quinta-feira, 16 de abril de 2020

COLUNA DA JACQUELINE - Pulo do Anjo.


PULO DO ANJO

Esta páscoa está sendo bem diferente de todas que já vivi. Quem sabe a verdadeira Páscoa.
Mas, este inicio de Páscoa de 2020 me fez compreender que algumas coisas são explicadas pela ciência e outras pela fé. 
A experiência da Páscoa é uma experiência de dor, de desilusão, de perca. É vivenciar o cordeiro imolado. Por isso que a Páscoa é uma prova de solidão que nos leva a Ascenção espiritual. A libertação de todas as amarras.
Páscoa, do hebraico Pessach, que significa o pulo do anjo, é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais que fé, Páscoa é amor. Já tinha lido isso em algum lugar, mas neste momento estou vivenciando verdadeiramente a Páscoa pela fé.
Somos homens e mulheres de passagens; somos filhos da Páscoa. As ameaças são inúmeras: os cativeiros, os mares, o medo do desconhecido. Entretanto haverá sempre uma esperança a nos dominar; um sentido oculto que não nos deixa parar; uma terra prometida que nos motiva dizer nesta travessia: Eu vou resistir!
Rubem Alves disserta sobre uma tela de Pierro Della Francesco chamada “Ressurreição”: Na parte de cima, com seu pé sobre a pedra, o Cristo ressuscitado. Na parte inferior, encostados à pedra, os guardas adormecidos. Perguntam-lhe sobre o sentido da tela. Ele responde que as telas têm muitos sentidos e que só pode dizer os pensamentos que aquele quadro o faz pensar. E diz: enquanto os guardas da morte estão dormindo, o divino que mora em nós sai do sepulcro...Cantam e voam, a procura do amor… celebrando a Páscoa. E é bem isso!
No almoço do domingo de Páscoa comi com  saudades. Saudades das palavras, dos abraços, da presença física. Comi pensando nos muitos irmãos que não tem o que comer. Lembrei-me da assertiva: Pão é amor. E Páscoa para ser bem vivida tem que ter partilha.
Assisti a live  de Andrea Bocelli  na Catedral de Milão vazia, que  me fez compreender mais fortemente o sentido da Páscoa.
Cada música, cada nota tocava profundamente a alma. Fiz de um trecho de uma poesia de Cora Coralina minha oração:
Que eu tenha  sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa,
E que eu mesma  acenda o fogo da  alegria da minha casa.
A cada  manhã,  a cada novo dia que começa. 
Acreditando mais que duvidando!
Concluo com Saramago: As misérias do mundo estão aí, e só há dois modos de reagir diante delas: ou entender que não se tem a culpa e, portanto, encolher os ombros e dizer que não está nas suas mãos remediá-lo — e isto é certo —, ou, melhor, assumir que, ainda quando não está nas nossas mãos resolvê-lo, devemos comportar-nos como se assim fosse.
Feliz Páscoa e fiquemos em casa!
Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga