segunda-feira, 8 de julho de 2019

COLUNA DO DAVID JR. - Sentimos, porque existimos

Sentimos, porque existimos 

Na medida que vamos nos desenvolvendo enquanto seres humanos, vamos aprendendo a identificar os nossos sentimentos, as nossas emoções, as dores que acompanham nossa existência, vamos identificando o que nos é prazeroso ou o que nos coloca em situação de desconforto, mas em meio a isso tudo aprendemos também a ocultar nossas fragilidades e sentimentos para demonstrarmos ser sempre fortes. 

    Sentimos, porque existimos, e fingir não sofrer ou sentir dor, potencializa nossas possibilidades de sofrermos ainda mais. 

    Aprendemos que a razão é superior a qualquer outra forma de sensibilidade, porque fomos ensinados por vários séculos que em nosso mundo só a razão importa. Ensinamos a nossas crianças que chorar é uma demonstração de fragilidade, e que é mais conveniente ocultarmos aquilo que nos causa dor. Nós, sociedade, desenvolvemos mecanismos de defesa para ocultarmos nossas fragilidades, mas não conseguimos esconder de si mesmos – “só eu sei o que eu sinto, o quanto eu sofro, o quanto dói” – e isso é verdade, já que ninguém é capaz de sentir o que cada um sente sozinho. Pode até imaginar, se compadecer, se solidarizar, mas não sente, porque sentir é algo individual, único. 

    Por isso a necessidade de sermos honestos com nós mesmos, de não ocultarmos determinadas dores, se elas nos causarem incômodo, se sentirmos a necessidade de expressá-las, façamos. Podemos evitar que nossa dor se transforme em doença, desde que não permitamos que o sofrimento deixe de ser funcional – na medida que nos instigue à mudança – e passe a ser patológico – nos causando limites e incômodos nos processos da vida, e da nossa existência. 

    Tudo na vida gera em nós sentimentos diferentes, e depende da forma e da atitude como tratamos nossas emoções, por muitas vezes necessitamos encarar com positividade e resiliência as dores que nos afetam negativamente, mas sem esquecer que elas também podem nos ensinar, nos transformar, isso poderá evitar em nós boa parte dos nossos sofrimentos. 

    Emoções não podem ser negadas, não se perdem, mas se transformam, e ressurgem, afetando-nos psicologicamente. Emoção é energia, é impulso interno, quanto mais se reprime, mais se acumula, ganha mais força de explosão, cobrando de nós sua aparição de diversas formas, convenientes ou não, mas que não deixam de ser afetivas, sentidas, fortes. 

    Ignorar ou fingir não sentir, não sofrer não é a melhor saída. Sentimos, porque existimos. 

    Temos que ousar ser nós mesmos por mais assustador ou esquisito que esse “eu” possa se mostrar ser. (May Sarton).
Pense Nisso. Uma ótima semana. Até a próxima. 

David Junior
Psicólogo e Professor de Filosofia e Atualidades