução, pois nas profecias de Isaias sente-se a vida de Jesus Cristo expressa por ele. Assim, conhecedor da Palavra de Deus, Raimundo vai debulhando os capítulos e versículos.
Não se separa o cidadão Raimundinho, do diácono e da família, é uma missão de triplicidade, pois o Diácono vive a serviço, ou seja, o primeiro grau do Sacramento da Ordem, diferente do sacerdócio: “O Padre tem o rosto de Cristo sacerdote e o diácono o rosto Cristo de servo, daquele que serve”.
Vive hoje Raimundo Tarcísio Cabral, casado com Gorete Cruz Sampaio Cabral, filho de e casal Zilda Gonçalves e Pedro Alves Cabral, seus filhos Bruno, Camila e Rebeca e o neto Levi, seus irmãos Bete, Vanda, Corrinha, Salete, Zilca, Demonteir, Moisés e Itamar. Raimundinho retrata que pesar dos percalços da vida, vive feliz. Apesar da felicidade em família existe uma batalha espiritual, pois segundo ele, não somos só carne, existe um espírito e este não enxergamos, podemos até perceber, existe algo que procura nos destruir e tirar desta caminhada de fé, por isso quem mais reza mais tentado é, pois o demônio quer nos devorar, mas ele não tem mais força, pois na cruz Cristo venceu o demônio e o pecado e na ressurreição ele venceu a morte. Para vencer a morte Jesus desce a Mansão dos Mortos, Cristo ressurge Glorioso. Raimundinho conclui: “A coisa mais bonita e que enche meu coração é quando São Paulo diz: se Cristo, morreu e não ressuscitou e se nós não ressuscitarmos com ele em vão é a nossa é fé..., tem um cristo maior que tudo isso, Cristo só dá às grandes batalhas a quem pode carregar, não podemos desistir, vamos vencer, se estivermos com Cristo. O dinheiro não é tudo na vida. São Paulo diz que aprendeu a ser feliz de barriga cheia e de barriga vazia, na alegria e na tristeza, na dor e no sofrimento e ele diz isso quando havia levando 40 chibatadas, e estava preso quando escreveu tudo isso. E São Paulo Completa: digo-vos alegrai-vos no Senhor, Amém!”
Fiquemos com estas palavras de ânimo e coragem neste período Pascal. Agradeço a Raimundinho por tão belas palavras e ensinamentos.