domingo, 31 de março de 2019

Política - O presidente que brinca de fabricar crises

Em sua coluna no O POVO, o jornalista Gualter George escreve sobre as seguidas crises provocadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Leia:

"É na sua falta de compreensão sobre o peso institucional do papel que exerce desde 1º de janeiro de 2019 que, ao meu ver, encontra-se o maior dos problemas que Jair Bolsonaro tem representado para o País no exercício do seu legítimo mandato de presidente da República. A forma como ele trouxe ao debate os sentimentos que envolvem a emblemática data de hoje, com sua carga histórica, reforçam o equívoco da pouca atenção que ele dá ao fato novo de suas palavras, agora, terem um peso de quem fala para todos, inclusive na comunidade internacional, e não apenas para quem o admira ou gosta de seu estilo.
A infeliz ideia de sugerir que o 31 de Março fosse "comemorado" pelas Forças Armadas nos quartéis, termo depois consertado para "rememorado", resulta, exatamente, da resistência de Bolsonaro em sair de sua condição de candidato e, de vez, assumir a de presidente da República. O cargo lhe impõe a responsabilidade, hoje, de trabalhar pela pacificação da sociedade, objetivo que pode buscar mantendo suas convicções políticas, religiosas, ideológicas e o que seja mais, desde que não as coloque à frente do esforço de liderar o País. Repito, para todos os seus cidadãos.
Bolsonaro não tem mais o direito de agir como fazia quando candidato ou parlamentar, embora já naqueles tempos merecesse reprimendas institucionais que nunca aconteceram por suas atitudes pouco responsáveis. Lembre-se que na mesma data do ano passado, o então parlamentar foi às ruas soltar fogos e comemorar o evento histórico, ao qual se ligam mortes, desaparecimentos, torturas e uma dor que nunca cessou para milhares de famílias brasileiras que merecem ser respeitadas. No caso, pelo menos com o silêncio. Tais atitudes deveriam ter determinado algum tipo de constrangimento ou freio, na época, embora o fato de ter-se mantido incólume até hoje não o autoriza, diante da elevada e exemplar missão que passou a cumprir diante do País, a permanecer com o mesmo comportamento inconsequente.
Para além do aspecto jurídico ou político, é do interesse nacional que falamos, agora que o deputado buscou nas urnas, e conseguiu, o direito de se transformar no político número um do Brasil. O debate saiu das nossas fronteiras e ganhou o mundo, com manifestos críticos de intelectuais de peso global, artigos publicados em jornais de vários países (inclusive os Estados Unidos que o presidente e seus próximos tanto admiram), posicionamento até de instâncias com o peso simbólico da ONU, enfim, criando-se um quadro de forte pressão e de mais dúvidas quanto ao vigor da nossa atacada democracia. E, claro, com efeitos inevitáveis sobre o ambiente propício a negócios e a investimentos do estrangeiro que o novo governo tanto se esforça em dizer que está construindo.
É improvável que o Brasil se transforme no paraíso para investidores que Bolsonaro e equipe projetam se o próprio líder maior mantiver intocada sua capacidade de gerar problemas contínuos e de criar crises que até podem nascer políticas, mas que certamente espraiam seus efeitos desestabilizadores sobre todos os setores da vida nacional, inclusive a economia. Talvez seja o caso de recomendar ao presidente que olhe o comportamento do seu vice, General Mourão, que, se no passado demonstrou-se capaz de dizer muitas bobagens semelhantes acerca da ditadura militar e de suas justificativas causais, neste 2019, melhor ciente da consequência que suas palavras passaram a ter, evitou opiniões. O País, em busca de dias mais calmos, agradece.

AO LADO DO OUTRO
Chama atenção a coincidência nas agendas dos presidentes da Câmara de Fortaleza, Antonio Henrique, e da Assembleia Legislativa, José Sarto, que têm aparecido juntos com grande frequência em eventos públicos. Aliados e muito próximos já se sabia que eram, pois um (Henrique) é do grupo do outro (Sarto), mas é que tem sido uma coisa muito flagrante a dobradinha. Dá, diante disso, para não pensar em política e em 2020? Impossível.
PARCEIROS E ALIADOS
Embora sobrem negativas formais dos dois lados, o encontro na semana entre o governador Camilo Santana (PT) e o prefeito Roberto Cláudio (PDT) para acertar um reforço na parceria administrativa também guardou objetivos político-eleitorais. Mesmo que no subconsciente. No médio prazo, servirá ao fortalecimento político de ambos para apadrinhamento de um nome comum para a próxima sucessão de Fortaleza. A opção, que ainda não há hoje, precisa ser construída.
NOME E SOBRENOME
Quem cruza com o deputado Júlio César Filho nos corredores da Assembleia Legislativa e experimenta cumprimentá-lo com aquele tratamento diminutivo de antes corre o risco de não ser correspondido. Ele decidiu aposentar o "Julinho" com o qual foi identificado ao longo de seus dois primeiros mandatos e, agora, pede aos jornalistas para ser nominado da forma como aparece no começo da nota. Respeite-se.
O BOM HUMOR DE TASSO
Elogiada a curta e certeira participação do senador cearense Tasso Jereissati, do PSDB, na passagem do ministro Paulo Guedes, da Economia, pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Muito boa a cobrança de explicações sobre a ideia de que o governo FHC era cheio de esquerdistas, parecendo impagável o trecho, cheio de ironia, no qual destacou Gustavo Franco (ultraliberal que presidiu o Banco Central na era tucana) como "comunista perigosíssimo".
A MÃO DO SENADOR
O senador Luis Eduardo Girão fecha o seu controle no Ceará sobre o Podemos, ao qual está filiado desde fevereiro. São indicações dele os novos presidentes dos diretórios estadual, Fernando Torres, e municipal de Fortaleza, Plauto de Lima, este último de sua equipe de assessores. Fica o registro crítico quanto a uma mudança rápida de filiação (ele foi eleito pelo Pros ano passado) para quem chega à política dizendo que quer transformá-la.
O GENERAL GOSTOU
Vale prestar atenção no tamanho que terá a festa amanhã na Câmara de Vereadores para entrega do título de Cidadão Fortalezense ao General Teophilo, hoje secretário Nacional da Segurança Pública. Para muitos da turma mais próxima, há um sentimento claro de que a campanha ao governo em 2018 pelo PSDB, apesar da derrota, plantou nele o gérmen da política e tem-se como difícil que não volte a testar as urnas mais adiante. Não necessariamente já na próxima eleição."
*Da Coluna do Gualter George, do O Povo