quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

COLUNA DA JACQUELINE - Tarde te amei

Tarde te amei
 
 Iniciamos um novo ano e fiquei a refletir de como precisamos de marcos e ritos para dar sentido a vida.
Meu réveillon foi vivenciado de uma maneira bem singular. Depois de brincar com o neto, assistir um pouco a tv, ver algumas postagens no face, interagir com amigos e familiares no whatsapp   e partilhar de uma ceia nem um pouco tradicional, hot dog, no bom português, cachorro quente, saliento que estava uma delicia. Minha mãe dizia: a fome é o melhor tempero! Depois da partilha, decidi assistir a missa on line como toda boa cristã.
Assisti a missa da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus pelo facebook, e enquanto assistia uma saudade  daqueles que já se foram e dos que não estavam perto invadiu meu coração.
Ao final da missa o sacerdote expôs o Santíssimo Sacramento e durante o canto de louvor pude perceber o quanto temos a louvar, a bendizer, a glorificar, apesar dos pesares.
Exatamente meia noite comecei a assistir de longe o céu cortado por luzes e cores. Realmente um lindo espetáculo. E ali mesmo de pé, comecei a fazer uma oração de agradecimento por tudo e por todos.
Uma alegria contagiava o ar apesar de um pouco de melancolia que teimava em fazer morada no meu coração. Ouvia ao longe os gritos de feliz ano novo  e o espocar dos espumantes.
Tudo era festa. Comecei a  sentir-me completa em mim mesma.  Pude sentir as vibrações e as boas energias trazidas pela própria atmosfera de um termino de ciclo e o recomeço de outro.
Drummond disse em um dos seus poemas: Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano  se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.
E é assim mesmo. Nesse instante lembrei-me de uma oração de Santo Agostinho que  vez por outra me pego recitando. E olhando tudo em minha volta e sentindo-me plena em Deus repeti: Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!
Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga