segunda-feira, 23 de maio de 2022

Ceará descarta caso de hepatite misteriosa em adolescente no Cariri


O Ceará descarta caso de hepatite misteriosa em adolescente no Cariri. O caso estava sendo investigado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em paciente do Hospital Regional do Cariri (HRC). O exame, segundo a Sesa, constatou que o jovem não tem hepatite.

Em artigo publicado na revista científica The Lancet, pesquisadores da Imperial College, em Londres, no Reino Unido, e do Centro Médico Cedars Sinai, nos Estados Unidos, levantaram a teoria de que uma infecção prévia pela variante Ômicron teria relação com a hepatite infantil.

Segundo o texto científico, há a possibilidade de o vírus da variante deixar "rastros" no organismo, como pequenos reservatórios que permanecem no trato gastrointestinal (boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus) e influenciam a inflamação exacerbada quando as crianças são infectadas pelo adenovírus que causa a hepatite.

Em entrevista ao O POVO no dia 17 de maio, a infectologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), Michelle Pinheiro, explicou que tempo que as crianças ficaram em isolamento domiciliar pode influenciar nas infecções, uma vez que elas não foram expostas aos patógenos por muito tempo. "Essas múltiplas exposições acabam ocasionando a formação de acometimentos múltiplos e causando danos hepáticos maiores que podem levar à mutação do adenovírus", explica a médica. Em outras palavras, o adenovírus que causava a hepatite antes pode não ser o mesmo que circula agora.

Nerci Ciarlini, também médica infectologista pediátrica, acredita que a hipótese mais forte seria a de que haveria uma junção das duas infecções: uma infecção prévia pela Covid-19 e uma infecção subsequente com o adenovírus. "Realmente foram encontrados amostras positivas do adenovirus em 72% dos casos no Reino Unido. A suposição seria a de que haveria a possibilidade da persistência do SARS-COV2 na mucosa intestinal", detalha em entrevista no dia 17 de maio.

A médica explica que o vírus da Covid-19, juntamente com a infecção pelo adenovírus, levaria à produção de algumas proteínas, chamadas superantígenos, que geraria uma resposta anormal das células de defesa do corpo. "Claro que isso não ocorreria em todas as crianças, pois seria necessário uma predisposição genética, digamos assim", frisa.

A médica diz ainda que as hepatites podem acometer qualquer faixa etária, contudo, crianças são acometidas por tipos específicos da doença. As chances do "cruzamento" entre as duas infecções, segundo Nerci, diminuiria se mais crianças tivessem sido vacinadas. "É importante ressaltar que não há relação entre a vacinação contra a Covid-19 e os casos da hepatite infantil aguda misteriosa", destacou. (Colaborou Euziane Bastos)

*Da redação do BFJ, com O Povo.