quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

COLUNA DA JACQUELINE - A menina da piscina


A menina da piscina 


Nestes últimos dias do ano, tive a oportunidade de vivenciar um pouco do ser avó.  Sem  pressa!  Como dizem os mais jovens, curtindo!
Como toda criança Levi adora água. Praia , piscina, não importa. O que vale mesmo é estar em contato com a preciosa água.
Decidi ser sua companhia  no prazer diário de tomar banho de piscina. O desejo dele de fato era aprender a nadar.
No segundo dia,  ele já demonstrava uma habilidade que me parece ser inerente as crianças: saber nadar!
Enquanto me deliciava vendo Levi dando os primeiros mergulhos  uma jovem aproximou-se e pediu entusiasmada para ajudar Levi no seu intento: nadar! Imediatamente Levi achou a companheira ideal para suas travessuras . Da beira da piscina observava as palavras de incentivo que ele dizia a Levi com entusiasmo: Você consegue! Não tenha medo estou perto de você! Força!
Aproximou-se e perguntou meu nome !  Respondi: Jacqueline. Sorrimos com as peraltices de Levi e nos despedimos com um até logo.
Após dois dias, voltamos a piscina no mesmo horário. Lá estava a nova amiga a acenar com um sorriso que só os jovens tem. Abraçou  Levi e perguntou se ele lembrava dela. Ele respondeu com uma aceno de cabeça que sim!  E assim continuaram a aula de natação.
Estava sentada na borda da piscina quando Levi resolveu sair um pouco da água. Ela se aproximou e disse:  gostei muito da senhora. Sabe aquele outro dia que nos encontramos estava meio surtada. A senhora não notou que estava conversando demais? Olhei – a tentando não demonstrar espanto e disse que não. Dez minutos foram o bastante para que ela me resumisse toda sua vida: filha de pais separados, a mãe morava em Minas Gerais com a parceira, o pai morava no Rio de Janeiro com o parceiro e ela estava ali com o irmão mais velho que também tinha um parceiro. Muito nova (imagino que nova mesmo!), enveredou pelo mundo das drogas e com a ajuda do irmão estava saindo de uma depressão. Estava cursando química. E finalizou : os remédios vez por outra me deixam confusa.  Mas vou ficar bem, não vou?
Fiquei um tanto atônita com aquela história que parecia surreal. E a pergunta  final me deixou  desconcertada. Ela segurou no meu braço e deu um beijo.
Olhei para aquela menina, tão jovem, com uma história tão cruel que senti um desejo enorme de colocá-la no colo e dizer está tudo bem.  Segurei nas suas mãos e beijei-as. O que consegui dizer? Você é linda e vai sair dessa. Creia.
Fomos interrompidas com  um chamado. Acredito que era seu irmão. Levantou depressa , pegou sua toalha, me beijou e disse : amei a senhora.
Dei um aceno e soltei um beijinho. Não pude conter as lágrimas que teimavam em escorrer pela face.  Fui interrompida com um que foi vovó? Está chorando?
Mas que depressa me recompus e abracei e beijei meu neto, acreditando firmemente em um futuro melhor para nossa amiga.
Desde aquele dia, rezo todos os dias pela amiga da piscina. Peço a Deus que envie seus anjos para conduzi-la pelos caminhos do bem e livrá-la de todo mal.
Lembrei-me de um trecho de Jean-Christophe. Romain Rolland descreve a primeira experiência com a amizade ... Já conhecera muitas pessoas na sua vida. Mas o que experimentava naquele momento era diferente de tudo o que já sentira antes. O encontro acontecera de repente, mas era como se já tivessem sido amigos a vida inteira. A experiência da amizade parece ter suas raízes fora do tempo, na eternidade. Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre.
Por uma humanidade melhor !
Jacqueline Braga