VIDA VICÁRIA - COMPARTILHAR O ÓDIO NAS REDES SOCIAIS
No Brasil vivemos tempos difíceis, e não há como negar. E esse discurso tem sido contagiante - "as coisas não estão boas" - principalmente no campo político, que se estende à economia, e atinge a vida das pessoas.
Há quem tire proveito de tudo, inclusive de situações que já estão difíceis, quem se alimentam da ideia do "quanto pior melhor", nutrindo a si e aos outros de desesperança, ódio e incredulidade.
Há quem consiga manipular as pessoas, há quem aproveite as fragilidades humanas para oferecer "produtos" de realidade deturpada, e por estarem "necessitadas" de qualquer resposta imediata acabam comprando "soluções" que a curto prazo são danosas.
Compartilhar o ódio nas redes sociais tem sido uma prática constante nos últimos anos, tem sido o palco para se dizer o que quer, sem se preocupar em mostrar o que de fato é. Basta dizer, há quem concorde, há quem aplauda cegamente, há quem deposite credibilidade.
Lendo sobre, deparo-me com uma reflexão do historiador Leandro Karnal, um dos maiores e reconhecidos intelectuais da atualidade, que diz:
Existe uma palavra de origem latina que gosto de usar: vicário. Significa “o que faz as vezes de outro” ou “o que substitui outra coisa ou pessoa”. Podemos usar a ideia de "vida vicária": a vida dependente de outro. São as pessoas que passam o dia na internet atacando tudo e todos, querendo um lugar ao sol, querendo fama e, desesperados,metralhando para todo lado. Vivem do ódio e do ressentimento. Não analisam ou discutem, apenas desqualificam e atacam. São pessoas de vida vicária. Alimentam-se da luz alheia e, no fundo são fãs de vetor trocado. Nada edificam, apenas apedrejam. Envelhecem amargos e solitários, independente da idade. Dependem do texto alheio para orientar o seu. Mendigam atenção dia e noite e mostram-se vicários, dependentes, subalternos e não protagonistas.
Vida vicária, é esse o termo que define o comportamento de quem usa ódio e a desesperança nas redes sociais, que criam ofensas pessoais, conflitos, que alimenta o desrespeito entre os iguais.
Fiquemos atentos para não cairmos em qualquer conversa sensacionalista compartilhada nas redes, que alimentam em nós a perspectiva da crítica negativa, e oculta o apontamento de possibilidades.
Pense nisso. Uma ótima semana. Até a próxima.
David Junior
Psicólogo e Professor de Filosofia