sábado, 4 de setembro de 2021

Pesquisadores da UFC encontram novas espécies de abelhas nativas sem ferrão no Ceará

foto: Julio Pupim, Flickr

Um estudo inédito realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) identificou novas espécies de abelhas nativas sem ferrão, também chamadas de meliponíneos. O levantamento foi o primeiro compreensível feito no Ceará, identificando o inseto em mais de 100 localidades rurais do Estado. O último estudo foi feito em 1973, sendo revisado posteriormente em 2007.


A espécie, além de estar presente em diversas regiões do Estado, são utilizadas principalmente para a produção de mel por meio da atividade conhecida como meliponicultura. O levantamento mostra que essa produção é baseada especialmente na criação da jandaíra, uma espécie que evoluiu na caatinga e se adaptou bem às condições dessa vegetação, a qual responde por 80% do território cearense.


Em entrevista ao programa O POVO no Rádio, com a repórter Nildenia Damasceno, o professor do departamento de Zootecnia da UFC, Breno Freitas, explicou que a descoberta foi uma surpresa para todos. “Isso permitiu que a gente identificasse abelhas que existiam no Ceará e que existiam também em outros estados do País, mas não se sabia que existiam aqui. Então, eram listados 29 espécies de abelhas sem ferrão no Estado. Nesse estudo, nós conseguimos localizar 49, ou seja, 20 espécies a mais do que era conhecido”, explica.


De acordo com o professor, outras três espécies que não entraram na lista são suspeitas de que sejam novas ocorrências ou até novas espécies para o Estado. Para que o número chegue até 53, no entanto, os pesquisadores precisam finalizar os estudos que estão sendo realizados para que a informação seja confirmada.


O estudo envolveu o processo de coleta de amostras de abelhas em 122 localidades, alcançando 52 municípios do Ceará de forma a abranger todas as regiões do Estado. Posteriormente, foi realizada a indentificação científica em cada espécie, sendo considerada a etapa mais demorada do processo. O resultado foi publicado nos Anais da Academia Brasileiro de Ciências (AABC).


Para o professor Breno, a desoberta tem muita importância para o Ceará, pois é possível ajudar na preservação do inseto e na diferenciação de sua cadeia reprodutiva. "A biodiversidade, que é a diversidade de espécies animais e vegetais que existem em um local, tem se mostrado fundamental desde a descoberta de novos medicamentos até as formas de geração de renda, além da questão de manutenção e sustentabilidade dos ambientes", pontua.


Além disso, as abelhas sem ferrão podem ser utilizadas em atividades econômicas através da polinização agrícola, que consiste em usar ou alugar colônias para esse fim, ou também por meio do turismo ecológico. O uso de meliponíneos pode ser feito também para a área de educação ambiental.


Sobre o nome dado à espéciae de abelhas, o professor explica que não significa que o inseto não possua um ferrão. A espécie possui ferrão, assim como qualquer outra, mas, nesse caso, ela é incapaz de ferroar por ele ser atrofiado dentro dela. Além disso, as abelhas sem ferrão formam colônias perenes, com uma rainha e suas operárias, significando que elam passam o tempo todo ativas, desde que haja condições para que elas estejam naquele local, como temperatura adequada, fontes de alimentos e locais para fazer os ninhos.


Ainda, as abelhas sem ferrão ocorrem em toda região tropical do mundo, como na América Central, América do Sul (até o Norte da Argentina), na África, no Sudeste da Ásia e no Norte da Austrália. No Ceará, potencialmente se tem em todo o Estado.


Para Breno, a ação humana é a principal responsável pelo desaparecimento de muitas espécies, inclusive da abelha se ferrão. "Essas abelhas dependem da vegetação para ter flores, já que todo alimento que elas consomem, com exceção da água, é encontrado no pólen ou no néctar que são produzidos nas flores. Então, elas precisam de plantas na região e que floresçam o ano todo. Além disso, as abelhas sem ferrão só fazem ninhos dentro de oco de árvores. À medida que a gente vai desmatando, seja para a agricultura ou seja para fazer lenha, carvão ou até urbanização, se reduz essa vegetação de forma a fazer com que as abelhas desapareçam", finaliza o professor.


*Da redação do BFJR, com O POVO.