quinta-feira, 2 de abril de 2020

COLUNA DA JACQUELINE - URBI ET ORBI.

URBI ET ORBI.
 

Jamais esquecerei aquela tarde de sexta feira.  Ás 18:00 horas, horário de Roma, às 14:00 horas, horário do Brasil,  dia 27 de março, a benção  Urbi et Orbi pelo papa Francisco. 

Urbi et orbi, locução adverbial latina, significa  à cidade de Roma e ao mundo, a todo o universo. É uma benção  cristã geralmente realizada na Páscoa, Natal e no final de conclaves. 
Historicamente é  realizada da varanda central da Basílica de São Pedro, na Varanda das bênçãos.

Nesta sexta-feira foi totalmente diferente. Não pelo fato que já é histórico mas pelo significado amoroso que trouxe para minha quarentena e imagino que de milhares de cristãos.

A praça de São Pedro estava totalmente vazia. Era um  silêncio que adentrava na alma. Estávamos reunidos enquanto família na sala e a televisão transformou-se momentaneamente em algo sagrado.

Sentia como se estivesse naquela grande praça, completamente só, imergida naquela celebração. O sentimento de solidão tomava conta de todo meu ser. Algo que me permitia está em mim mesma. Nunca sentira esta sensação em nenhum rito religioso. Em contrapartida ao sentimento de solidão, mesmo estando com meu esposo e filho, sentia o toque de Deus que sussurrava ao meu ouvido: Oh minha alma retorna a tua paz!

E foi o que senti naquele momento, uma paz imensa, em detrimento ao medo, as incertezas , as angústias. A imagem do Papa Francisco caminhando solitário, absorto em seus pensamentos e súplicas, me remeteu a Jesus o bom pastor, carregando a ovelha ferida sobre as costas, o que prefigurava a  humanidade que precisa mais que tudo do olhar amoroso de Jesus.

Ainda ecoa no meu coração  as palavras do Santo Padre: Ao entardecer… assim começa o Evangelho, que ouvimos.  Há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares.

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos. Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? 

Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo.

E finaliza: Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua  repetindo: Não tenhais medo! E nós, juntamente com Pedro, confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós.


Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga