domingo, 13 de junho de 2021

Cearense desenvolve ferramenta para auxiliar estudantes com deficiência visual em aulas remotas.


Em tempos de pandemia do novo coronavírus, o ensino remoto parece ser a única alternativa para não distanciar estudantes do conhecimento.

Com a necessidade do isolamento social, as salas de aula tiveram que migrar para dispositivos digitais, como tablets, notebooks e celulares. Fora das escolas há mais de um ano, os estudantes vivenciam realidades distintas, não só nos aspectos econômico, familiar e social, mas também por fatores biológicos. Se o ensino foi transportado para as telas, como faz um aluno com deficiência visual para acompanhar a apresentação de um slide em aulas remotas ou até mesmo assistir a um vídeo sem audiodescrição? O desafio de estudar em meio a uma pandemia, para eles, se mostra ainda maior.

Pensando em minimizar as barreiras que a limitação visual impõe a esses estudantes, o desenvolvedor de software Heyde Leão, 42, de Fortaleza, criou a “Biblioteca Acessível", plataforma de ensino e aprendizagem composta por um tablet sistema android, software para escrita e leitura, película de suporte à digitação e dispositivo portátil de leitura em braille. A ferramenta funciona por meio de bluetooth, tecnologia que aciona o programa instalado no mouse para realizar a leitura de todas as palavras que aparecem na tela do tablet, possibilitando também a transcrição automática dos textos para o código braille. A ferramenta ainda permite aos deficientes escutarem o áudio dos livros que estão armazenados na memória interna do equipamento.

O desenvolvedor da plataforma conta que o objetivo principal é permitir navegação autônoma a estudantes cegos e com baixa visão, proporcionando um modelo de educação à distância efetivamente acessível para pessoas nesta condição. Segundo ele, a ideia surgiu bem antes da pandemia, mas hoje, com a ausência de alunos nas escolas, a utilidade da ferramenta pode ser ainda maior. “A plataforma existe desde 2011 e foi projetada, justamente, pensando numa situação extrema em que as crianças pudessem estudar exclusivamente em casa, mas ela também pode ser utilizada na sala de aula convencional”, revela.

Heyde ainda afirma que, desde o início da pandemia, tem percorrido diversas cidades do Ceará e de estados vizinhos para apresentar a iniciativa a prefeitos e secretários de educação. “Penso que é uma forma dos municípios auxiliarem os estudantes cegos a não ficarem prejudicados durante o ensino remoto. Infelizmente, nem todos os gestores têm a sensibilidade para entender a importância de uma ferramenta como essa na vida de quem tem a limitação visual. Nessas andanças, um prefeito chegou a me dizer que não iria investir no projeto porque ‘cego não dá voto’. Isso nos entristece, mas por outro lado, fico feliz quando outros falam que essa já foi a ferramenta mais inclusiva que já viram na área da educação”, comenta o desenvolvedor.

*Da redação do BFJ, com O Povo.