segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Alerta - Número de casos de AIDS avança entre jovens.


O número de pessoas infectadas pelo HIV vem diminuindo em escala global, assim como o número de mortes causadas pela Aids. Mas, segundo as estatísticas oficiais, essa redução ocorre de maneira desigual entre diferentes países e também entre diferentes segmentos sociais. Em adolescentes, por exemplo, o risco de contrair a infecção tem crescido significativamente nos últimos anos.

"Estamos longe do fim da Aids. Esse discurso de que estamos por vencer a doença é contraprodutivo, pois nos distrai de uma dura realidade", disse Vera Paiva, uma das coordenadoras do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids na Universidade de São Paulo (Nepaids-USP), em palestra na FAPESPWeek France, entre os dias 21 e 27 de novembro.

Em 2016, a Conferência Internacional da Aids - considerada o maior e mais importante fórum global sobre a epidemia - apontou os adolescentes como população-chave entre os grupos desproporcionalmente afetados pela doença. Dessa forma, o grupo se tornou uma das prioridades de políticas públicas, ao lado de outras populações historicamente consideradas mais expostas à infeção pelo HIV e à mortalidade por Aids, como usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo com homens, pessoas transgênero e profissionais do sexo.

"A maior vulnerabilidade dos adolescentes ao HIV é uma tendência global. Atualmente, existem mais de 2 milhões de adolescentes e jovens adultos (15-24 anos) infectados. Esse é o único grupo em que a taxa de infecção continua a aumentar, com um risco relativo 50% maior em relação às outras faixas etárias", disse.

"Conforme disse Gunilla Carlsson, diretora executiva da Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), é inaceitável que toda a semana seis mil adolescentes, meninas e jovens mulheres sejam infectados por HIV em todo o mundo porque seus direitos reprodutivos e sexuais continuam sendo negados", disse Paiva, que coordena uma pesquisa sobre adolescência e Aids no Brasil.

De acordo com a pesquisadora, no Brasil é ainda mais preocupante o crescimento da vulnerabilidade à Aids entre os adolescentes por causa da queda nos investimentos em políticas de promoção da saúde. Paiva destacou que essas medidas são amparadas pela Constituição Federal, que prevê o direito à educação, à saúde e estabelece a laicidade do Estado. 

Segundo Paiva, desde 2016, políticas de austeridade no Brasil têm cortado o investimento em saúde pública, educação e ciência. "Assim como em outras partes do mundo, esses cortes vêm acompanhados de um movimento político articulado por discursos religiosos e anticientíficos. Portanto, garantir a saúde sexual e reprodutiva dos jovens exige novas concepções que permitam a sustentabilidade de programas baseados em evidências e não em pregação moral", disse. (Maria Fernanda Ziegler, de Paris/ Agência Fapesp).

*Da redação do Blog do Farias Júnior com dados do OPOVO