Visitando a casa da minha mãe na Zona Rural do município de Brejo Santo-CE especificamente no Sitio Vieira do Poço pude perceber que ainda é bem comum encontrar homens vestidos de couro, guiando a boiada, ou correndo atrás dos animais desgarrados. O trabalho com o gado é de responsabilidade do vaqueiro e muitas vezes esse trabalho rural é passado de geração em geração, filhos acompanham seus pais durante a lida diária com os bovinos.
Como curioso que sou, resolvi puxar conversa com alguns conhecidos que convivi durante algum tempo, pois além de amigos eram colegas de profissão de meu falecido pai que amava sua vocação e seu gibão de couro.
Os fiz a seguinte pergunta: Qual o seu esporte favorito?
Imediatamente, sem muito pensar, eles emitiram de forma confiante e amorosa sua resposta “ PEGA DE BOI NO MATO “!
Na pega de boi no mato os bichos são soltos em uma área de caatinga preservada e quem conseguir recuperar os animais é então declarado o vencedor, ou vencedores, e no término do evento são premiados. A premiação é feita com troféus e brindes (animais, selas, arreios), normalmente doados pelos parceiros que organizam estes eventos.
Esse esporte tão tradicional é praticado desde os tempos da ocupação do sertão nordestino pelos brancos europeus, uma competição de certa forma perigosa pois os vaqueiros e os animais tem que enfrentar espinhos de juremas e touceiras de xique-xique, demonstrando coragem e valentia. Qualquer acidente pode ser fatal, pois, segundo os sertanejos, os cavalos chegam a alcançar 60 km/h na velocidade máxima da corrida no meio da vegetação ressequida e pontiaguda. Neste sentido, observa-se que a pega de boi traz consigo também em algumas regiões uma cultura já enraizada de maus tratos aos animais, principalmente o gado, somando isso aos perigos específicos desta prática para o homem e o animal, que pode ter seu rabo arrancado numa queda ou ter um membro fraturado.
Fraturas, arranhões e perfurações são comuns entre os vaqueiros praticantes dessa atividade. A captura do animal ou a corrida na caatinga pode causar perfurações e cortes nos animais, com relatos, por exemplo, de cavalos que são sacrificados após perderem a visão durante a pega de boi. Em função dessas questões que passam por uma problematização do campo da ética ou do direito relativo aos animais, o esporte se torna não tão atrativo pois não podemos colocar o respeito a diversidade cultural acima da vida ou do respeito ao outro, corremos o risco de alienar a prática de suas consequências diretas, ou indiretas.
Existe trajes apropriados para pratica desse esporte, eles são feitos de couro são essenciais, usadas pelos vaqueiros para se proteger de acidentes na busca pelo boi no meio do mato. A principal peça é o gibão, que cobre os homens do pescoço à cintura, como se fosse um paletó de couro. Tem o guarda-peito, que é um pedaço de couro curtido com que os vaqueiros resguardam o peito, preso por meio de correias ao pescoço e à cintura. Depois vem a perneira, que é a calça de couro ajustada ao corpo, vai do pé à virilha, mas deixa o corpo livre para cavalgar. Não pode faltar o tradicionalíssimo chapéu do vaqueiro nordestino, que além de lhe proteger do sol, serve como escudo contra eventuais golpes na cabeça. E nos pés vem as esporas, um instrumento de metal que se põe no salto do calçado para incitar o animal que se monta.
Concluo meu ponto de vista com a certeza de que apesar de toda problemática e riscos existentes as pegas de boi no mato são importantes manifestações culturais que celebram a cultura nordestina e a memória do vaqueiro sertanejo. Preserva a memória do sertanejo, reconhecendo a valentia e a importância do vaqueiro nordestino e para manter viva uma tradição, cresce cada vez mais o esporte da Pega de boi no mato por todo o Nordeste brasileiro.
Fontes: https://www.godela.com.br/noticiapega-de-boi-no-mato/.
https://www.mapeamentoculturaldealagoas.com/FESTAS/PEGA-DE-BOI