CASA DE TAIPA
Numa casa de taipa eu escrevi
Os rascunhos da minha mocidade
Dentro dela recordo que aprendi
Os princípios de ter honestidade
As primeiras lições da minha vida
E os sinônimos da tal felicidade.
De manhã eu tomava um cafezinho
As 10 horas o almoço concluído
12 horas o mel de rapadura
Com cuscuz para nós era servido
E na janta o baião era sagrado
Bem quentinho por nós era engolido.
Era parte da minha obrigação
Moer milho cedinho pra o cuscuz
Lavar trem em bacia no oitão
Muitas vezes pra mãe eu me propus
E de noite a família só dormia
Sob as graças e bênçãos de Jesus.
Peguei água no jegue de ancoreta
Na pequena cacimba que pai tinha
Limpei milho e feijão todos os dias
Chupei manga, goiaba, comi pinha
E o tempero da janta todo dia
Era língua de vaca torradinha.
Foram tantas histórias que não dá
Pra listá-las com muita precisão
Fiz aqui o registro de algumas
Dos arquivos da imaginação
Mas se fosse contar sem faltar nada
Minha história era um livro do sertão.
Marcos Gomes de Sousa
Poeta, Radialista e Administrador.
Um incansável defensor da cultura popular.
Filho de Brejo Santo – CE, nascido no Sítio
Cachoeirinha – Distrito do Poço do Pau - Brejo Santo - CE.
Cantoria de viola é sua festa preferida.