quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

COLUNA DA JACQUELINE - Existem Santos!

Existem Santos!


Estes últimos dias estive buscando seriamente ser melhor.  Refletindo sobre o meu fazer, o meu falar, o meu agir e o meu sentir.  Tentando extrair de tudo e todos o que de melhor eles possam me oferecer. Focando no lado positivo dos acontecimentos  e das pessoas. Brincando do Jogo do contente. Uma forma que encontrei de deixar mais leve a vida.
Nos poucos momentos que sobram do meu dia um tanto  agitado,  destinei a refletir sobre tantas coisas boas que Deus nos favorece a cada dia. Ontem  ao deitar lembrei-me de uma pessoa  muito especial na minha vida e da minha família : Padre Léo Tarcisio, nosso querido Padre Léo.
Conheci  Padre Leo  bem no inicio de sua missão evangelizadora, através da  Renovação Católica Carismática. Brejo Santo  era um verdadeiro  celeiro  de evangelização.
Padre Léo era de uma santidade sem tamanho e tivemos a graça de por muitas vezes que ele estava na região estarmos juntos, partilhando e comungando o pão e a palavra.
A primeira vez que esteve em Brejo  Santo, Tereza Nogueira, nossa querida Dra Tereza, nos incumbiu eu e Mendes , meu esposo, para pegá-lo no aeroporto  de Juazeiro do Norte e  nos deu a sublime tarefa de cuidar do seu deslocamento. Assim deu-se inicio a uma verdadeira  e abençoada amizade.
Sempre que Padre Léo vinha ao Brejo era uma alegria. A expectativa da espera, o saber que por suas  palavras muitas pessoas seriam curadas em nome de Jesus, era decididamente um tempo de graça. Padre Léo nos deu a graça de conhecer muitos sacerdotes, dentre eles Padre Joãozinho e  Padre Fábio ( ainda diácono).
Além da fé na palavra,  a missão de educar também  fortaleceu os vínculos  da amizade. Padre Léo era um exímio educador. Nesta época dirigia uma escola em Brusque, Santa Catarina  e sempre partilhava de suas experiências através da afetividade. Ele nos narrava com detalhes  a sua missão de educador  e dizia que a escola tinha a forma de um abraço. Eu ficava a imaginar aquela escola que abraçava a todos, literalmente.
Lembro-me de alguns fatos que acompanham  a memória do meu coração. Padre Léo chamava Mendes de Chico Mendes. Ele dizia que gostou de Mendes já pelo nome. Que era o mesmo sobrenome do de seu pai: Joaquim Mendes.
Quando estava no Brejo  gostava de levá-lo a casa de Josélia, minha irmã e ficávamos a família reunida  embaixo de um pé de seriguela  ouvindo os  “causos”  de Padre Léo, como todo bom mineiro.  Vez por outra reclamava de Padre Fernando, seu companheiro de  missão, que procurava água para lavar uma seriguela caída no chão, e ele dizia: Fernando o que mata o homem não é o que entra pela boca, mas o que sai. E a risada era geral.
Padre Léo, achava lindo o hábito que tínhamos, de pedir a benção ao nosso pai e mãe. E  sempre olhava para meu pais na sua humildade de servo de Deus e pedia a benção.
Uma das últimas vezes que esteve em Brejo Santo pedi a Tereza que requisitasse outro casal para pegá-lo pois o nosso carro estava com problemas. Era um monza  bem usado. Ele logo retrucou a Tereza que fossemos assim mesmo. Obedecemos felizes. Fomos até a chácara de Dona Dulce, uma senhora do Crato amiga de Padre Léo. Ficava próximo ao Clube Serrano , na Chapada do Araripe. O carro quase não sobe a serra. Foi engraçado demais. Até que enfim chegamos a chácara de Dona Dulce.  Ela nos ofereceu um café e no finalzinho da tarde voltamos para o Brejo.  Na descida da serra o carro caiu  numa vala. Meu coração quase sai. Descemos do carro e quando Padre Leo viu nossa aflição, deu um daqueles sorrisos que só ele sabia dar e disse: não vós preocupeis! Olhou  e ao longe viu alguns homens  capinando um roçado e gritou: homens de Deus ajudem aqui aos servos de Deus! Os homens imediatamente vieram em nossa direção  e tiraram o carro da vala. Seguimos viagem e como de costume ele começou a cantar. E parava e pedia para que eu prosseguisse. E assim tudo tornou-se mais leve. Quem é de Deus é assim!
A  última vinda de Padre Léo ao Brejo foi marcante . Parecia mesmo uma despedida . Na vinda do aeroporto  aproveitei e pedi: Padre Leo gostaria tanto de me confessar com o  senhor.  Ele respondeu: porquê? Sou diferente dos outros padres?  Veja bem se eu lhe confessar vou ter que confessar todos que estarão no seminário e isto é impossível.  Mas tenha fé que todos os sacerdotes tem o mesmo poder em Deus. Ele era assim , um homem justo. Aquela lição ficou gravada no meu coração.
Depois da pregação do sábado ele não estava se sentindo bem. Com náuseas.  Dei a sugestão para irmos ao hospital, ele não aceitou. Pedi a amiga Wergila para ligar para Dr.  Welilvan e ver se ele poderia lhe atender em sua casa. Welilvan de pronto o atendeu, passou alguns medicamentos e pediu para que quando chegasse em São Paulo procurasse um médico.
Este foi nosso último encontro.  Ao deixá-lo no aeroporto  ainda lembro do seu abraço e dele dizendo entre risos : cuide de Chico Mendes! Chico Mendes esta mulher está engordando demais! Só para ver minha reação!!!
Nos comunicamos por algum tempo via email.  O último email que trocamos foi aproximadamente uns dois  meses  antes da sua partida. Sempre o acompanhava pela  tv canção nova e sua última palestra  já me fez compreender que a partida estava próxima.
Realmente o câncer é uma doença estarrecedora. Do Padre Leo que conhecera só restava o brilho no olhar e nada mais.
Naquela noite choramos em família. A sensação era de uma  dor imensurável.
Alguns dias depois recebemos a noticia de sua partida  e sofremos o luto pois o amávamos.
Hoje a saudade persiste, mas a certeza de termos tido a graça de conviver com um homem santo nos  faz aumentar nossa fé em Deus e nos homens.
No coração frases que ele gostava de repetir:
- Quem ama nunca está longe! Como posso estar longe de quem está dentro de mim?
- Não seja melhor que os outros, seja melhor PARA OS OUTROS.
Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga