sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Vilma a professora que encanta com seus saberes e dedicação.

Vilma a professora que encanta com seus saberes e dedicação.





Mais uma vez meu coração fica radiante de alegria, em homenagear a professora Cícera Vilma Rodrigues Bezerra. Vilma é filha do casal Miguel Furtado Bezerra e Maria Laurentino Rodrigues, conhecida como Dona Lica. Seu pai era sapateiro artesanal, vindo do estado de Pernambuco. Sua mãe era natural da cidade de Porteiras. Vilma conta que seu pai ao passear em Porteiras conheceu Dona Lica e se apaixonou, depois retornou e daí então, casaram, ele com 22 anos de idade e ela com 19 anos e do enlace matrimonial tiveram oito filhos:  Francisco Laurentino Bezerra, Luís Laurentino Bezerra, Francisca Laurentino Bezerra, Maria Dilma Laurentino Bezerra, Maria Zilma Laurentino Bezerra (in memoriam), Wilson Laurentino Bezerra, Dinámerica Laurentino Bezerra (in memoriam) e Cícera Vilma Rodrigues Bezerra. O Sr. Miguel, pai de Vilma foi sócio do pai de Arnou Pinheiro e de Chico de Ioiô, no ano de 1943. Os sócios entravam com a matéria prima e ele com o artesanato, foi um dos pioneiros na arte de sapataria em Brejo Santo. Mas no ano de 1962, o pai de Vilma é acometido da enfermidade tuberculose e na época não existia o tratamento adequado, como a penicilina, e não resiste ao tratamento realizado na cidade de Fortaleza. 
  

Dona Lica prossegue sua vida, e dedica-se integralmente a cuidar dos filhos e na época coloca um cafezinho onde vendia lanches matinais, na localidade próxima a Usina COLINS, prédio cedido com a ajuda de Maria Feijó, e ficou por cinco anos. No local, Dona Lica vendia caldo e outras comidas caseiras de sabor inigualável.  No ano de 1969, Sr. Emilio Salviano oferece a Dona Lica um box, no então mercado da cidade, onde alojavam-se os frigoríficos, para que ela pudesse continuar com seu cafezinho e sempre contou com a ajuda das filhas. E assim fez dona Lica, e as pessoas aproveitavam o momento de comprar a carne para saborear as deliciosas comidas e o famoso caldo de Dona Lica. Dona Lica ficou no estabelecimento por 32 anos e só deixou o local para fazer o tratamento da hemodiálise por 12 anos. No primeiro momento a família residia na rua da Igreja, segundo Vilma em casa muito antiga, mas depois de uma enchente no ano de 1972, a família decide se mudar para uma casa perto do mercado e Dona Lica compra um terreno e constrói uma casa, ainda de propriedade de Vilma, a qual é alugada e Vilma, divide o aluguel com todos os irmãos. Vilma tem sua mãe como referência na maneira de luta. O sentido maior de Dona Lica era o trabalho, a qual não reclamava, acordava 4 h da manhã e fazia o caldo e tudo sem reclamar. Vilma revela que todos os filhos, rezavam para comer ou dormir, sempre juntos na oração.


 
Vilma desenvolve sua vida profissional na docência aos 16 anos de idade, porém aos 12 já ajudava os colegas de sala nas atividades e por esse oficio cobrava alguma taxa e muitos eram do sitio e trazia frango ou feijão como forma de pagamento, mas Vilma sempre foi apaixonada por Língua Portuguesa, não desenvolveu muito a matemática. Foram seus Professores Francialdo, e dona Maria Brasil, ensinava toda sexta a disciplina de redação no Padre Viana e dizia: “isso é que escrever bem isso é que é uma letra bonita”. Vilma revela que estudou na escola José Matias Sampaio desde a alfabetização, até a 4ª série, sua professora foi Carmelita, saiu quase alfabetizada, pois, sua mãe era fazendo a comida e a cartilha do ABC em cima da mesa, suja de massa de bolo, ou gordura. Mas sempre cobrando a lição. O livro era o Nordeste, era da primeira série tinha todas as disciplinas, não era volumoso, servia pra o ano todo e saia preparada. Fez admissão e as Professoras Maroquinha e Bela foi quem a orientou para o exame de admissão e foram 2 meses de preparação, um livro volumoso, e quem corrigia era a própria direção da escola Professor Macedo e Sr. José Teles. No teste de admissão, Vilma 9.5.  Concluiu com 15 anos a 8ª série e com 16 anos adentrou na pedagógico. Depois foi convidada por Sr. José Teles de Carvalho para ensinar no Cine Paroquial, do então proprietária Monsenhor Dermival, em um projeto desenvolvido pelo Professor José Teles, para atingir pessoas que não frequentaram a escola na idade certa, adultos, pessoas que haviam abandonado a escola, ela como era jovem a chamavam de menina. Ensinava durante o dia e estudava à noite. Vilma quando concluiu o pedagógico, já ficou ensinando no Padre Viana. Em 1982, César Siqueira trouxe um contrato e ofereceu a Vilma. Foi destinada a ensinar na escola Padre Pedro e a Diretora era Bernadete. Quando chegou foi oferecida as disciplinas de Inglês, física e química. Seria um desafio, e de pronto aceitou, depois procurou seu professor Francialdo e este orientou que estudasse. E assim ela fez. Se dedicou de corpo e alma. A primeira turma da 8ª série ela foi madrinha, recorda de Dr. Ednardo, filho de Sr. Raimundo um dos seus alunos. No ano de  1990 ampliou a carga horária. Depois da experiência saiu para alfabetizar por 6 anos e depois nas  séries terminais, na área de língua. Vilma cursou Pedagogia na URCA e no ano 1997 concluiu. No ano de 1996 foi para o colégio Estadual e no ano 2000 foi para o Liceu. Depois participou da Gestão na Escola Balbina e foi coordenadora pedagógica, junto com Aneide e Ritinha Pinheiro. Depois ficou na biblioteca com os projetos pedagógicos, inclusive o projeto de xadrez, reciclagem de lixo, entre outros. Foram colegas, professores contemporâneos: Pretinha, Lucia Ambrósio, Mazinha, Venusia, Dona Marilene, Lúcia Leite, Maria Cabral, Baquinha, Maria de Jaime, Marineusa Santana, e na última gestão da Escola Padre Pedro, Tancredo era o Diretor e Mazinha, a vice. Venusia também foi da gestão da escola Padre Pedro, uma excelente pessoa. 

A formação profissional de Vilma segue a seguinte linha de acontecimentos: Escola Padre Pedro 1985 e 1990, Educandário 1990, Formação de professores leigos do município... 1999, Formadora da capacitação de professores leigos em Fortaleza-CE, Aulas presenciais de professores leigos. Em 2009, Vilma se aposentou e se dedica a vida pessoal e ao artesanato, sempre fazia convites de eventos por que sua caligrafia é invejável. Diz que perdeu para o computador. Então no momento faço a pergunta como ela vê Brejo Santo nos dias atuais e revela que Brejo Santo “Mudou muita coisa na educação, quando eu ensinei no Padre Pedro nós tínhamos uma classe muito heterogênea, padre Pedro era referência, sempre recebia cartas de elogios doa alunos que iam para outras cidades. Era uma época em que não existia bullying, havia o respeito”. Atualmente encontra com alunos e eles a recepcionam muito bem seja onde for, inclusive até com abraços de gratidão. Foram 32 anos de sala de aula, sem contar com o trabalho da gestão, sempre se sentia bem, havia respeito entre os alunos, alunos obedientes e carinhosos e ainda hoje a tratam como tia. Foi professora do Educandário Aurélio Buarque, umas das professoras fundadoras e lecionou na primeira série e suas contemporâneas: Nilza, Ângela de Marcilio, Shirley e Fátima de Zé Francisco, Mirtes era a secretária. Nestes 4 anos em que Vilma lecionou no Educandário, eu atuava como Coordenadora Pedagógica e Josélia Braga a Diretora.  
Atualmente Vilma é casada com Francisco Pinheiro Araújo, conhecido como Franco Pinheiro, o qual também tem uma referência histórica na cidade, pois, começou a ser marchante com 12 anos de idade atuou 45 anos no açougue e tem 6 filhos do primeiro casamento. Comprou terrenos e atualmente, vive de vender e comprar gados e pastos. Vilma se dedica a arte e em sua residência possui um ateliê muito bem preparado. 
 
Gratidão a esta professora maravilhosa que de forma impar que contribuiu com a educação da nossa cidade e consequentemente com a nossa história cotidiana. Gratidão ainda aos pais de Vilma e a toda sua família, em especial a Dona Lica que deixa um legado de honra no seio familiar para as futuras gerações de Brejo Santo.