quinta-feira, 12 de setembro de 2019

COLUNA DA JACQUELINE - Bolo de Caco

 Bolo de Caco

 
Hoje pus-me a refletir sobre as memórias afetivas.  Mas existe um porque. 

Como sempre a maioria do meu dia, compartilho com a minha equipe da Secretaria de Educação. E todos os dias reservamos um momento para o café da tarde. O nosso momento de recreio. Lembrei-me que Adriano trouxera para equipe bolo de caco, receita da culinária nordestina.  Vocês já ouviram falar nisso? Quem  é de minha época com certeza já ouviu.

Era tradicional as famílias do sertão no meio da tarde oferecer como lanche o delicioso bolo de caco ou ureia-de-pau.

Acredito que esse nome originou-se do bolo do caco:  um pão de trigo típico da Madeira que pode ser encontrado tanto na ilha da Madeira como na ilha do Porto Santo. 

A equipe já tinha degustado o famoso bolo de caco. Lógico que cobrei o meu pedaço. Não é que eles guardaram. 

Comecei a comer aquele bolo como se fosse um manjar dos deuses. Voltei literalmente no tempo. O cheiro da infância invadiu o ambiente.

Olhei para Adryano e exclamei: que coisa gostosa! E ele respondeu enfaticamente: chefinha é  apenas um bolo de farinha de trigo  e ovos. Gostosa mesmo são as memórias afetivas.

No primeiro momento não entendi. Mas depois fiquei a matutar sobre o assunto.

Memorias afetivas são as boas emoções e sensações da primeira fase da vida que podem ser geradas por fatos que podem parecer banais a uma primeira vista, mas que ficam  guardados em nosso HD interno, chamado inconsciente.

Rubem Alves diz que há dois tipos de memória: memórias sem vida própria e memórias com vida própria.

As memórias sem vida própria são inertes. Não têm vontade. Sua existência é semelhante à das ferramentas guardadas numa caixa. Não se mexem.

As memórias com vida própria, ao contrário, não ficam quietas dentro de uma caixa. São como pássaros em vôo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós mas não nos pertencem. O seu aparecimento é sempre uma surpresa. É que nem suspeitávamos que estivessem vivas! A gente vai calmamente andando pela rua e, de repente, um cheiro de pão. 
 
E nos lembramos da mãe assando pães na cozinha…
Adélia Prado se questionava : Houve esta vida ou inventei? 
E Rubem Alves respondeu: Se essa vida não houve, quando a escrevo fica havendo.

Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga