quarta-feira, 29 de maio de 2019

COLUNA DO PROFESSOR PIXOTE - Questões inéditas comentadas, enem 2019

Questões inéditas comentadas, enem 2019


Bom dia. Vamos resolver questões inéditas modelo Enem.  Logo abaixo da questão tem o   gabarito, os comentários explicativos e as Competências e Habilidades exigidas.
Bons estudos e um grande abraço.

QUESTÃO 01. Leia o texto e o associe às transformações socioeconômicas  nos reinos europeus durante a Baixa Idade Média. Outra indicação da expansão demográfica do Ocidente cristão está no acentuado crescimento da população urbana naquele período. Enquanto por volta do ano 1 000 talvez não existisse na Europa católica nenhuma cidade com uma população de 10 000 habitantes [...], no século XIII havia 55 cidades com um número de habitantes superior àquele: duas na Inglaterra, seis na Península Ibérica, oito na Alemanha, 18 na França e Países Baixos, 21 na Itália [...]. Esta última era não apenas a região mais urbanizada do Ocidente como também a que possuía as maiores cidades. Ainda que as cifras sejam sempre discutíveis, sem haver consenso entre os especialistas, Milão, Florença, Veneza e Gênova devem ter ultrapassado os 100 000 habitantes. No restante da Europa Ocidental, apenas Paris parece ter alcançado tal população.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média, nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 23.
Na Baixa Idade Média, o processo descrito pelo autor foi provocado:

(A) pelo crescimento demográfico associado à intensificação das relações comerciais.
(B) pela migração da população rural para os centros urbanos, em razão da apropriação das terras comunais por parte da nobreza feudal.
(C) pela migração da população rural para os centros urbanos em razão das temerosas invasões bárbaras.
(D) pela validação doutrinária da Igreja Católica das práticas econômicas da nascente burguesia.
(E) pelo impulso demográfico, responsável pela migração de contingentes europeus para as terras situadas além do Atlântico, como forma de aumentar a produção e circulação de riquezas.
 
Gabarito: Alternativa A
Comentários: O crescimento demográfico europeu, entre os séculos XI e XIII, foi responsável por um conjunto de significativas alterações na estrutura feudal dos reinos medievais. Para além da liberação de parte da mão de obra no campo, que passa a se dedicar a ofícios artesanais ou simplesmente à circulação de mercadorias, o estabelecimento desses novos grupos em centros urbanos – reativando antigos centros romanos ou surgindo em torno de abadias e fortalezas, ou ainda no entrecruzamento de rotas comerciais e locais onde se celebravam as feiras medievais – foi intensificado pelo movimento cruzadista, responsável pela  reativação do comércio entre o Oriente e o Ocidente.
Competência ENEM: 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
Habilidade ENEM: 18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

QUESTÃO 02. (C3H11) Leia este trecho da obra de Shakespeare sobre Ricardo II, governante da Inglaterra.
Que vassalo pode julgar seu rei? E das pessoas aqui presentes, quem não é vassalo de Ricardo? [...] E ora o emblema da própria majestade de Deus, seu capitão, representante por ele eleito, ungido e coroado há tanto tempo e sobre o trono posto, vai ser julgado sem presente achar-se, por um sopro inferior e dependente? Deus não permita que em país cristão almas de tal quilate a fazer venham ação tão imoral, odiosa e negra.
SHAKESPEARE, W. Obras completas de Shakespeare. Rio de Janeiro: Melhoramentos/ Edições de Ouro, 1966. p. 121.
O trecho lido pode ser associado a qual forma de governo?

(A) República Puritana.      (B) Monarquia Constitucionalista.
(C) Monarquia Feudal.          (D) Monarquia Absolutista.
(E) República Presidencialista.
 
GABARITO :Alternativa: D
A) Incorreta. O texto claramente faz referência à monarquia como forma de governo, enquanto a experiência republicana inglesa ocorreu após a Revolução Puritana, durante o século XVII, e foi o primeiro movimento inglês de superação da forma de governo monárquica absolutista.
B) Incorreta. A monarquia constitucionalista caracteriza-se pela criação de limites legais ao exercício do poder do rei, geralmente ligados a direitos considerados naturais e inalienáveis, os quais devem ser respeitados e protegidos pela autoridade monárquica. Desse modo, o rei pode ser questionado em relação às suas ações, o que contraria a descrição da autoridade régia no trecho da obra literária.
C) Incorreta. Embora o reinado de Ricardo II tenha ocorrido na segunda metade do século XIV e a monarquia absolutista inglesa tenha se concretizado apenas durante as dinastias Tudor e Stuart, a descrição da autoridade real, feita por Shakespeare, aproxima-se mais da monarquia absolutista do que da monarquia feudal, pois, nesta, o poder do rei praticamente restringia-se ao comando militar, sendo seu poder político-administrativo partilhado entre ele e seus iguais, os senhores feudais nobres e eclesiásticos. Dessa forma, o rei encontrava limites ao exercício de seu poder, muitas vezes, expressados em assembleias ou conselhos dos quais faziam parte as mais eminentes autoridades do reino com o fim de prestar conselho ao rei, geralmente, em relação aos impostos criados e à quebra da moeda.
D) Correta. Embora o reinado de Ricardo II tenha sido anterior às dinastias ligadas ao absolutismo inglês, a descrição feita por Shakespeare é de um rei absolutista. Além disso, o autor argumenta que a autoridade real é escolhida por Deus, impedindo, assim, qualquer crítica dos vassalos ao exercício do poder.
E) Incorreta. O rei é a autoridade referendada no trecho literário transcrito, de modo que a República presidencialista não se constitui na forma de governo em questão, pois seu líder, geralmente escolhido pelo voto, pode exercer seu cargo por um tempo determinado.

Competência de área 3: Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
Habilidade 11: Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.

QUESTÃO 03. (C3H15)Leia o documento e analise a relação entre a metrópole inglesa e a colônia americana. 

A chave para compreender o atrito surgido entre a metrópole e as colônias está no fato de que enquanto a metrópole julgava que as colônias existiam para ela, estas julgavam que existiam para si mesmas. Sir Francis Bernard, governador real de Massachusetts, deixou bem clara a noção da relação entre metrópole e colônias: “Os dois grandes objetivos da Grã-Bretanha em relação ao comércio americano devem ser: 1) obrigar seus  súditos americanos a comprar apenas na Grã-Bretanha todas as manufaturas e mercadorias europeias que ela lhes puder fornecer; 2) regular o comércio exterior dos americanos de tal forma que os lucros dele oriundos se centralizem finalmente na Grã-Bretanha, ou sejam aplicados à melhoria de seu próprio império”. Citado por Charles e Mary Beard, The Rise of American Civilization, The Ma-cmillan Company, N. York, 1933, vol. I, p. 115. IN: HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 14. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. p. 140. 

Segundo o autor, qual o motivo do atrito entre a metró¬pole e a colônia?

(A) A chave do atrito está no julgamento errado da colônia, que entende que existe para si, ao passo que a metrópole estabelece uma série de regras e normas objetivando seu próprio enriquecimento.
(B) A colônia entende que existe uma relação econômica com a metrópole, de modo que busca o crescimento e o desenvolvimento da Inglaterra, especialmente servindo como mercado consumidor de seus produtos manufaturados.
(C) Para o autor, o atrito reside na falta de entendimento da função exercida pela colônia e pela metrópole, a primeira busca seu desenvolvimento, aceitando sua subordinação e as imposições da metrópole.
(D) A chave do atrito está no julgamento errado da metrópole, que entende que a colônia existe para si, ao passo que a colônia estabelece uma série de regras e normas objetivando auferir lucro da metrópole.
(E) A metrópole entende sua função de exploradora, as¬sim fornece produtos e manufaturas à colônia, incentivando o comércio desta com outros países, desde que o lucro sirva para o desenvolvimento colonial.
 
Gabarito: Alternativa A
Comentários:  O texto descreve, nas palavras do governador Massachusetts, as atribuições das colônias, que consiste no fato destas assumirem a função de enriquecimento da metrópole, subordinando-se às regras comerciais e às políticas exclusivistas estabelecidas pela Inglaterra. Entretanto, o mal entendimento por parte dos colonos, especialmente os colonos do Norte, que usufruíam de significativa liberdade comercial, foi responsável pelos atritos entre as duas, atritos estes intensificados pelo conjunto de medidas metropolitanas que objetivavam enrijecer o pacto colonial, conhecido como leis fiscais.
Competência ENEM: 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
Habilidade ENEM: 15 – Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

QUESTÃO O4. Leia o documento e identifique o conceito de Pacto Colonial.

O monopólio do comércio das colônias pela metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem sua função histórica, isto é, respondem aos estímulos que lhes deram origem, que formam sua razão de ser, enfim, que lhes dão sentido. E realmente, reservando a si com exclusividade a aquisição dos produtos coloniais, a burguesia mercantil metropolitana pode forçar a baixa dos seus preços até o mínimo a além do qual se tornaria antieconômica a produção; a revenda na metrópole ou alhures a preço de mercado, cria uma margem de lucros de monopólio apropriada pelos mercadores [...]. MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. 13. ed. São Paulo: Difel, 1982. p.51-2.
Como o autor define o sistema colonial? 

(A) A relação entre colônia e metrópole, definida pela burguesia mercantil metropolitana, permitia, por meio de um conjunto de leis mercantis, o crescimento do setor produtivo colonial em detrimento da metrópole.
(B) A existência do monopólio do comércio das colônias pela metrópole preenchia sua função histórica de fornecer produtos a baixo preço para suas colônias, permitindo seu desenvolvimento.
(C) O fato de a burguesia mercantil colonial forçar a baixa dos preços dos produtos metropolitanos possibilitava a margem de lucro necessária à manutenção do sistema colonial.
(D) O monopólio do comércio das colônias pela metrópole permitia às colônias responderem aos estímulos que lhe deram origem, ou seja, o monopólio comercial garantia o lucro que enriquecia os setores coloniais.
(E) A existência do monopólio do comércio das colônias pela metrópole garantia o enriquecimento da burguesia mercantil metropolitana que controlava a venda e o preço dos produtos coloniais, garantindo a margem de lucro aos mercadores.
 
Gabarito: Alternativa E
Comentários:  O documento contém uma definição clássica do sistema colonial, pois argumenta que o monopólio comercial, imposto pela metrópole às suas colônias, garantia à burguesia mercantil metropolitana o controle do mercado e dos preços nas relações comerciais entre as colônias e as metrópoles, gerando, como consequência, a margem de lucro necessária à manutenção dos mercadores e do próprio sistema colonial.
Competência ENEM: 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
Habilidade ENEM: 11 – Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.

QUESTÃO 05. Leia o documento e identifique a estrutura de produção na exploração metropolitana da América espanhola.
A destruição demográfica na América tornou-se, sem sombra de dúvida, fator de fundamental importância na recessão da atividade mineira desenvolvida no México, e no Peru após 1596 e que perdurou, no México, por cerca de 100 anos. A produção mineira decaiu constantemente e suas repercussões fizeram-se sentir nas grandes propriedades fundiárias, próximas ou distantes, que se haviam desenvolvido em tomo dos enclaves mineiros, voltadas para o fornecimento de milho e trigo, favas, forragem, mulas, burros e cavalos, carne de porco e carneiro, couro cru e tecidos de baixa qualidade. [...] STANLEY, J. S. E STEIN, B. A herança colonial na América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 32, 33, 36, 37, 38. IN: PINSKY, Jaime. [et al]. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 2004. p. 46. 

Da leitura do documento, é possível concluir que:

(A) a mineração ocupava a totalidade da produção colonial espanhola, já que era a riqueza mais expressiva encontrada no continente.
(B) o foco da exploração econômica espanhola na América foi a constituição de plantations voltadas ao abastecimento do mercado consumidor europeu.
(C) a exploração colonial espanhola buscou desenvolver a manufatura na América, com o objetivo de possibilitar o crescimento do mercado consumidor externo para produtos agrícolas de origem europeia.
(D) o estímulo à produção agrícola espanhola na América ocorreu, principalmente, em função da demanda por abastecimento das áreas mineradoras.
(E) o livre comércio colonial desenvolveu a produção mineradora espanhola na América, já que o metal era imprescindível para as trocas comerciais, pois era a base para a confecção do meio circulante. 

Gabarito: Alternativa D
Comentários:  O documento explora o incentivo à produção agrícola e o desenvolvimento da domesticação de animais como áreas econômicas destinadas ao abastecimento das áreas mineradoras. Fato este que explica, em grande parte, o diferente escopo das haciendas espanholas, quando comparadas às demais, estabelecidas em solo colonial, já que não visavam ao abastecimento do mercado consumidor europeu, salvo em algumas áreas, especialmente nas Antilhas, onde a produção seguia a lógica da economia complementar em relação à metrópole.
Competência ENEM: 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
Habilidade ENEM: 16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

QUESTÃO 06. (C3H11) Leia o documento e o associe à exploração da mão de obra na América espanhola. Nos anos 1575-1600, Potosí produziu talvez a metade de toda a prata hispano-americana. Tal profusão de prata não teria vindo à tona sem a concomitante abundância de mercúrio de Huancavelica, que naqueles mesmos anos estava também produzindo como nunca havia feito. Outro estimulante para Potosí foi claramente a mão-de-obra barata e abundante for-necida através da mita de Toledo. BETHEL, Leslie (Org.) História da América Latina. In: América Latina colonial. v. 2. São Paulo: Edusp, 1999. p. 141. IN: BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio: volume único. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2012. p. 242.

O documento enfatiza a exploração da mão de obra na mineração empreendida pelos espanhóis no continente americano como um dos fatores que a tornaram possível durante o período colonial. A modalidade de trabalho mencionada pelo autor refere-se:

(A) ao emprego de uma modalidade de trabalho compulsório, que consistia na prestação periódica e remunerada do trabalho indígena direcionado às minas de metais preciosos.
(B) à adoção da mão de obra livre assalariada como viabilizadora da empresa mineradora espanhola, já que estimulava a competição entre os colonizadores e intensificava a extração de minérios, o que era vantajoso para a metrópole.
(C) à obrigatoriedade por parte do indígena da prestação de serviço aos espanhóis em troca de proteção e da catequese.
(D) ao uso legal da mão de obra escrava na América espanhola, legitimado pela Igreja, que argumentava ser atividade necessária para a redenção dos nativos.
(E) ao emprego majoritário da mão de obra de origem africana nas jazidas de metais preciosos, o que gerava lucro ao colonizador, já que este não arcava com as despesas referentes à remuneração do trabalho 

Gabarito: Alternativa A
Comentários: A mita consistia na ressignificação de um tributo inca em forma de prestação de serviço obrigatória, periódica, remunerada e por tempo determinado, geradora de um excedente de produção que era utilizado pelo impera¬dor inca para o sustento de órfãos e viúvas, bem como no abastecimento da sociedade em momentos de crise econômica. Os espanhóis a utilizaram como uma forma de trabalho compulsório, também periódico, remunera¬do e por tempo determinado, porém sua concretização, em função dos baixos salários auferidos pelos indígenas, gerava servidão por dívidas, colocando-os em situação análoga à da escravidão.
Competência ENEM: 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
Habilidade ENEM: 11 – Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.