segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Mil pênis são amputados e 16 mil homens morrem de câncer de próstata por ano


Quando entrou no consultório do urologista pela primeira vez o garçom Rodrigo* tinha 49 anos e estava desconfortável. O incômodo não era apenas no órgão genital. Falar sobre o assunto era um problema e por causa dessa vergonha ele quase foi parar na mesa de cirurgia. Entre 2019 e 2020, houve 6.174 diagnósticos de câncer de pênis no Brasil e 1.092 pacientes tiveram o órgão amputado.

“Eu não tinha o hábito de ir ao médico para fazer exames regulares. Primeiro, porque não tenho plano de saúde, e segundo, porque nunca dei muita importância para isso. Procurei o médico porque estava com alguns sintomas. Era uma DST, e o médico disse que poderia ter evoluído para um câncer se eu não tivesse buscado ajuda”, contou.

Ele sente vergonha do episódio e por isso pediu para não ser identificado, mas os especialistas afirmam que a resistência dos homens em procurar atendimento e o hábito de negligenciar a saúde ainda é um problema em diversas camadas sociais. Nesta segunda-feira (1º) começa o Novembro Azul, período em que as autoridades, órgãos e instituições alertam para o perigo desse tipo de comportamento.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-BA) e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lucas Batista, o câncer de pênis é menos frequente que outros tipos de enfermidade, mas costuma ser mais agressivo. A falta de higiene e o vírus HPV (papilomavírus humano), Doença Sexualmente Transmissível, são os principais fatores que podem causar esse problema.

“É o tipo de câncer mais frequente em pacientes com baixas condições socioeconômicas, que não têm acesso a atendimento médico e não tem o hábito de expor a glande para lavar o pênis. Pacientes com fimose, por exemplo, que tem dificuldade para expor a glande, muitas vezes, só descobre depois dos 40 anos, quando vai ao urologista”, disse.

A situação foi agravada pela pandemia. O especialista contou que os consultórios registraram queda de cerca de 70% no número de pacientes na Bahia. A SBU informou que entre 2019 e 2020, houve 6 mil diagnósticos de câncer de pênis no Brasil e 1 mil pacientes foram amputados. O tratamento pode exigir a remoção de parte do membro ou até a retirada total.

Casos não tratados podem resultar em morte. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmou que 458 homens morreram por câncer de pênis no Brasil em 2019 e que as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas. O oncologista da Clínica AMO e especialista em tumores do aparelho urinário, Augusto Mota, disse que o autoexame é fundamental.

*Da redação do BFJ, com O Povo.