O diálogo de Dona Anunciada parte do princípio de sua profissão, orgulha-se em dizer que foi professora particular, entre muitos citou alunos da época, como Winderburg Salviano e Aleudo Leite. Recorda-se que Dona Teresinha Landim foi com Welington Landim para que esta o ensinasse, mas ele não aceitou, pois só lecionava a crianças com idade acima de 10 anos, segundo ela: “Eu não ensino a criança de seis anos”, ensinava supletivo e telecurso, e disse a Teresinha que não mandasse ele não, pois era um “bruguelinho”. Prossegue a conversa sobre seu oficio, e lembra que ensinara no Colégio Padre Viana a convite do Professor José Teles de Carvalho. Ela enfatiza com orgulho: “Ensinava todas as disciplinas de Matemática a Conhecimentos Gerais” e solta uma deliciosa gargalhada como se reportasse ao tempo. Fiquei emocionada quando ela fala de sua lealdade ao professor José Teles de Carvalho. Ela disse que recebera um convite do Professor Júlio Macedo Costa para ensinar no Colégio Balbina Viana Arrais, mas recusou em lealdade ao Sr. José Teles: “Homem extraordinário! Excelente”! Dona Anunciada ao falar do Professor Júlio Macedo Costa, revela que este nascera em Missão Velha e era casado com Dona Ieda.
Ao encerrar o assunto sobre sua profissão, Dona Anunciada se reporta a missão de Catequista. Fiquei imaginando, como seria a atuação catequética da época de perguntas e respostas. Começa seu desfecho e diz com orgulho: “Fui chefe dos catequistas” e foi regente do coral da Igreja, responsável pelos ensaios. Serviu como catequistas desde administração paroquial do Padre Pedro Inácio Ribeiro ao do Monsenhor Dermival, quando fala do Monsenhor retrata a pessoa de Louro. Lembra com carinho da Catequista Maria Alacoque e de Rosa Roberta, professora de Brejo Santo. E a Festa do Sagrado coração de Jesus, só coisas, boas: “Ajudei muito nos leilões, um estouro”. Participou pouco das Coroações, pois a maioria das vezes estava no sitio. Que admirável recorte histórico!
Aos 90 anos de idade (revelada pelas sobrinhas), Dona Anunciada é uma fonte inesgotável de conhecimentos e da história de nossa cidade, tanto passada como presente, ela não esquece um detalhe. Recorda das questões políticas da cidade e cita o nome de vários prefeitos inclusive o período de governo. Vai dizendo: “Foram prefeitos João Chicote que governou pouco, José Matias Sampaio que governou por 16 anos, Mauro Leite, Chico Furtado, Wider que governou por duas vezes, Guilherme que governou por duas vezes e agora a tia de Guilherme Teresa. Dr. Welington Landim foi prefeito pela primeira vez em 1988, ele gostava de política, depois foi Deputado e morreu cedo, muito cedo, para morrer estava jovem”.
Maria Gomes dos Santos (Dona Anunciada) faz um passeio histórico: relata sobre a Praça que eram um local de festa social, uma avenida onde hoje está localizada a escola Padre Pedro. Faz memória do cartório de Dona Maria Brasil. Recorda-se da Nascença e com seu conhecimento geográfico diz: “A nascença em Brejo Santo, no pé do serrote... um minério de água, e o serrote era um matadouro de animais. Hoje tem um oficial lá no Capoeiro”. Lembra ainda dos primeiros médicos filhos de Manoel Leite de Moura, Dr. Emilio e Fernandes, os mesmos não residiam na cidade, vinham passar semanas. Sobre a BR 116 ela diz que esta fez do Brejo Santo ser uma cidade central. A sabedoria de Dona Anunciada me interpõe como repórter: “Entrevista é uma conversa comprida, se você quiser conversar a tarde toda, converse a tarde toda, você é repórter minha filha, empurra o pé que eu sei da história de Brejo Santo”. Não me contive e comecei a sorrir junto com ela. Ela fala das visitas do Padre Pedro André Bitu, a qual pronuncia o nome completo do mesmo. Tece elogios sobre ele e diz que quando aparece para cortar o cabelo com sua sobrinha Cristina, a visita e confessa: “não gosto de conversa longa com Padre não”.
Depois de tanta conversa faço a pergunta chave se ela é feliz. Ela reflete um pouco e responde: “Sofrida, sou sofrida, não estou caminhando”. Mas digo que ela reporta alegria e felicidade, ela responde com uma gargalhada. Dona Anunciada fala de seu irmão José Inácio de Lucena (Sr. Cazuza, pai de Evânia e Luzia dos Santos) e recorda inclusive da sua partida para a eternidade. Pergunto onde ela mora e quem são seus vizinhos: “Oxe, lá vai, na Rua Balbina Viana Arrais, é “maromba” na frente, atrás “maromba”, fiz a interpretação de que se referia a muita gente que não dava pra contar. Neste momento lanço a pergunta sobre uma vizinha que chega a janela, ela diz que é Marluce que faz seus cigarros e é presença em sua casa. Dona Francisca sua cunhada chega e faço uma brincadeira dizendo que chegara sua cunhada do coração e ela sabia de quem se tratava. Muito esperta responde: “Posso dizer não, se não as outras ficam com raiva”. Todos as pessoas presentes no quarto se deleitam em risos.
Mas digo-lhe que gostaria de encerrar o momento com um canto. Dona Anunciada pronuncia um belo hino: “Bendita e louvada seja, no céu a Divina Luz, louvemos também na terra louvores a Santa Cruz...”.
Pois Maria Gomes dos Santos, está cantando no Céu a Divina Luz... com muito amor e deixa o legado de sua sabedoria, sua alegria, de tudo que plantou na terra. Deixa em seus familiares, em suas sobrinhas a saudade que cuidou com tanto amor e carinho.
Aproveito a ocasião e converso com Dona Francisca Antônio dos Santos, sua cunhada, com 80 anos de idade sobre a chegada de Dona Anunciada em sua vida: “Ela chegou logo quando casei em 1958. Morava comigo, ela sua mãe e seu pai, tinha meus filhos pequenos Toinha, Paulo e Dedé e depois Terezinha”. Dona Francisca relata que Anunciada viajara para São Paulo com um Tio José e anos depois retorna sozinha, pois o tio havia falecido em São Paulo. Dona Francisca acolhe Dona Anunciada. Mas a vida não foi fácil, pois seu esposo João Inácio dos Santos falecera com 42 em um acidente e Dona Francisca continua acolhendo sua cunhada Anunciada e sempre moravam juntas ou perto uma da outra. É o que acontece atualmente.