segunda-feira, 2 de abril de 2018

COLUNA DO DAVID JR. - “CRIANÇA NÃO NAMORA”



“CRIANÇA NÃO NAMORA”

            Essa foi uma das frases mais lidas nas redes sociais nos últimos dias. A campanha surgida no Amazonas em abril de 2017 tem voltado a ser pauta de debates na internet, e motivo de questionamentos para pais, mães, professores, psicólogos e interessados pelo assunto.
            “Criança não namora, nem de brincadeira!” foi criada pela Secretaria de Assistência Social do Amazonas e se espalhou pelo restante do país durante o ano passando. A intenção é alertar a sociedade para o cuidado com a erotização infância, que relevância se deve dar a conversas de crianças sobre o assunto, e quais os efeitos da antecipação à infância de processos que geralmente surgem no desenvolver da adolescência. 
            É comum vermos adultos estimularem muitos dos seus comportamentos em crianças, desde a maneira de vestir, falar, maquiar, dançar até “paquerar” com colegas da turma da escola, o que faz com que crianças se expressem como adultos, adiando ou não vivendo a infância – fase da vida de fundamental importância e cuidado para o desenvolvimento psíquico da criança, durante a adolescência e a vida adulta também.
            O adulto não deve ser orientado a reprimir as expressões de afetividade e carinho, mas também não podem transformar as brincadeiras de escola, relações de afinidade, amizade e respeito em “namoro”. Não é criar crianças que não mantenham relações de afeto, é apenas evitar que estas não sejam transformadas em situações não desejadas, nem necessárias nessa fase da vida. As crianças não precisam ser cópias de seus pais – elas são singulares, são únicas, e “há tempo para tudo” – é importante separar o que é do mundo adulto e o que é do mundo infantil.
            A erotização da infância é algo que vem crescendo junto ao mercado, que tem insistido em transformar as crianças em pequenos adultos, e os pais colaboram para isso, muitas vezes sem mesmo notar. É preciso deixar que crianças sejam crianças, e que a infância seja vivida da melhor forma, dentro das possibilidades de brincar, aprender e se relacionar com os outros.
P U B L I C I D A D E
            Outro fator que devemos levar em consideração é a facilidade de acesso das crianças a conteúdos de mídia, aparelhos celulares, TV’s e computadores – muitas vezes sem a supervisão de um adulto – assistem, navegam e escolhem os conteúdos que mais acham interessantes, nem por isso recomendados para suas idades, o que pode coloca-los diante de situações que as crianças não terão maturidade para lidar, além do estímulo e o surgimento de dúvidas que não deveriam aparecer durante a vida infantil – elas precisam de tempo e liberdade para compreenderem cada etapa da vida.
            Não é deixar que as crianças cresçam insensíveis, ou que não gostem de manifestação de afeto ou carinho, é permitir que elas se expressem sem a responsabilidade de pertencer ao outro em uma relação amorosa, que ultrapassa os limites da infância e daquilo que as crianças estão preparadas para ser e viver.
Uma ótima semana. Até a próxima!
David Junior – Psicólogo