quarta-feira, 11 de maio de 2022

Projeto quer prever a ocorrência de chuvas por meio de ruídos de ligações de celular

(foto: Ribamar Neto) 

Estudantes de Mestrado e Pós-Doutorado da Universidade Federal do Ceará (UFC), professores da Instituição e pesquisadores do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), se uniram em um projeto que visa ampliar e aprimorar o monitoramento de chuvas no Ceará com a ajuda de dados da rede de telecomunicações. Projeto foi apresentado pelo IRD nessa terça-feira, 10, na sede do Instituto de Ciências do Mar (Labomar-UFC).     

"O projeto consiste na utilização dos dados dos enlaces de micro-ondas, que servem como um elo de ligação entre redes de comunicação. O monitoramento se dá a partir desse enlace que é afetado, e enfraquecido, pela chuva. Dessa forma, podemos correlacionar o enfraquecimento com a ocorrência de chuvas", explica o professor Tarcisio Marciel, do Departamento de Engenharia de Teleinformática (Deti-UFC). 


Em outras palavras, as "falhas" nas ligações em dias chuvosos servirão como um tipo de alerta para a ocorrência da precipitação. O principal objetivo do projeto é medir e prever as chuvas torrenciais, facilitando assim o planejamento para que o impacto de enchentes, alagamentos e outros desastres naturais sejam minimizados.                            

           

Além da parceria internacional com o instituto francês, o projeto também conta com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que cede seus dados e equipamentos de monitoramento do tempo—como os pluviômetros—que estão distribuídos por toda a Capital e pelos demais municípios do Ceará.


"É uma parceria recente. A ideia é estreitar ainda mais esses laços para que a Funceme trabalhe mais próxima a nós e compartilhe dados ligados à área de previsão de chuva, para que possamos fazer a combinação de técnicas de inteligência artificial com dados das redes de comunicações", diz o professor Tarcisio Marciel.


Desafios e sucessos

Um dos desafios enfrentados pelos pesquisadores, entretanto, é conseguir o acesso aos dados das ligações de celular. Até o momento, a equipe trabalha apenas com um conjunto de dados limitados, cedidos pela professora Marielle Gosset, do IDR, que desenvolveu um projeto semelhante nos países Nigéria e Camarões. 


Nesses países, o IRD trabalha com os dados da empresa de telefonia francesa Orange e, segundo a professora Marielle, o projeto tem funcionado dentro do esperado. "Podemos fazer estimativas de chuvas em tempo real usando o fluxo de dados e usar isso para prever enchentes, por exemplo. É uma técnica que funciona bem, mas ainda não conseguimos um acordo para obter os dados que precisamos para por o projeto em prática no Brasil. O Ceará poderia ser pioneiro nessa técnica", diz a pesquisadora.


Eduardo Martins, presidente da Funceme, opina que o sucesso do projeto traria à Fortaleza e aos demais municípios cearenses algo como um radar de chuva para grandes cidades. "Nós melhoraríamos a cobertura de monitoramento e precipitação extrema para o centro urbano, que é o que mais sofre com as as grandes precipitações", fala o gestor, ressaltando o interesse da Fundação em cooperar com as pesquisas.

 

Mais cinco anos de projetos

 

O projeto que prevê a utilização dos dados de empresa de telecomunicação e outros projetos científicos para os próximos cinco anos foram apresentados pelo Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) junto com seus parceiros institucionais brasileiros, no Comitê Diretor Estratégico (CPSS), que ocorreu nesta terça-feira, 10, na sede do Instituto de Ciências do Mar (Labomar-UFC).


Representantes da governança da sede do IRD em Marselha, na França, estiveram presentes para participar do Comitê junto a representantes das principais instituições parceiras na região, como a Funceme, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Wireless Telecommunications Research Group (GTEL/UFC), a Universidade Regional do Cariri (URCA), a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), dentre outras.


*Da redação do BFJR com O POVO.