sexta-feira, 19 de março de 2021

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - EM LOUVOR A SÃO JOSÉ (Padre José Raimundo)

EM LOUVOR A SÃO JOSÉ (Padre José Raimundo)


Meus queridos que acompanham a nossa história cotidiana no Blog do Farias, trago hoje o Padre José Raimundo dos Santos Andrade Sales, Padre do Clero  de Amargosa-BA. Doutorando em Patrologia no Pontifício Instituto Patrístico Agostiniano da Universidade Lateranense de Roma. Residente no Pontifício Colégio Pio Brasileiro. Com alegria ele nos trará um texto sobre São José o Padroeiro do Ceará. Agradeço a Padre José Raimundo pela disponibilidade, que apesar de estar tão longe me enviou essa belíssima reflexão. Tomemos esse texto hoje como fonte de oração e pensemos na figura de São José em nossas vidas e em nossas famílias! Gratidão Padre José Raimundo e um excelente trabalho em Roma. Eis o texto:

Diante deste Presépio rústico e pequenino em um canto da sala, deixo-me envolver pela pobreza com que é retratado o estábulo onde nascera o Salvador. Sou envolvido pela cena representada: Deus se fez humano, assumiu nossa carne na pequenez de uma criança recém-nascida, na pobreza de uma família da mal falada cidade de Nazaré que veio se recensear em Belém. A memória do fato representado pelo Presépio cala-me, o pensamento foge-me, o selênico faz mais agudo o tic-tac do relógio de parede.

Nesta ausência de palavras saltam-me aos olhos as figuras no pequeno estábulo: a pequena criança, ladeada de seus pais, os magos, os animais... Sobem-me da memória do coração aos ouvidos as palavras dirigidas aos filhos de Jacó no Egito: “Ide a José”. Claro que as palavras não se referem ao esposo de Maria, mas resolvi aplicá-las a ele, para ele dirigiu-se meu pensamento.

José de Nazaré, nosso querido São José, quase passa despercebido naquele estábulo e nas narrativas do nascimento e infância do Salvador. Dele não se registra nenhuma palavra, nenhuma intervenção, embora o que se diga sobre ele e o que ele fez sejam por si altissonante. 

“Meu bom e justo José, por que se dirige para ti meu coração?

Seria porque me deram teu nome na Pia Baptismal? Será por sentir em meus ombros o peso de uma paternidade que como a tua não vem nem da carne nem do sangue? Tu foste pai sem teres gerado! És modelo de uma nova generatividade!

Penso, José, que foram teu discreto silêncio e tua pronta obediência que me tocaram o coração. Tu deste um SIM sem palavras e sem hesitações. Enquanto tu não sabias o que se passava com Maria, não ousaste levá-la a Tribunal ao te aperceberes de sua gravidez sem explicação.

Admiro-te, José de Nazaré, pela tua capacidade de crer prontamente. Às vezes fico a imaginar como foste rápido para creres naquele sonho com o Anjo. Talvez seja porque eu muitas vezes não consiga ter clareza das coisas com as quais sonho ou por viver em um tempo em que nos acostumamos a chamar sonho a coisas que julgamos impossíveis de serem realizadas. Tu, logo que despertaste de teu sonho trataste de realizá-lo, tomaste Maria por esposa.

Ensina-me, José de Nazaré, a ser obediente como tu, que não ficaste preso aos teus pensamentos ou medos, mas seguiste de pronto as orientações de Deus, cumprindo cheio de coragem a sua palavra.

Querido José, Servo fiel e prudente, os Evangelhos não narram a intimidade do lar de Nazaré, seu dia a dia, mas o que eles contam é o indispensável para nossa fé. Contudo a gente se põe sempre a imaginar... Alguém já cantou que Maria fez o Cristo falar, ensinou a Jesus caminhar...José, eu atrevo-me a dizer ou crer que contigo ele aprendeu o caminho da Sinagoga de Nazaré e a cada Sábado lá estavas com ele. Penso que tu lhe ensinaste a dura arte da carpintaria, a arte de transformar madeira tosca em móveis úteis e belos. Contigo, na dureza da carpintaria, ele se fez aprendiz da arte da transformação.  Ele a prendeu e aperfeiçoou, superando-te como mestre, tornou-se especialista em transformação:

Transformou os simples pescadores do lago da Galiléia em pescadores de gente, transformou seus vacilantes discípulos em corajosos Apóstolos enviados ao mundo intero. Transformou água em vinho nas bodas de Cana, transformou cego em discípulo que o segui pelo caminho, paralítico em reabilitado a andar, leproso em curado, pecador em redimido, pão e vinho em Eucaristia.

Contigo, bom José, aprendeu ele o segredo de golpear e cinzelar a dura madeira para que desse o melhor de si nas mãos do artesão, aprendeu ele a ver para além da bruta madeira, todas as potencialidades que ela carregava. Aprendeu ele a ver além da aparência e com paciência e dedicação a transformar a madeira naquilo que só ele via. Ensinaste-lhe e ele aprendeu. Dá-nos a graça de sermos também nós bons aprendizes.