sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Valdeci Noca (in memorian)


No dia 23 de fevereiro de 2018, a coluna da historiadora Fátima Alves foi sobre Dona Valdeci Noca, que faleceu nesta sexta-feira (18). Em sua homenagem, estamos republicando o texto.


 O arco-íris da alegria: Valdeci Noca!



Mais uma história cotidiana! Desta vez, trata-se de uma mulher que vive alegremente, esbanjando sua vaidade feminina, e que aos 88 anos de idade consegue extrair risos nas suas conversas irreverentes.

Neste dia 21 de fevereiro de 2018, o arco íris da alegria, desponta na Rua do Juá, faço analogia ao arco-íris, pois, foi o que transmitiu Dona Valdeci Noca!

Entrevistar Dona Valdeci é um privilegio, momento impar. Começo a conversar e pergunto-lhe: Qual seu nome? E a resposta vem de forma enfática: “Maria Valdeci Noca”. Seguro o celular e digo que tudo será filmado e gravado. Ela sorri e diz que precisa estar arrumada. E que estou brincando e solta um sorriso largo de felicidade. Outra vez pergunto-lhe: “como foi sua juventude”? Que expressividade: “Ave Maria! Foi uma MARAVILHA. Nós brincávamos de roda, a noite todinha, quase todo dia! Fui criada por meus avós.” Reporta-se ao passado e saudosa relata que não conhecera sua mãe. Emocionada revela: “É um desgosto que tenho na minha vida”. Ela expressa as características físicas de sua mãe com orgulho: “Dizem que era loura e bonita, morava na cidade de Porteiras”. Ela diz que tinha uma irmã também loura e bonita e que esta ficara em Porteiras e ela veio morar em Brejo Santo. 

Que manhã de risos e expressividade de vida! Dona Valdeci, partilha seus 88 anos bem vividos. O arco íris da beleza e da alegria vai colorindo sua história, recordando fatos, como a convivência com seus avós, a qual externa uma profunda gratidão. Morou por muitos anos com eles. Demonstra ser decidida desde cedo. Ao chegar a Brejo Santo aluga uma casa a Dona Maria das Pedrinhas e começa a sua história de vida na cidade. Conta que seu pai era viúvo e o qual tinha orgulho de suas filhas e as chamava de princesa. 

Surge a jovem Valdeci, que decide estudar em Barbalha. Logo, logo faz amizades e as convida para almoços e festas em sua casa.  Assim vai desfilando na memória os vestidos bonitos que usava. Expressa que sabia se arrumar e sempre soube se arrumar, desde pequena.  Fica clara sua vaidade de acordo com a moda da época.

Ao retornar a Brejo Santo, começa suas aventuras. O que mais me chamou a atenção foi sua resposta com relação ao Carnaval. Durante a conversa pergunto se ela fora musa do carnaval de Brejo Santo: “Já lhe disseram isso”? Solta literalmente uma gargalhada demorada: “Eu que enfrentava tudo”.  Inclusive a mesma, pediu a seu pai uma máquina de costura para confeccionar as fantasias dos blocos carnavalescos e dos bailes que acontecia no clube. Esta máquina viera no lombo de um cavalo. O carnaval de Brejo Santo era animado, pois era de rua. Durante a noite era no clube, em Chico Inácio. Encantada e atenta aso detalhes desta história fantástica e desta mulher amante da arte e da música reportam com detalhe sua fala sobre os bailes carnavalescos: “Ficava uma pessoa na porta prestando atenção quando eu chegava aí os “sem vergonha” diziam, lá vem, lá vem, casa de Noca primeiro, quem enfrentou casa do Noca foi ela”. Dona Valdeci canta alegremente o que os rapazes e as moças entoavam na porta do clube: “Vamos a casa de Noca que lá é bom, e tem tudo que quer, vamos a casa de Noca pra ver que tá assim de mulher, se você quiser viver feliz e a tristeza esquecer é bom ir a casa de Noca pra todo mundo dançar até o sol raiar. Lá.láia”. Que voz! Meu Deus! Parece que está no baile, animada e festiva. Reportei-me ao passado junto com Dona Valdeci. Segundo ela, esta folia ia a noite toda. Não evita em dizer que muitas vezes ia escondida, mas ia. Assim, Dona Valdeci descreve um pouco de Brejo Santo, no seu cotidiano, principalmente sobre os bailes de carnaval e o carnaval de rua. O bom mesmo, segundo ela, era a quarta feira. Todos cantavam faltando cinco minutos para quarta feira de cinza: “Eita quarta feira ingrata, chegou tão depressa pra contrariar”. Saiam do baile cantando pelas ruas da cidade o dia clareando, fantasiados para igreja receber cinzas. 

Os enfeites da vida de Dona Valdeci ainda hoje permanecem em sua vida, na sua memória. Pergunto-lhe se sempre foi assim. Ela retruca que sempre teve alegria de viver, mas que também teve momentos de tristeza faz parte da vida.  Enfim, depois de tantas aventuras conhece o amor de sua vida: José Landim Macedo. Ama suas duas filhas: Ana Cássia e Ana Claudia. Para tratar do seu amor ela canta e declama: “Veja como minha voz é bonita: Quem parte também fica chorando, com o coração penando adeus grande amor da minha vida, tu foste aquela que fere, que morreu, aquela que canta, aquela que voa, aquela que definha a beira da lagoa sou eu não precisa dizer o nome que tu sabes quem és”.

Conclui sua história que guarda muitas recordações e solta risos novamente.  Encantou-me seu sorriso e os seus olhos que pareciam saltitar de tanto brilho ao relatar fatos de sua vida quando disse que tudo seria publicado. Mas espantada e feliz declama como uma marchinha carnavalesca: “Não acredito que sou famosa, você vai publicar a casa de Noca”. Solta uma gargalhada recheada de vida!


Maria de Fátima Alves Moreira – Professora e Historiadora https://mariadefatimaweb.wordpress.com/