sexta-feira, 1 de abril de 2022

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Vamos cativar nossas amizades

Vamos cativar nossas amizades

Como estamos vivendo tempos difíceis, trago assim algumas reflexões da nossa vida diária em meio ao momento histórico em que toda humanidade está vivendo, pandemia, guerra. 


Trago hoje uma pequena reflexão de um dos maiores clássicos do século XX – O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. "Saint-Exupéry escreveu e ilustrou o nosso mundo interior. Ao saber deste pequeno milagre ocorrido em meio a um mundo em plena guerra, temos a esperança renovada de que lá dentro, em nossa planetinha mais íntima, ainda brinca e ri com doçura a nossa criança mais frágil e preciosa.... É difícil não se deixar corromper pelo peso do mundo das pessoas grandes." Hoje nos igualamos no mundo, não há maior nem menor, passamos de adultos a crianças em busca de refúgio dentro de nossas próprias casas, e virtualmente buscamos um novo sentido da empatia e do cativar. 


Assim agimos como o Pequeno Príncipe em meio ao “caos” da pandemia e da guerra, em busca dos amigos, dos familiares que estiveram tão pertos e não o víamos e que agora distantes enxergamos e dizemos: “Nossa você é muito bonita”! “Venha brincar comigo, estou um tanto infeliz”... E aí os que estão distantes respondem: “Eu não posso brincar contigo, ainda não fui cativada”. E aí paramos e indagamos: “Eu busco por pessoas, o que significa ‘cativar’? ” Pois é em pleno século XXI não sabemos ainda o termo, pois esquecemos de criar laços, fechamos nosso interior no ativismo, não ficávamos em casa, visitávamos nossas casas e nossas famílias no final do dia, nosso trabalho também nos ensinou a fechar nosso interior. Existem de fatos as poucas famílias que se dedicavam ao cativar, mas prefiro generalizar já que estamos em um período forte de mudanças. Esquecemos de criar laços dentro de nossas casas, fora delas e ainda não aprendemos, estamos a buscar a flor que deixamos lá no deserto de outro planeta, solitária e a morrer por que esquecemos de aguar. A raposa no texto pede para que o Pequeno Príncipe a cative, mas ele responde que não tem tempo. Responde a Raposa: “Alguém só consegue compreender aquilo que cativa. As pessoas já não têm tempo para compreender coisa alguma. Elas compram tudo pronto nos seus mercados, mas não há loja alguma onde a amizade possa ser comprada, e assim as pessoas não têm mais amigos”. Mas o que é preciso para cativar alguém: “Bem, você precisa ser muito paciente. Primeiro, você vai se sentar a uma certa distância de mim – desse jeito – na grama. Então eu olharei para você de canto de olho, e você não deverá dizer nada. Palavras são uma fonte de mal-entendidos. A cada dia, no entanto, você irá se sentar um pouquinho mais perto de mim...” então é isso, com a distância, aprendamos que a aproximação faz falta e como faz. “Mas se você me cativar, será como se o sol viesse para iluminar a minha vida. Eu saberei do som de passos que serão diferentes do som de quaisquer outros passos”.


Precisamos criar ritos para viver este novo momento, entre nós e o outro, “tão esquecidas nos dias de hoje, é o que nos faz ser diferentes um dos outros, é uma hora diferente da outra”. O tempo nos convida hoje em nossas casas realizar ritos diferentes, para que não sejam monótonos e assim vencermos essa quarentena. Precisamos rever nossos conceitos, aquietar a raposa que existe dentro de nós e ouvir os seus ensinamentos diante do tempo, somos o Pequeno Príncipe com sua filosofia de cativar uma rosa distante, única no mundo. Mas o cativar nos faz diferentes e fazemos a diferença para o outro, podemos ter muitos amigos, mas um ou uma será em especial como a raposa a foi para o Pequeno Príncipe, uma em um milhão. 


A raposa conta um segredo ao Pequeno Príncipe, uma frase tão conhecida por nós: “Adeus”, disse a raposa. “E agora, como prometido, aqui vai o meu segredo. De fato, é um segredo bem simples: é somente com o coração que podemos ver corretamente; o essencial é invisível aos olhos...“Foi o tempo que perdeu com a sua rosa o que fez dela uma rosa tão importante. As pessoas esqueceram esta verdade”, disse a raposa. “Mas você não deve esquecer. Você se torna eternamente responsável pelo que cativou. Você é responsável por sua rosa...”  Então vamos tentar cativar, criar ritos, AMAR ao que é essencial aos nossos olhos.