quinta-feira, 18 de março de 2021

Morrer de fome ou de vírus: eis a escolha?

 


*Por Érico Firmo.

Existe um discurso contra as restrições para conter a Covid-19 que se apresenta como em defesa das pessoas. Afirma que elas podem até não morrer por causa do coronavírus, mas acabarão morrendo de fome, por não terem emprego e não poderem trabalhar. Esse discurso aparenta ser humanitário, mas é hediondo. O que está presente nesse argumento é que as pessoas — e aí falamos obviamente das mais pobres — precisam escolher a maneira de morrer. Se não querem morrer de fome, precisam expor a si e suas famílias ao risco de morrer pela Covid-19. É cruel.

Não se trata de escolher a maneira de arriscar a vida. Há maneiras de impedir que as pessoas morram de fome sem que isso signifique que elas precisam se expor ao maior risco de contágio. No ano passado, foi criado o auxílio emergencial. A intenção inicial do governo Jair Bolsonaro era um valor de R$ 200 no ano passado, e foi a R$ 600 por articulação da Câmara dos Deputados, puxada pela oposição. Até o mês que vem, um novo auxílio, em valor reduzido, deverá passar a ser pago.

Além disso, no Ceará, a Assembleia Legislativa aprovou, na semana passada, auxílio a trabalhadores demitidos desempregados de bares e restaurantes. Também anunciou isenção de conta de água para famílias de baixa renda. Em Fortaleza, o prefeito José Sarto (PDT) anunciou auxílio para feirantes, ambulantes, artesãos, profissionais da cultura e outros, e ainda cestas básicas para taxistas, mototaxistas, motoristas de transporte escolar e aplicativos, carroceiros e catadores, além de famílias cadastradas no Bolsa Família que não recebem o benefício.

Alguns dizem que isso é esmola. Não é. É socorro público num momento de emergência. Não quero que as pessoas precisem desse tipo de benefício para sobreviver, mas se trata de uma situação de calamidade pública em saúde, com uma pandemia a se alastrar e fazer centenas de milhares de mortes pelo País. É sem dúvida melhor que deixar as pessoas morrerem de fome, ou forçá-las a se expor ao risco de contaminação para conseguir o sustento.

É suficiente? Claro que não. E a crítica deve ser essa. Que se exija dos governos que façam mais. Que, no momento de emergência, os cofres públicos façam esforços extras, que deverão ser recuperados depois. Mas, nesse momento, é necessário que o poder público cumpra seu papel. Essa cobrança é justa e necessária. Não que se cobre a permissão para circular livremente no meio de uma pandemia, expondo-se ao vírus e fazendo-o se disseminar.

O desempenho de Bolsonaro na pandemia

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou a pior avaliação do desempenho do presidente Jair Bolsonaro no combate à Covid-19 desde o início da pandemia. Para 54% das pessoas ouvidas, o trabalho do presidente nessa área é ruim ou péssimo. A mim, não é surpresa. O País atravessa o momento mais crítico da pandemia, é natural que a avaliação do presidente seja a pior.

O que me chamou atenção foi outro número. Houve 22% das pessoas que disseram que o desempenho do presidente no combate à pandemia é ótimo ou bom.

Nem Bolsonaro acha isso. Se achasse, não estaria com o quarto ministro da Saúde em um ano de pandemia.

*Érico Firmo é colunista do O POVO.