segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Hanseníase: casos da doença diminuem no Ceará, mas preconceito persiste

Foto: Marcelino Júnior

Em 2020, 1.074 novos diagnósticos de hanseníase foram registrados no Ceará, o que corresponde a uma redução de 452 ocorrências em comparação a 2019, com 1.526 casos. O número de óbitos também caiu: foram 31 em 2018, 31 em 2019 e 9 no ano passado.


A diminuição é resultado da campanha Janeiro Roxo, responsável por ampliar o conhecimento da população sobre a patologia e estimular o diagnóstico precoce. Mesmo assim, o preconceito atinge portadores da doença e é um dos fatores que impedem que a hanseníase seja descoberta cedo.


Antônio Francisco de Souza deu início ao seu tratamento com medicação em 1987. No ano seguinte, os efeitos da hanseníase começaram a afetá-lo. “Morava em Pacatuba e ia em Maracanaú todo mês pegar o medicamento. Fiquei fazendo o tratamento e foi o tempo de aparecer um ferimento, em 1988. Aí eu vim para cá, pro Memorial Leprosaria Canafístula do Centro de Convivência Antônio Diogo (CCAD). Eu tive um problema no pé e foi preciso operar, em 1988, e desde essa data, eu estou na cadeira de rodas”, detalha.


Com o surgimento das primeiras manchas, o idoso conta que passou por situações constrangedoras. Atualmente, para ele, a visão das pessoas em relação a hanseníase sofreu modificações positivas. “Hoje a hanseníase está muito diferente, você já faz o tratamento em casa, você vai pro posto e pega só o medicamento. Se você fizer esse tratamento direitinho, você não fica nem com sequela. A gente já pode viajar, as pessoas já veem a gente com outros olhos, a gente recebe visita, íamos para a praia”, reflete.



Este comportamento é consequência de um importante trabalho de informação e conscientização. A administradora financeira do CCAD, Rosa Maria, explica que a unidade realiza diversas atividades em combate ao preconceito. Com mais de 90 anos, O Centro de Convivência Antônio Diogo, localizado em Redenção, tornou-se referência no tratamento da hanseníase no Estado e tem como prioridade a reintegração social dos ex-internos.


“Apesar de ter a cura, ainda existe muito preconceito. A gente tem trabalhado muito com essa parte, com o conhecimento, porque o preconceito vem mais pela falta de conhecimento. Nós temos grupos de autoajuda, grupos de convivência, o Memorial, que conta a história passada, e no final a gente conta a história de hoje, que tem cura. Tudo isso para levar à comunidade que o paciente é uma pessoa normal, um cidadão que pode estar inserido na sociedade, apesar das sequelas deixadas pela hanseníase”.


Hanseníase

A hanseníase é uma doença transmissível, caracterizada pelo aparecimento de manchas esbranquiçadas, acastanhadas ou avermelhadas na pele, com alteração de sensibilidade. Por ser dermatoneurológica , ela compromete os nervos periféricos, responsáveis pela sensibilidade e motricidade, e por isso, se não tratada corretamente, pode deixar sequelas.


Os principais sintomas são a ocorrência de pápulas, nódulos, diminuição ou queda de pelos em algumas áreas do corpo, especialmente nas sobrancelhas, diminuição ou ausência de suor em áreas específicas, áreas dormentes, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal.


A transmissão acontece por meio das vias aéreas, mas não se dá por um simples contato - é necessário um contato frequente para a contaminação. Por isso, é importante que a hanseníase seja diagnosticada precocemente para que o tratamento seja efetivo e a transmissão seja controlada.


O tratamento é feito com uma dose do remédio que deve ser tomada na unidade de saúde e outra medicação com duração de 28 dias, que pode ser tomada em casa. A hanseníase tem cura e o tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).


*Da redação do Blog do Farias Júnior com dados do G1 CE. Para acessar a matéria original clique aqui.