Carta ao povo de Deus
Na memória litúrgica de São João Maria Vianey, ocasião em que comemoramos com a Igreja o Dia do Padre e celebrando os nove anos de minha ordenação sacerdotal, seis deles como reitor da Casa da Mãe das Dores, gostaria de compartilhar com vocês algumas inquietações a partir de um versículo do Evangelho.
No caminho para o calvário, Jesus aguentou o peso da cruz, as dificuldades do caminho e o calor do dia, tudo isso acompanhado de insultos e golpes de chibatadas, sem dizer uma palavra. Já pregado na cruz e sem forças, manifestou seu último desejo antes da morte: “Tenho sede” (Jo, 19, 28). Os soldados entenderam que era uma sede física e deram vinagre a Jesus. Mas aquela sede era subjetiva, ou seja, era um desejo de conversão: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
Durante este deserto da pandemia, Jesus volta a apelar: “Tenho sede” (Jo, 19, 28). E revive com isso os tormentos da Sua agonia. Nós somos aqueles soldados que ouvimos Jesus dizer que tem sede, mas oferecemos o vinagre do nosso egoísmo e da nossa irresponsabilidade diante do drama que vive a humanidade.
Como poderemos, então, providenciar a “água viva” para saciar a sede de Jesus?
O caminho é simples, mas complexo e muito desafiador: quando pararmos de nos servir de Deus – para alcançar esse ou aquele objetivo – e passarmos a servir a Deus nos irmãos necessitados. Quando aprendermos a amar a Igreja como Cristo a amou e sendo perseverantes na fé, mesmo que a dor de ter perdido entes tão queridos para o coronavírus – ou para outra enfermidade – seja a nossa companheira constante.
Se formos capazes disso, ouviremos de Jesus: “Tive sede e me destes de beber” (Mt 25, 34-35).
Celebrando, então, os nove anos em que fui configurado a Cristo Sacerdote, essa é a minha sede: que saciemos a sede de Jesus permanecendo “alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12, 12) e firmes no compromisso comum de superar a pandemia com atitudes responsáveis.
Que Deus nos abençoe e a Mãe das Dores nos guarde nesse caminho diário de conversão.
Amém.
Pe. Cícero José da Silva
Pároco/Reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores
*Da redação do BFJR, com site Mãe das Dores Juazeiro.