sexta-feira, 12 de julho de 2019

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Dona Anetília


Dona Anetília
 

Hoje é com imensa honra que venho homenagear Dona Anetília, professora e amiga de todos. Foi minha professora na 3ª e 4ª série na Escola Padre Pedro Inácio Ribeiro. Merece nosso carinho e dedicação por fazer parte de nossa história cotidiana.

Anetília Freire da Silva, nasceu na cidade de Anadia, estado de Alagoas e se criou em Arapiraca. Nasceu no dia 10 de 0utubro do ano de 1933, atualmente com 85 anos de idade. A infância de Dona Anetília foi na cidade de Arapiraca, ela descreve como normal para as meninas da época, brincava na rua com as outras crianças e estudava. Dona Anetília veio de uma prole de nove irmãos (cinco homens e quatro mulheres), sete sobrinhos que na maioria das vezes se instalavam na casa de seus pais, para brincar ou se hospedar, ela diz que ao todo eram 17 pessoas em uma casa. A casa de seus pais era grande, uma espécie de casarão. Seus pais já falecidos se chamavam Benjamim Freire de Amorim e Estelita Freire da Silva. Dona Anetília Viaja no tempo e diz “tudo tinha, bom e muito”. A profissão de seu pai era negociante com mercadorias, fosse algodão, milho, feijão com transporte até para outros estados, Ceará, Bahia e Pernambuco. 


Dona Anetília descreve sua juventude vivenciada na cidade de Arapiraca, cursou o Pedagógico. Achei interessante quando Dona Anetília descreveu o encontro com Sr. Amâncio Pedro da Silva (seu esposo, in memoriam). Ela diz que era noiva de outro homem, inclusive este era rico, possuía bens, dono de lojas. Certa vez ela foi até o mercado comprar carne a pedido de seu pai. Ao sair do mercado, ao levantar a cabeça ficou de frente com Sr. Amâncio, todo arrumado: “Calça de linho marrom, blusa amarela de mangas compridas dobradas, pano passado” e resolveu dar um bom dia ao moço. Dona Anetília usou da artimanha de esconder a aliança e cumprimentá-lo, e assim o fez deu bom dia e ele prontamente respondeu. Com oito dias depois ele foi até a casa da família e pedi-la em casamento. O faro acontecido do pedido, Dona Anetília então, guardou a aliança e colocou em um envelope, mandou entregar ao noivo. O noivo ficou furioso, mas seguiu adiante, relata que realmente foi amor à primeira vista de ambas as partes, e passaram dois anos noivos e depois casaram-se. Dona Anetília diz que Sr. Amâncio era um homem simples, vivia da roça de plantações de fumo e milho. A família o criticavam, por ele ser “matuto”, como morava no sitio vinha para cidade de bicicleta. Eles eram da mesma idade casaram-se com 23 anos de idade. Moraram em Arapiraca por dez anos, local onde nasceram seus filhos João Cicero Freire da Silva (in memoriam) e Jorge Celso Freire da Silva. 

 Faço a pergunta sobre a vinda do casal para Brejo Santo. Dona Anetília descreve que, na época, em Arapiraca as vendas estavam ruins, por que não chovia. E não tinha como vender o fumo que estava estocado em casa. O cunhado de Dona Anetília veio ao Juazeiro e convidou Sr. Amâncio para vender o fumo.  Sr. Amâncio colocou cerca de mil kg de fumo em cima de uma caminhão e veio até Juazeiro. Ao fazer o percurso até Juazeiro procurou uma cidade que ele pudesse se adaptar, parou em Brejo Santo, alugou a casa da avenida (hoje de sua propriedade) e em oito dias vendeu toda a mercadoria. Retornou a Arapiraca e no período de três semanas vendeu três mil kg de fumo. Procurou a coletoria para fazer o registro de empresa e começou a trabalhar. Sr. Amâncio fez muitas amizades aqui: como Raimundo Relógio e Horácio Mariano. E assim, seu esposo, ia e vinha de Arapiraca a cada quinze dias, com a negociação do fumo. Dona Anetília veio visitá-lo trazendo as duas crianças, visitar a casa e conhecer a cidade por que Sr. Amâncio dizia que aqui era um “céu na terra”. Depois de três semanas na cidade, Dona Anetília retorna a Arapiraca só para pegar a mudança. Ao chegar em Brejo Santo, adaptaram a casa para morar e colocar o fumo para vender. Dona Anetília ensinava na cidade de Arapiraca, por ser professora desempenhou esta função aqui também. Recorda que o Sr. José Teles frequentava sua casa, eram amigos, Sr. Amâncio, disse a ele, que ela era professora. E ao retornar a Brejo Santo, foi convidada pelo mesmo a lecionar no Colégio Padre Viana, função que exerceu por 10 anos com orgulho e satisfação. No ano em que o Sr. Mário Leite fora Prefeito de Brejo Santo, ao inaugurar Escola Padre Pedro Inácio Ribeiro, a convida para lecionar, no momento, atuava como Diretora Dona Bernadete. Foram suas colegas de trabalho Lúcia Ambrósio, Maria Ambrósio, Norbélia Ambrósio, e Dona Anetília, Nicinha Tavares, entre outras e Dona Giselda Arraes foi sua colega na escola Padre Viana. Foi um período de 10 anos no Padre Viana, um expediente na escola Padre Pedro e outro no Colégio Padre Pedro, só depois decidiu ficar na escola Padre Pedro. Nesse período Dona Anetília além de ser minha professora, foram seus alunos também, Marly da Lagoa do Mato, Isabel, Aparecida filha de Elza do Monte, Gilberto irmão de Zé Quarenta, entre outros que não lembro no momento, bem como o Padre José Sampaio, a quem ela estima muito. Muitos passaram pelas mãos de Dona Anetília, inclusive Vânia da Igreja.

Pergunto sobre a Igreja e ela prontamente diz: “Sempre fui igrejeira Aqui em Brejo Santo, não foi diferente: me acompanhei com Ineizinha Landim e íamos da escola em escola dando aula de Religião, sem remuneração. Na época o Padre Dermival ficou sabendo do trabalho e a chamou para ajudar na Igreja”. Assim Dona Anetília se engaja e começa os trabalhos pastorais; por trinta e dois anos serviu na Pastoral dos Noivos, na Fraternidade Eucarística e diariamente em recolher as intenções da Santa Missa. Outra atividade religiosa que executa até os dias atuais é o da Irmandade do Santíssimo.
   
 No ECC (Encontro de Casais com Cristo) em 1986, foram os primeiros casais da cidade juntamente com Sr. Carlos Martins e D. Hilda a participarem na cidade de Fortaleza e dois anos depois implantar na cidade. “Assim diante de tantas maravilhas, surgem os momentos difíceis, que foi a perda de meu filho João Cicero em 1986. Mas nós não desanimamos, Deus faz tudo certo. Imediatamente o vigário lembrou de nós: que estávamos sofrendo a morte do meu João Cicero. Fomos a Fortaleza, foi uma semana de festa. O Nosso sofrimento foi aliviado, apesar de tudo houve uma recompensa: nossa fé e esperança, não perdemos, houve uma acréscimo da nossa espiritualidade para a melhora de nossa Brejo Santo”.

Relata: “Trouxemos o ECC para Brejo Santo. Amâncio dizia: “se eu conseguir trazer o ECC para Brejo Santo e morrer no outro dia eu me salvo”. Assim aconteceu, o ECC do Crato veio apadrinhar Brejo Santo. Essa missão foi entregue a nós pelo Vigário. No dia do encontro em Brejo Santo o Amâncio adoeceu, mas Deus continua na proa do barco. Quando tudo estava preparado surgiu uma febre tão grande em Amâncio, mas mesmo assim ele não desistiu, continuou trabalhando. Mas depois começou um tratamento em Recife. Era uma semana lá e outra aqui, mas trabalhando em prol do ECC”. Nos dias do encontro, 03,04,05 de junho de 1988, Amâncio continuou doente, mas o encontro acontecendo e todos os que trabalhavam, inclusive o vigário, sabiam da gravidade, mas nada foi anunciado, tudo em silêncio para não tirar a essência do encontro do ECC. Mas Amâncio parte para eternidade. Sofri muito e ainda sofro. Foi difícil, os encontreiros (os que trabalhavam) com a notícia do falecimento de Amâncio. O vigário pediu auxílio ao Bispo para dar a notícia aos encontreiros”.  Recordo-me deste fato, estava participando do encontro, eu e Pingo fomos apadrinhados pelos dois. O falecimento de Sr. Amâncio só foi anunciado, após a missa. Todos disfarçaram muito bem, não se notou nada. Mas nos marcou profundamente.

Outro fato marcante na vida de Dona Anetília, a convite do Vigário Dermival foi a criação do Cursilhos de Cristandade. O Vigário feliz, a Igreja recebeu uma roupagem e todos trabalhavam com gosto e prazer. Foi feito uma lista, 1º as mulheres e depois os homens para o Crato. “Era bom demais! Um céu na terra!” Considero as palavras de Dona Anetília exemplo de superação. 

Atualmente, Dona Anetília reside com a jovem Lurdinha que se dedica a lhe fazer companhia e ajudá-la no que for possível. Ela diz que só tem um irmão vivo, todos os outros faleceram, e este mora em São Paulo, fazem 25 anos que não se veem. Dona Anetília não dirige mais, tem um motorista pra fazer as viagens de ir a Igreja. Os vizinhos dela são Rita Pinheiro e Bosco, João Paulo e Savana, Edênia, Dr. Tião e Lúcia, além de Edileusa e Domingos, Sr. Cruz e Vilani, na menor necessidade todos estão prontos a ajudá-la, é atendida por todos: “Respeito e sou respeitada”.
   
As alegrias enunciadas por Dona Anetília na atualidade são seus netos: Marcelo (filho de João Cicero com Elizabeth), Davi e Geovana (filhos de Jorge e Ivana), e alegria está completa com a chegada de Cecilia as bisneta, filha do Davi.
   
Encerra dizendo: “Amo Brejo Santo. Resolvemos vir conhecer este pedaço do céu, o qual Amâncio falava tanto, e cada vez ficava encantada de tudo o que havia aqui. Muitas amizades foram feitas ao longo desses anos”. Obrigada minha querida Anetília, por sua contribuição na nossa história, por compor o cenário da nossa educação e por se dedicar a Igreja do Sagrado Coração de Jesus e compor a história.