sexta-feira, 31 de agosto de 2018

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - Dona Zilda, mente de ouro, baluarte da história religiosa de Brejo Santo.


Dona Zilda, mente de ouro, baluarte da história religiosa de Brejo Santo.

Nos dias de hoje com essa correria desenfreada, mentes cansadas e muitas vezes apagadas do vai e vem, deparo-me com DONA ZILDA excelência na memória. Por que excelência? Simplesmente lembra de tudo, pois, com seus 94 anos de idade, a medida que vamos conversando as histórias vão sendo contadas. Com orgulho faço minha homenagem a esta mulher mãe, mulher e catequista, neste mês vocacional dedicado as vocações inclusive ao Catequista.
Dona Zilda nasceu no ano de 1924, no município de Lavras da Mangabeira, filha do Casal Moisés Gonçalves Primo e Maria Gonçalves Leite. No ano de 1932, na seca terrível que assolava a região, toda a família fora morar em Minas Gerais, na cidade de Januária. Depois de cinco anos instalados na cidade de Januária a família retorna ao Ceará para residir na cidade de Brejo Santo, pois seu pai fora informado de que Brejo Santo era uma cidade desenvolvida na agricultora e facilitaria o trabalho do mesmo como agricultor.
No ano de 1935, quando chegou em Brejo Santo Dona Zilda lembra que o Pároco era Padre Predo Inácio Ribeiro. Começa então seu discurso adorado sobre um pouco de nossa história. Ela revela que Padre Pedro Inácio era catequista, juntava as crianças aos domingos no horário de meio dia na Igreja e falava sobre os Santos. Passava como sabatina que ao retornarem no domingo seguinte, quem se lembrasse do santo que ele falou do domingo anterior ganharia uma prenda. Então, sua primeira eucaristia aos 10 anos de idade com o digno Padre Pedro Inácio Ribeiro.
Os anos se passaram e Dona Zilda já moça se casa com Pedro Alves Cabral,  e com ele constitui uma prole de 9 filhos: Elisabete (Bete), Vanda, Corrinha, Salete, Zilca, Demonteir, Moisés e Itamar (in memorian). Lembra com alegria que seu casamento foi celebrado por Padre Pedro Inácio Ribeiro na residência de seus pais. Recorda-se que, os pais dela arrumaram a casa com um altar e nele estava a imagem de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, trazida da Igreja Matriz especificamente para a celebração do casamento. Recorda-se que o casamento no civil fora pela manhã e o religioso no período da tarde às 5 horas. Ela diz; “A festa daqui era muito interessante, a música tocada era a banda de música de Mestre Olivio. Mamãe fez uma festinha para os músicos para eles se alimentarem. Depois foram todos embora cedo e mamãe disse que eu dormir em casa e que Pedro fosse dormir em casa”. Neste momento eu sorrir e disse-lhe que de fato tudo era diferente, hoje os jovens não aceitam essa atitude.
Dona Zilda lembra que passou dois anos sem ter filhos. Nasceu um com oito meses e não resistiu. Ela sorrir e revela que como naquela época não tinha comprimido “quando um menino estava com 1 ano e 4 meses eu já estava com outro. Custou mais depois era um atrás do outro”
Diante das dificuldades enfrentadas a família foi embora para Mato Grosso, depois de cinco anos retorna e recomeça tudo de novo. Ao chegar na cidade procura Padre Pedro Inácio Ribeiro e se oferece para ser catequista. Assim começa sua vida vocacional a catequese. Ela diz que o catecismo era na Igreja Matriz e que Maria Alacoque ensinva o catecismo em casa. Os anos forma passando e Dona Zilda mais próxima da Igreja e do Padre Pedro Inácio Ribeiro. Quando ela foi fazer a entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus na sua casa chamou Padre Pedro para celebrar e mesmo debilitado foi, conduzido pelos amigos e celebrou.
Na época, o catecismo era feito por um livrinho que continha toda doutrina. Ela disse que um dos locais disponíveis para ensinar era o Circulo Operário. Quando seu irmão tinha a chave facilitava, mas depois que Manuel Bezerra assumiu ficou difícil por que ele achou que as crianças estavam “estragando”. Recorda que um dia desses encontrou em uma de suas consulta ao médico ele diz “minha catequista”. Dona Zilda atendia a mais de 30 crianças. Depois que não tinha mais o espaço do Circulo Operário ela resolve ensinar na sua residência. Assim sua filha Vanda revela que era tanta criança espalhada pela casa, incluindo os filhos que ela também catequizava. Mas ela tinha o prazer de servir, com o detalhe de que quando era festa da primeira eucaristia ela preparava tudo, inclusive as roupas ela mesma confeccionava e doava as crianças.
Sua vida de catequista estava só começando, depois ela foi convidada por Socorrinha de Dr. Lucena (ela primeira Dama e ele Prefeito),  para ensinar no Projeto ABC. Pediu ainda que dona Zilda preparasse 25 crianças para celebração dos 25 anos de vida sacerdotal do Monsenhor Dermival. Dona Socorrinha fez a doação dos tecidos e ela confeccionou. Foi uma festa linda revela. Recordo-me das roupas de anjos que ele fazia e pergunto como surgiu a idéia de fazer essas roupas. Ela disse que a ideia inicial, foi de Socorrinha Lucena e ela levou adiante. Pegava as penas no local onde depenava galinhas, pegava as penas e colocava de molho, depois de três dias começava a confeccionar as asas de brancas a coloridas. As roupas eram feitas com renda carioca as quais ficavam lindas (neste período já era Padre Dermival). Dona Zilda tem seu acervo de fotos das primeiras eucaristias da época. Só deixou de ensinar o catecismo quando seu esposo adoeceu e ela precisava se dedicar ao marido.
Sua herança religiosa é familiar, principalmente de sua mãe que todos os dias a levava a missa celebrada por Padre Pedro Inácio Ribeiro, às 7 horas da manhã. Lembra que estudou na escola de Dona Pedrosina, Dona Balbina, diz que conheceu todos eles. Lembra ainda do coreto da Praça, o qual era cercado por que em Brejo Santo tinha muito jumento e para eles não invadirem o espaço foi feito esta cerca. Ela disse que e a banda municipal de música uma vez por semana ia tocar e todos iam ver.
Dona Zilda, esta mulher abençoada sempre conduziu seus filhos ao caminho da Igreja. Hoje ela encontra-se sem condições físicas para ir a Igreja, mas sente-se feliz em assistir pela Tv a missa, mas vez ou outra os filhos vem buscá-la de carro e assim ela participa da Santa Missa. Fiquei impressionada com seus bordados e seus crochês feitos por suas mãos delicadas.
Para finalizar pergunto sobre os netos e  bisnetos ela diz que são tantos e 15 que tem 15 bisnetos e que foi abençoada por possuir uma família linda. Para ela Brejo Santo  hoje é uma cidade é uma cidade melhor e a Igreja tem outra história. No momento ela lembra que mudou por que antes ela ia de cavalo com Padre Pedro ao Poço para celebração, na companhia também Expedito Soldado, a festa era na casa de Irineu Ricarte. E hoje tudo é facilitado.
Para encerrar ela canta; “Crianças do catecismo Jesus vos ama e quer bem, amai também a Jesus que ele é nosso querido bem. Ei vamos todas a Jesus conhecer do catecismo do catecismo vamos aprender”.
Obrigada Dona Zilda por compor a nossa história cotidiana. Exemplo de dignidade e fervor na fé em Jesus. Deus abençoe!