O Iluminismo e a Primazia da Razão: Análise de uma Pintura Iluminista
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de seu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
Conforme a ideia do filósofo Emmanuel Kant, podemos compreender um pouco o que foi o Iluminismo. De maneira simples, o Iluminismo foi o movimento intelectual que questionava as bases do Antigo Regime (Absolutismo, Mercantilismo e sociedade de ordens) e apresentava novas formas de compreender o mundo no campo político, científico, filosófico e artístico.
Vamos, então, analisar uma pintura que representa uma experiência científica presenciada por diversas das pessoas que demonstram diferentes atitudes.
Figura 1: Uma experiência em um pássaro na bomba de ar do pintor Joseph Wright of Derby, 1768.
A PINTURA APRESENTADA E NUMERADA EM NOVE DESCRIÇÕES. (DETALHAMENTO DA OBRA EM PARTES )
PELEGRINI, Marco César. Vontade de saber. História, 8 ano. 2 ed. – São Paulo, FTD, 2012. PÁG.52
Figura 2.
A pintura (FIGURA 1) acima apresenta uma reunião de pessoas para tratar sobre questões de natureza científica. O contraste entre o claro e o escuro e a imagem da lua cheia escondida entre o céu e a lua (canto superior médio à direita) deixam evidente que o episódio ocorre em um ambiente noturno.
No centro da experiência (e quase ao centro da tela) temos o cientista James Ferguson rodeado de expectadores envoltos na cena que observam atentamente os vários experimentos relativos à pressão do ar.
A obra faz referência aos membros da Sociedade Lunar, com sede em Bir-mingham, na Inglaterra, que reunia diversos cientistas numa congregação de debates calorosos acerca das questões científicas e dos avanços por elas geradas.
A lua cheia é uma homenagem direta do pintor Joseph Wright of Derby aos membros dessa sociedade que se reuniam todas as segundas-feiras da lua cheia a qual lhes garantia certa claridade para realizar os experimentos, além da facilidade para os participantes de retornar para casa, após as atividades.
Como elementos descritivos da pintura e conforme enumerado na figura 2, TEMOS AS SEGUINTES DESCRIÇÕES:
DETALHE 1 E 2. : Detalhes de James Ferguson, do balão contendo o pássaro.
DESCRIÇÕES 1 e 2. O cientista Ferguson está no centro da pintura, demonstrando sua experiência (também no centro) que consiste na manipulação de uma bomba de vácuo que se articula com um recipiente de vidro onde se encontra um pássaro, uma cacatua que ensaia suas últimas resfolegadas. O cientista é quem controla a entrada e a saída do ar para o balão onde a ave está. A intenção de Ferguson era demonstrar que se a válvula colocada no ápice do recipiente fosse fechada, impediria a entrada de ar e dessa forma o animal morreria. Dessa forma, o experimento procurava demonstrar a mecânica e a importância fisiológica do ar.
DETALHE 3
A
bomba é feita de madeira composta por dois pistões metálicos e um braço que se
articula com uma alavanca que aciona o bombeamento de ar através dos pistões.
Uma mangueira envolve a mão do cientista e é responsável pela conexão entre a
coluna com a bomba geradora do vácuo.
DETALHE 4
DESCRIÇÃO 3. É também do centro da tela que aparece a fonte
de iluminação para todos os participantes e também para toda a tela: uma vela.
Ela está escondida atrás do vaso que contém um líquido estranho. A vela (luz)
sugere a primazia da razão e do progresso sobre a escuridão, típica do
Iluminismo, cujo símbolo maior residia. A luz orienta o observador para todos
os pontos da cena.
DETALHE 5
DESCRIÇÃO 4. O casal se olha com o tom de namoro, parece
alheio à experiência, pois estão com os sentidos e os sentimentos bem distantes
do que acontece. Trata-se de uma crítica as pessoas avessas às ideias e
discussões tão em voga no século XVIII.

DETALHE 6
DESCRIÇÃO 5. Aqui temos um adulto e uma criança (provavelmente seu aprendiz que o acompanha) em situação oposta ao casal ao lado. Eles estão maravilhados e cativados com o experimento. Eles representam aquelas pessoas que viam com entusiasmos as ideias científicas e filosóficas da época. No detalhe 6 podemos notar o adulto com o relógio na mão observando atentamente e querendo marcar o tempo que o pássaro sobreviverá sem ar.
DESCRIÇÃO 5. Aqui temos um adulto e uma criança (provavelmente seu aprendiz que o acompanha) em situação oposta ao casal ao lado. Eles estão maravilhados e cativados com o experimento. Eles representam aquelas pessoas que viam com entusiasmos as ideias científicas e filosóficas da época. No detalhe 6 podemos notar o adulto com o relógio na mão observando atentamente e querendo marcar o tempo que o pássaro sobreviverá sem ar.
DETALHE 7
DESCRIÇÃO 6. Nessa parte observa-se duas
meninas ao lado de um adulto, provavelmente o pai das garotas (número 9) que
procura acalmá-las e/ou consolá-las ao
mesmo tempo em que ele as orienta sobre o experimento. Enquanto a que está em
pé se recusa a olhar para o acontecimento, pois a mesma está apavorada, a outra,
sentada, olha para o evento com desconfiança, atônita sobre o que ocorrerá com
o pássaro. Esse drama das meninas em que medo e desconfiança se entrelaçam gerando
consternação entre ambas diante da iminente morte do pássaro (basta ver a mão de
uma sobre o pescoço enquanto a outra segura firme na cintura da que está em
pé). Derby quis demonstrar a situação de temor das pessoas, à época, diante das
novas descobertas científicas instrumentalizadas pela racionalidade iluminista.
DETALHE 8
DESCRIÇÃO 7. Para representar
as pessoas que se preocupavam com as consequências das descobertas científicas,
o artista retratou um filósofo, que tem o olhar distante, reflexivo, representa
um filósofo cujo olhar está distante da experiência realizada, mas não seu
pensamento que está envolto de uma atitude reflexiva diante dos novos saberes
produzidos pela ciência.
DESCRIÇÃO 8 - Aqui temos um menino que segura uma gaiola onde estava a ave. Ele está muito próximo da janela e assim como o cientista olham para o observador do quadro que nos convida para uma reflexão: A cacatua deve ou não sobreviver ao experimento? A gaiola deve retornar ou não ao seu devido lugar onde estava com a ave? É ético ou não a ação desenvolvida em nome da ciência?
DETALHE 10
DESCRIÇÃO 9
9. O chefe da família é representado como alguém que tem confiança na ciência, e procura acalma e esclarecer suas filhas, explicando-lhes os procedimentos da experiência.
DESCRIÇÃO 9
9. O chefe da família é representado como alguém que tem confiança na ciência, e procura acalma e esclarecer suas filhas, explicando-lhes os procedimentos da experiência.
Agora olhe direito para a tela: por que esse vazio na mesa (VER A SETA) e por que o olhar do cientista e do garoto com a gaiola aponta na mesma direção : a resposta é simples. É você que está observando o quadro, pois há uma interação direta com que a olha.
DETALHE 9
Observe o detalhe na mão do cientista. O público é chamado a participar se ele deve ou não acionar o mecanismo da bomba. O destino da ave está nas mãos de quem olha. Para saber o que vai acontecer com o ar, ou seja, para atender as propriedades do ar, na prática, a ave deverá morrer. A escolha é sua.
Observe o detalhe na mão do cientista. O público é chamado a participar se ele deve ou não acionar o mecanismo da bomba. O destino da ave está nas mãos de quem olha. Para saber o que vai acontecer com o ar, ou seja, para atender as propriedades do ar, na prática, a ave deverá morrer. A escolha é sua.
Para finalizar, observe esse comentário
Quase todos os personagens se encontram envolvidos com a cena de vida e morte pairando no ar. A vastidão de sentimentos revelados vai desde o pavor da menina, passando pela atitude de reflexão de um filósofo, da indiferença do menino que manipula a gaiola, do intenso interesse do jovem à esquerda até a completa ausência do casal de enamorados.
FONTES CONSULTADAS
PELEGRINI, Marco César. Vontade de saber. História, 8 ano. 2 ed. – São Paulo, FTD, 2012.
http://www1.fisica.org.br/fne/phocadownload/Vol15-Num2/fine-low.pdf
file:///C:/Users/comtec/Desktop/a06-low.pdf
http://webeduc.mec.gov.br/portaldoprofessor/quimica/sbq/QNEsc31_3/06-HQ-0808.pdf
http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/vienpec/CR2/p412.pdf
Manoel Mosilânio Malaquias da Cruz (Pixote Cruz)
Historiador (URCA), Pedagogo (URCA), Graduado em Mídias da Educação (MEC) Especialista em Mídias da Educação(UFC), em Educação e Direitos Humanos (UFC); em Análise Transacional (Academia do Futuro) e em Metodologia do ensino Superior (UNICAP). Pesquisador sobre Música Brasileira e Tutor do Projeto Professor Aprendiz da SEDUC- FUNCAP na área de Ciências Humanas. Professor de Graduação e Pós- Graduação da Faculdade FACEN. Professor da Rede Privada e Pública Estadual de Brejo Santo-Ce, e do Curso Sapiento. (Salgueiro – Pe)
Especialista e Consultor Educacionais das Matrizes Curriculares e dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da prova do ENEM