sexta-feira, 27 de novembro de 2020

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Raimundo Relógio e Dona Doralice.


Raimundo Relógio e Dona Doralice.



Fiquei muito feliz em conversar com o casal que hoje trago a nossa história do cotidiano, e que muito contribui e ainda contribui de forma exemplar na história da cidade. Foi um final de tarde muito agradável em que o Sr Raimundo e Dona Doralice partilharam um pouco da sua vida e como estão marcadas na história de Brejo Santo.


Raimundo Furtado, filho do casal Raimundo João José Furtado e de Maria Ernestina da Conceição (in memoriam). O Sr Raimundo nasceu no sitio Apanha Peixe, este ficou órfão de pai aos 10 anos de idade, e desde cedo começou a trabalhar para ajudar no sustento da família, uma das atividades era apanhar e rachar a lenha e vender na cidade, levava em um jumento, duas vezes ao dia. Porém as irmãs Tacila e Francisca estudaram e ele as acompanhavam, mas ele brincava ao invés de estudar. Depois aprendeu a arte de sapateiro, andava uma légua ainda para ajudar assim a manter a casa. Ele ainda pensou em viajar pra Fortaleza, mas não deu certo, surgiu assim a oportunidade de vir pra Brejo Santo. Veio com dez companheiros, ainda adolescente, mas com o passar do tempo ele permaneceu sozinho e os outros retornaram. Ao chegar em Brejo Santo, ficou uns quatro meses sem voltar pra casa, mas mandando dinheiro pra família. Mas ao voltar pra Mauriti não deu certo o trabalho com o antigo patrão e resolveu voltar para Brejo Santo, eram meados do ano 1957. Ao chegar em brejo Santo, começou a trabalhar com Chico de Ioió com o oficio de sapateiro e tempos depois sua mãe e seus irmãos se mudaram pra cidade. Sr Raimundo começou a construir sua vida aqui, e trabalhou em várias funções: foi feirante com banca de miudezas, depois com sua rural transportava passageiros e alunos de Brejo Santo a Juazeiro. Sr. Raimundo assumiu a função de cambista, e foi assumindo um leque de profissões que o fez um homem guerreiro e vencedor, não media esforços nos trabalhos que executava.  Assim à medida que ia trabalhando foi construindo seu patrimônio, recorda que já tinha comprado um prédio na Rua José Matias Sampaio, e depois se interessou pelo prédio atual do comércio e de sua residência. Para comprar o prédio conseguiu o dinheiro com algumas pessoas da cidade, foi uma luta, mas deu certo, pois o dono havia dado um prazo, e diante disto ele arrecadou a quantia e chegou de prontidão, adquirindo o prédio. Lembra que sempre que passava o prédio estava fechado, certa vez procurou a dona que por sinal era Antônia Camilo, in memoriam, (Mãe Toinha Camilo), eram uns quartos para aluguel, mas Sr. Raimundo deu a proposta de compra, a qual foi aceita. Otimista começou a progredir e assim deu inicio com uma bodega, inclusive passou dias sem movimento. Depois colocou um local para jogar dominó, mas devido a alguns problemas em que os clientes começavam a se exaltar e discutir desistiu, porque certa vez por intervenção de Dona Doralice, evitou-se uma tragédia, entre um policial e um jovem, e assim resolveram não dar continuidade com os jogos na bodega. Assim deu prosseguimento ao estabelecimento comercial que permaneceu por muitos anos, hoje no local existe uma lanchonete com prédio locado. O apelido de Raimundo Relógio, era por que seu pai era mestre de rapadura e tinha a sabedoria de decifrar a hora, sem olhar relógio e olhava pra o céu e dizia a hora exata e assim se propagou.





Doralice Lacerda Furtado, nasceu em Mauriti no sitio Vieira filha do casal Joaquim Firmino de Lacerda e Maria Sandra de Lacerda (in memoriam). No ano de 1959 Dona Doralice veio morar com sua família em Brejo Santo. Ao chegar em Brejo Santo aprendeu a costurar, inclusive fez um curso de corte e costura com a Sra. Celina. Com o passar do tempo montou seu negócio, fazia vestido de noivas, depois colocou um salão de beleza, no qual fazia penteados e unhas, as noivas e as damas de honras saiam prontas. Outra arte de Dona Doralice era o bater botões e cobrir, oficio que realiza até hoje. 

Achei interessante como aconteceu o encontro de Sr. Raimundo e Dona Doralice, pois eles se viram em Mauriti, e vieram se encontrar em Brejo Santo anos depois. Segundo Sr. Raimundo o irmão de Dona Doralice tinha uma banca também de miudezas e eram amigos, mas não aceitava o namoro dos dois. Dona Doralice veio morar na Lagoa do Mato, mas sempre vinha a banca do irmão e assim se encontrava com Sr. Raimundo, mas sem namorar. Com o tempo eles resolveram se casar, nada os impedia, casaram sem ninguém saber. Como o pai de Dona Doralice, era barbeiro, no dia do casamento ele estava trabalhando e Dona Doralice como costurava, fez o vestido para outra ocasião e então aproveitou para o casamento. Eles disseram que foi um casamento no queima, ou seja, aqueles rápidos e coletivo, e assim se deu o casório. Quando menos esperavam já tinham casados, surpresa par todos. No dia do casamento foram recepcionados por Pedro Basílio com o qual Sr. Raimundo trabalhava e foram para casa de João Basílio e Francinete comemorar. Casaram -se no ano de 1959 e da união nasceram os filhos: Luci, Edmilson, Edvan, José, Ednaldo, Evandro (in memoriam) e Socorro Lúcia. Sr Raimundo e Dona Doralice relata que tem seis netos. O inicio da vida matrimonial foi na Rua José Matias Sampaio, primeiro imóvel adquirido por Sr. Raimundo onde se localizava a residência e a bodega, na ocasião compraram um espaço de prédio ao Sr. Pedro Tavares afim de ampliar o negócio, depois foi que vieram morar no atual endereço. Eles recordam que seu estabelecimento foi até local de comemoração de um casamento.

 



O casal possui uma bela caminhada de Igreja, Sr. Raimundo é do Grupo Israel, da Irmandade do Santíssimo, Dona Doralice do Grupo Fonte de Vida, Apostolado da Oração e o casal do ECC. Sua filha Luci nos dá um belo exemplo com sua caminhada de Igreja, dando prosseguimento ao legado dos pais. Dona Doralice dá um testemunho de mãe e esposa que se dedicou de forma ímpar a família. Foram contemporâneos e amigos de comércio de Carlos Martins, Chico de Ioió, Sr. Quintino enfim os que fizeram parte da sua época e que ainda hoje possui comércio.

Sr. Raimundo assim nos deixa a seguinte mensagem: “A história do mundo e a convivência quem faz é a gente, é só procurar fazer o bem”. Belas e sábias palavras Sr. Raimundo, belo testemunho de família e de pessoas integras que merecem nosso respeito e homenagem. Obrigada por compor nossa história e construir junto um legado de comerciante respeitoso e de seus filhos que merecem também nossa gratidão.