sexta-feira, 28 de junho de 2019

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Dr. Ronaldo Lucena Miranda


 Dr. Ronaldo Lucena Miranda 


“A saúde se completa quando se tem efetivado o tratamento”


Esta semana, ao relatar a nosso história cotidiana, faço referência com uma frase de Humberto Edson, retratada pela personalidade homenageada: “A história da humanidade é uma sucessão de avisos, onde toneladas de conhecimentos desaparecem”. Realmente, precisamos nos deter nos registros históricos, e o dia a dia é onde se passa esses avisos. Muito sábia a colocação de Dr. Ronaldo, o qual descreve sua história com riqueza de conhecimentos adquiridos ao longo da sua vivência, apesar de tão jovem.

Ronaldo Lucena Miranda nasceu em 1971, filho do estimado casal Valdomiro Alves de Miranda e Francisca Irene Lucena, tendo como irmã Ravanele Lucena Miranda. Casou-se no ano de 2011 com a Sra. Fernanda Henrique da Silva, com a qual tem dois filhos Francisco Tiago Lucena da Silva (sete anos de idade) e João Lucas Lucena da Silva (quatro anos de idade). Fernanda é Assistente Social.

A infância de Dr. Ronaldo, segundo ele foi comum a todos da sua época, final da década de 70 inicios dos anos 80. Foram momentos de muitas brincadeiras nas ruas, por não possuir uma quantidade maior de veículos automotor a circular pela cidade, haviam outras preocupações, poucos acidentes e resumindo-se a infância à Rua do Araújo. Com os amigos contemporâneos jogava bola na calçada e ainda mantém contato com alguns. Outras brincadeiras da época como uribusca também no meio da rua, bem como subir em árvores. Dr. Ronaldo abre um parêntese sobre as brincadeiras, elas eram realizadas depois de executar as atividades, a tarde, tinha o resto do dia pra brincar, principalmente a noite. Uma infância retratada por Dr. Ronaldo como cheia de companheirismo, apesar de que alguns colegas foram estudar em Fortaleza, como David de Dona Carmélia. “Uma infância bem divertida e aproveitada”, conclui Dr. Ronaldo. 

Dr. Ronaldo faz referência aos seus pais, pessoas as quais ele estima e que são influentes na nossa cidade e que merece nosso respeito, como exemplo de dignidade e integridade. Dr. Ronaldo diz que seu pai nasceu na zona rural, precisamente no sitio Simão, cidade de Porteiras. Sr. Valmir assim conhecido por todos nós, é filho de Jovino Alves (in memoriam) e de Rosa Laurentino, veio de uma sequência de quatro homens e duas mulheres. Sr. Vlamir teve uma vida rural e na época as coisas erma difíceis, o Sr. Jovino contratava uma professora para dar aula em domicílio. Sr. Valmir sempre teve uma personalidade de “hiperatividade” e de impulsividade, e enquanto seus irmãos sentavam para estudar, Sr. Valmir saia pela janela a fim de executar as atividades inerentes ao comércio. Era exímio negociador, saia com uma galinha e voltava com outro animal ou objeto. Dr. Ronaldo revela que seu pai relatou que se arrependeu por não ter estudado, apesar de ser alfabetizado funcional, como assinar o nome. Sobre Sr. Valmir Dr. Ronaldo relata um fato interessante de sua vocação para o comércio, que aos onze anos de idade ele veio de Porteiras, montado em um burro com uma carga de farinha para vender na feira de Brejo Santo. Certa vez, portanto, o saco de farinha caiu e como era pesado não podia colocar de volta, ficou esperando por mais de duas horas alguém passar e lhe ajudar a colocar de volta no animal o saco de farinha. Recorda-se no momento de uma conversa com a saudosa e amiga Lenira Macedo, em que esta disse que o que seu pai era uma artista. Dr. Ronaldo no momento não entendeu a colocação de Lenira, esta o explicou que por ele não ter embasamento teórico, se sobressaiu muito bem no comércio de Brejo Santo e por ter feito uma empresa que foi destaque, uma arte voltada para o comércio. 

Dr. Ronaldo ao relatar tal fato não havia pensado nesta colocação e que as palavras da amiga fazia sentido. Por motivos de saúde, atualmente, Sr. Valmir não executa mais a função de comerciante. Sr Valmir aceitou as duras penas se afastar do comércio, pois seu desejo era atingir a meta do Sr. Neco Matias, que atuou por 60 anos no comércio de Brejo Santo, mas contenta-se por ter chegado tão próximo. Sr. Valmir, segundo Dr. Ronaldo é referência na família e por vezes consultado por familiares, como Dr. Lucena que o procura para orientações em realizar alguma negociação. Dr. Ronaldo diz que o pai tem uma visão futurista, bem ampla com perspectiva de sucesso.

Sobre Dona Irene filha de João Ambrósio e Clotildes Leite Basilio, sua mãe, Dr. Ronaldo diz que ela cuidou dos irmãos, inclusive de Dedé, e ele a considera como mãe. Dr. Ronaldo revela que Dona Irene sacrificou os estudos para cuidar dos irmãos, ao contrário do esposo Valmir, ela procurou conciliar as tarefas ao estudo. Vendeu objetos e com a sabedoria que tinha recebido de sua madrinha, comprou os livros do Programa de Admissão, livros que Dr. Ronaldo os restaurou e os tem como relíquia. Segundo Dr. Ronaldo as irmãs tem Dona Irene como referência de aconselhamentos depois que Dona Clotildes (sua avó) faleceu, dentre elas estão Lúcia, Maria Ambrósio, Norbélia e Tildes quando em vida também a procurava. Dona Irene é intitulada de a sábia Irene. Pode-se dizer que Dona Irene sempre esteve além do tempo com sua determinação em estudar. Dr. Ronaldo assim retrata seus pais e que estes apesar de não terem um ensino institucional ou de escolarização, mas passaram uma formação educacional para ele e Ravanele sua irmã com solidez e exemplar, havia as “cobranças” em estudar, motivo pelo qual adquiriu o amor pelos estudos, papel fundamental na fase de adaptação na fase escolar.

A juventude de Dr. Ronaldo foi vivida parte em Brejo Santo, jovem caseiro, apegado ao núcleo familiar, ajudava o pai no comércio quando chegava da escola, no período da tarde, e aprendeu com o pai a lidar com o comércio. Dotado de amizades, e tinha a famosa voltinha na praça central da cidade. Por ser caseiro limitou-se a estudar fora, cursou o Técnico em contabilidade no colégio Padre Viana. No ano de 1989 estudou para concurso do Banco do Brasil em um cursinho, recorda que foi seu contemporâneo Wilson filho do saudoso Xavier. Os dois, segundo Dr. Ronaldo eram estudantes profissionais e o Prof. Lailton de Zé Leite (coordenador do cursinho) falava que eles iam passar se houvesse o concurso. O concurso infelizmente não houve e assim gerou uma certa cobrança em fazer algo e surgiu. Dr. Ronaldo diz que Isaac seu primo (atualmente neurologista) já estudava fora, assim como Nairton outro primo, filho da tia Anginha, e de certa forma houve essa “pressão” com orientação do tio Dedé a também seguir a carreira de estudante em Fortaleza. “Foi uma pressão boa”, diz Dr. Ronaldo, pois suscitou buscar outros horizontes, e para ele Dedé “com seu jeito paterno”, foi fundamental o incentivando na tomada de decisão de estudar fora. Dr. Ronaldo descreve as palavras de incentivo do tio: ‘Ronaldo você vá, seus primos estão indo, um já está lá, o outro está indo, forme uma república e estude que você vai conseguir”. Assim se concretizou no ano de 1990, depois de fazer o Técnico em Contabilidade e de ter feito o cursinho Dr. Ronaldo vai então cursar o Ensino Médio, na época o Cientifico, na cidade de Fortaleza com apenas 19 anos de idade, a  partir de então sua rotina foi modificada. No referido ano, foram momentos de desafios, enfrentou uma entrevista com uma psicóloga, por se encontrar fora de faixa para cursar o cientifico. No mesmo ano, seu avô João Ambrósio apresentou um problema de saúde e consequentemente pela gravidade do problema foi a óbito em Fortaleza. Dr. Ronaldo acompanhou os tios Dr. Lucena, Baquinha (Maria Ambrósio) e Tuta esposo de sua tia no traslado do corpo de Fortaleza a Brejo Santo. Mas um mês depois retornou a Fortaleza e concluiu o Ensino Médio. Após esse período Dr. Ronaldo começa a jornada de vestibular em várias Universidades do Nordeste, como na UFC, em Recife,  e por fim em Campina Grande no ano de 1992, com a classificação 54ª de 60 vagas para o curso de Medicina e colou grau no ano de 1998. Fez residência médica, morou em República de Estudantes, e faz uma analogia aos dias de hoje, na época não se tinha as redes sociais, esperava-se chegar o final de semana para fazer uma ligação pra casa do orelhão a cobrar e ouvir a voz dos pais. 

Ao perguntar quem é Dr. Ronaldo, assim ele responde: “Integrante da sociedade Brejossantense que optou por fazer pediatria embora meu primeiro exame de residência para cirurgia, mas não cursei, não era o que eu queria”. A experiência profissional de Dr. Ronaldo é vasta, relata que passou pelo IMIPE (Instituto Materno Infantil) de Pernambuco, momento em que se identificou com a Pediatria por ser uma Unidade de atendimento aos carentes e por uma máxima do professor Fernando Figueiredo que o marcou muito ao dizer que “Atendamos bem a criança pobre pois ela é o nosso professor”. Fez a residência em Pediatria em Campina Grande: “Tinha sempre em mente em voltar a exercer a minha profissão aqui no meu lugar”. Para justificar o pressuposto Dr. Ronaldo recorda-se da Disciplina de Psicologia Médica em que fora pedido que se fizesse uma narrativa de forma livre. Dr. Ronaldo personificou um animal que saia de uma floresta pequena onde morava e que ia para uma floresta maior e que aprendia muita coisa e voltava para ajudar o que aprendeu por lá. Ficou assim o aprendizado, sente que que fez exatamente  o que escreveu na narrativa. 

Dr. Ronaldo descreve experiências exitosas na sua vida profissional. Ao morar em Recife, teve uma vivência acadêmica e seu primeiro emprego foi na cidade de Caruaru implantando um PSF e fez com que se aproximasse a afinidade pela saúde pública. Outro fato que marcou Dr. Ronaldo e ter descoberto o verdadeiro sentido da medicina em Caruaru, foi que ao sair de férias e voltar para um bota fora com a equipe que trabalhava, as pessoas chegavam e perguntavam se ele era médico, pois, na localidade não tinha andado médico. Durante este trabalho foi feito um diagnóstico local e o cadastro dos pacientes, afim de prestar o melhor serviço. No dia do bota fora, uma colega de Dr. Ronaldo disse a ele que uma senhora, que era cadeirante, havia perguntado dias anteriores por ele. A senhora era da terceira idade, passou o mês inteiro na expectativa de vê-lo para se despedir. Lamentou e disse que que no mês seguinte viria a Juazeiro do Norte em uma Romaria e que passaria em Brejo Santo para passar em frente à casa de Dr. Ronaldo e vê-lo de braços cruzados na janela. Dr. Ronaldo disse que foi uma momento ímpar de gratidão por pessoas que tem tão pouco e esta expressão de sentimentos da sua vida, foi uma das melhores.

Ao chegar em Brejo Santo trabalhou no Programa Saúde da Familia. Atualmente é plantonista como médico Pediatra no Hospital Infantil Menino Jesus, médico Pediatra  de emergências, concursado do Hospital Estadual de Salgueiro Pernambuco, Trabalho na neonatologia do Hospital  Geral de Brejo Santo, possui um consultório particular onde atende pouco. Trabalha no AMAI, ambulatório do NASF com referência em Pediatria (Equipes Saúde da Familia), realiza vários trabalhos em educação relacionado a saúde como: Ações Básicas de Saúde, Aleitamento Materno, Violência contra a criança e as formas de combate, Tratando as doenças imunes, importância da vacinação. Dr. Ronaldo desenvolve ainda um trabalho voluntário em apoio ao trabalho social e ambiental. Enfatiza que precisa-se um apoio maior do Poder Público com relação as causas ambientais e sociais, destaca as pessoas de Glauber que realiza um trabalho em defesa e proteção aos animais, Tony da Pedra do Urubu, Luis de Vânia com o coral o canto do sabiá, enfim ajuda no que pode seja financeiramente ou com o apoio humano e social. Lembra que quando chegou em Brejo Santo foi voluntário da Pastoral do Menor e que sua amiga Sessi lhe deu apoio nas experiências exitosas com as crianças, inclusive uma feira de Ciências (Fisica) em que receberam alunos do Padre Viana e ficaram encantados com as experiências cientificas dos alunos da Pastoral do Menor em explicar sobre a força da gravidade.

No ano de 2007, junto com Emericiana, Dr. Ronaldo enfrentou o Projeto sobre aleitamento materno e Brejo Santo foi reconhecido pelo Ministério da Saúde, esse reconhecimento foi feito em Brasília com menção honrosa pelos índices e ações inovadores de apoio incentivo ao aleitamento materno o Prêmio Bibi Vogel (uma argentina que viveu no Brasil e incentivou muito a questão do aleitamento materno), Brejo Santo só ficou atrás da cidade de Itabuna da Bahia. Outro projeto foi prêmio de Fernando Filgueira para o Hospital Infantil por conta do desenvolvimento de Ações de humanização. O carro chefe foi o projeto intitulado Doutores do Sorriso que é um entretenimento das crianças sob internação hospitalar para diminuir o tempo de sofrimento, de internamento. Ainda hoje existe onde se vai vestidas a caráter,  e se brincam com as crianças. Na época foi uma menção honrosa. Outro projeto desenvolvido por Dona Geralda chamado Mãe e arte com amor, estimular as mães a realizarem uma atividade dentro do hospital, como passa tempo e terapêutico. Ficou  na história.

Dr. Ronaldo Gosta de seu trabalho, em sua casa possui um escritório com aspecto de Consultório adaptável ao atendimento, por que às vezes as pessoas não conseguem atendimento no Hospital, principalmente o pessoal carente, como os da Serra, ele os atende prontamente em sua residência. No local existe amostras grátis para os que assim precisam. “A saúde se completa quando se tem efetivado o tratamento, não adianta eu prescrever uma medicação e essa mãe não ter como usar a medicação e por algum motivo a criança permanecer doente. Saindo daqui ou do meu consultório, ou do Infantil, se não houver ajudado eu acho que a falha também foi minha. Não é só ter feito a minha parte, ela vai além da prescrição, além do diagnóstico”. 

Dr. Ronaldo mantém contato diário com seus pais, de visita diária por ser idosos, precisam de assistência, assim como ele sua irmã Ravanele também a faz. Dr. Ronaldo diz que sua esposa Fernanda mantém a mesma assistência com os pais dela e tudo isso despertou nos filhos uma atenção também voltada para os avós e avôs. As avós eles chamam de mãe Irene e mãe Coca que é dona Socorro a mãe de Fernanda. Dona Irene fica encantada por ser tratada carinhosamente pelo neto. Assim Dr. Ronaldo descreve esse exemplo de homem, profissional, pai, filho e esposo. 

Gratidão é a palavra que cabe no momento por me receber em sua residência, pela simpatia de sua esposa Fernanda que tão bem me acolheu. Obrigada Dr. Ronaldo por protagonizar tão bem sua história de vida embrenhada a história de nossa cidade e de outras pessoas. Fica meu respeito e admiração.