“CRIANÇA NÃO NAMORA”
Essa foi
uma das frases mais lidas nas redes sociais nos últimos dias. A campanha
surgida no Amazonas em abril de 2017 tem voltado a ser pauta de debates na
internet, e motivo de questionamentos para pais, mães, professores, psicólogos
e interessados pelo assunto.
“Criança não namora, nem de brincadeira!”
foi criada pela Secretaria de Assistência Social do Amazonas e se espalhou pelo
restante do país durante o ano passando. A intenção é alertar a sociedade para
o cuidado com a erotização infância, que relevância se deve dar a conversas de
crianças sobre o assunto, e quais os efeitos da antecipação à infância de
processos que geralmente surgem no desenvolver da adolescência.
É comum
vermos adultos estimularem muitos dos seus comportamentos em crianças, desde a
maneira de vestir, falar, maquiar, dançar até “paquerar” com colegas da turma
da escola, o que faz com que crianças se expressem como adultos, adiando ou não
vivendo a infância – fase da vida de fundamental importância e cuidado para o
desenvolvimento psíquico da criança, durante a adolescência e a vida adulta
também.
O adulto
não deve ser orientado a reprimir as expressões de afetividade e carinho, mas
também não podem transformar as brincadeiras de escola, relações de afinidade,
amizade e respeito em “namoro”. Não é criar crianças que não mantenham relações
de afeto, é apenas evitar que estas não sejam transformadas em situações não
desejadas, nem necessárias nessa fase da vida. As crianças não precisam ser
cópias de seus pais – elas são singulares, são únicas, e “há tempo para tudo” –
é importante separar o que é do mundo adulto e o que é do mundo infantil.
A
erotização da infância é algo que vem crescendo junto ao mercado, que tem
insistido em transformar as crianças em pequenos adultos, e os pais colaboram
para isso, muitas vezes sem mesmo notar. É preciso deixar que crianças sejam
crianças, e que a infância seja vivida da melhor forma, dentro das possibilidades
de brincar, aprender e se relacionar com os outros.
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Outro
fator que devemos levar em consideração é a facilidade de acesso das crianças a
conteúdos de mídia, aparelhos celulares, TV’s e computadores – muitas vezes sem
a supervisão de um adulto – assistem, navegam e escolhem os conteúdos que mais
acham interessantes, nem por isso recomendados para suas idades, o que pode
coloca-los diante de situações que as crianças não terão maturidade para lidar,
além do estímulo e o surgimento de dúvidas que não deveriam aparecer durante a
vida infantil – elas precisam de tempo e liberdade para compreenderem cada
etapa da vida.
Não é
deixar que as crianças cresçam insensíveis, ou que não gostem de manifestação
de afeto ou carinho, é permitir que elas se expressem sem a responsabilidade de
pertencer ao outro em uma relação amorosa, que ultrapassa os limites da
infância e daquilo que as crianças estão preparadas para ser e viver.
Uma ótima semana. Até a próxima!
David Junior – Psicólogo

