quarta-feira, 19 de junho de 2019

COLUNA DO PROFESSOR PIXOTE - Idade Moderna

Idade Moderna 


Boa tarde. Vamos resolver questões inéditas modelo Enem. O ASSUNTO É IDADE MODERNA.  Logo abaixo da questão tem o   gabarito, os comentários explicativos e as Competências e Habilidades exigidas. Bons estudos e um grande abraço. 

QUESTÃO 01.  Leia o texto de Calvino, a fim de identificar seu posicionamento diante da salvação do ser humano perante os  olhos de Deus. Chamamos de predestinação ao eterno decreto de Deus com que Sua Majestade determinou o que deseja fazer a cada um dos homens: porque Ele não cria a todos em uma mesma condição e estado; mas ordena a uns a vida eterna e a outros a perpétua condenação. Portanto, segundo o fim a que o homem é criado, dizemos que está predestinado ou à vida ou à morte [...] Afirmamos pois (como a Escritura evidentemente o mostra) que Deus constituiu em seu eterno e imutável desejo aqueles que Ele quis que fossem salvos e aqueles que desejou fossem condenados. Esse desejo está fundado sobre a gratuita misericórdia divina, sem ter nenhuma relação com a dignidade do homem; ao contrário, o portão da vida eterna está fechado a todos aqueles que Ele quis entregar à condenação, e isso se faz por seu secreto e incompreensível juízo, o qual é justo e irrepreensível. CALVINO, Instituição da religião cristã, 1536. In: SEFFNER, Fernando: Da Reforma à Contra – Reforma – o cristianismo em crise. São Paulo: Atual, 1993. In: SILVA, Francisco de Assis. História do homem: abordagem integrada da história geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 1996. v.2, p. 71.

A alegação de Calvino em relação à salvação:
(A) está ligada à ideia da predestinação, pois Deus ordena a uns a vida eterna e a outros a perpétua condenação, assim, o homem está predestinado à vida ou à morte no pecado.
(B) está intimamente ligada ao desejo humano de avaliar suas ações, desse modo, praticar o bem colabora para a salvação, pois Deus não cria a todos da mesma forma.
(C ) está ligada à ideia de que o portão da vida eterna está fundado na misericórdia divina, portanto, Deus salva a todos.
(D) está ligada à ideia de que não há salvação, pois, Deus condenou, segundo a Escritura, todos a pagarem por seus pecados, sendo este seu imutável desejo.
(E) está condicionada a uma vida sem abusos e à resignação do homem diante dos desígnios divinos.

Gabarito: A
Comentários: As ideias do francês João Calvino são conhecidas pelo teor de radicalismo. A essência de sua teoria está na defesa da ideia de predestinação absoluta, segundo a qual Deus teria escolhido alguns homens para a salvação, a  vida eterna; para os outros não adiantariam os esforços individuais, pois já estão predestinados à condenação, como aponta a alternativa A. Entretanto, é possível identificar dentre os seres humanos aqueles escolhidos por Deus, por meio da riqueza por eles obtida ao longo da vida, resultado do trabalho honesto que executou.

Competência ENEM: 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Habilidade ENEM: 1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.

QUESTÃO 02. (C5H23) Pela leitura do texto identifique estratégias de exercício do poder real no reino francês, durante a Idade Moderna. Isso que designamos como “corte” do Ancien Régime não passa de uma vasta extensão da casa e dos assuntos domésticos do rei francês e de seus dependentes, incluindo todas as pessoas que fazem parte daquela casa, de modo mais ou menos restrito. As despesas com a corte, com esse imenso domicílio do rei, superam as do reino da França como um todo [...]. A autoridade do rei como senhor da casa em meio à sua corte tem um correlato no caráter patrimonial do Estado na corte, isto é, do Estado cujo órgão central é formado pelo domicílio do rei em seu sentido amplo, portanto pela “corte” [...]. A dominação do rei sobre o país não passava de uma extensão, algo que era incorporado à autoridade do príncipe sobre a casa e a corte. O que Luís XIV (que marca tanto o ponto culminante quanto o ponto de virada desse desenvolvimento) empreendeu foi, por conseguinte, a tentativa de organizar o seu país como uma propriedade pessoal, como extensão da corte em que morava. [...] ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p. 66.

De acordo com o texto, o modelo de política estabeleci¬do por Luís XIV
( A ) separava o público do privado, tratando-o como um espaço de participação política independen-temente do grupo social e como um conjunto de bens, cuja propriedade era coletiva.
( B ) separava o público do privado, de modo a resguardar a intimidade do rei, especialmente no financiamento e na relação pessoal que mantinha com a sociedade de corte.
( C ) resguardava o bem público do uso indevido pelo governante, de modo a proteger o Estado de atos de corrupção, consubstanciados na patrimonialização dos bens públicos.
( D ) seguia uma tendência liberal, que permitia a arrecadação de impostos com o fim de financiar a sociedade de corte, órgão político responsável por preservar os interesses individuais.
( E ) espelhava a vida privada do rei, já que permitia a essa autoridade tratar o Estado como a sua casa, exercendo uma conduta denominada de patrimonialismo.

Gabarito:  E
Comentários: De acordo com Norbert Elias, a política pública, em-preendida por Luís XIV, espelhava a conduta da autoridade em relação à sociedade de corte, órgão social composto pela nobreza que gravitava e era sustentada pelo rei. Desse modo, é compreensível que o rei tratasse o que hoje se entende por algo público, por exemplo, a receita estatal, como algo que fosse privado, caracterizando uma cultura patrimonialista, que não obrigava o rei a justificar os seus gastos. 

Competência ENEM: 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. 

QUESTÃO 03. Leia o texto e o associe às práticas comerciais inglesas durante a Idade Moderna. A única maneira de fazer com que muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro real é conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente além dos mares, e menor quantidade de seus produtos seja para cá transportada. FREITAS, Gustavo de. 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano Editorial, s/d. p. 234. IN: MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História Moderna através de textos. 6. ed, São Paulo: Contexto, 2000. p. 89. (Textos e documentos 3). 

Marque a alternativa que cita a prática mercantilista inglesa destacada no texto pelo autor.
 ( A ) Metalismo.   
 ( B ) Colbertismo.  
 ( C ) Liberalismo.
 ( D ) Bulionismo.
 ( E ) Balança comercial favorável.

Gabarito: Alternativa E
Comentários: O texto resume claramente a prática mercantilista inglesa. O mercantilismo comercial, prática econômica da coroa inglesa, que incentiva a balança comercial favorável como prática comum do sistema mercantilista, o qual objetiva resguardar a saída e acumular com a exportação (sempre maior que a importação) o metal dos cofres reais. O mercantilismo inglês conhecido como “mercantilismo comercial” baseava-se na lógica econômica de comprar barato e vender caro. 

Competência ENEM: 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
Habilidade ENEM: 18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

QUESTÃO 04. Analise a imagem e identifique características do poder real durante o reinado de Luís XIV.
JOUVENET, Jean. Luís XIV realizando um milagre.
  1690. Igreja Abacial Saint-Riquier, França.
Igreja Abacial Saint-Riquier/Fotógrafo desconhecido.

No contexto da monarquia francesa moderna, a imagem simboliza:
(A ) o caráter laico do poder real, compreendido como fruto da delegação do povo, que o recebeu das mãos de Deus.
(B) a dissociação entre moral e política, pois apresenta o rei lançando mão de uma estratégia política de controle das massas.
(C) a personificação de Deus na Terra, defendida pela teoria do direito divino dos reis, o que legitima a prática na imagem simbolizada.
(D) a fragilidade do poder real, pois sua prática precisava ser legitimada pela Igreja.
(E) a concretização da teoria dos dois gládios, que preservava o exercício do poder laico à Igreja e do poder temporal ao rei.

Gabarito: Alternativa C
Comentários: A monarquia francesa, sob o governo de Luís XIV, legitimava o absolutismo real por meio da teoria do direito divino dos reis. O poder real era considerado como advindo da vontade de Deus, e o rei como alguém designado e ungido por Ele para governar seus súditos. Logo, sua autoridade é sagrada. Algumas práticas reforçavam a teoria, tal como a representada na imagem, que simbolizava o rei praticando o milagre da cura.  
Competência ENEM: 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Habilidade ENEM: 1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.

QUESTÃO 05. Leia o texto, com o fim de perceber as relações econômicas entre as metrópoles europeias e suas colônias americanas. [...] A burguesia comercial metropolitana podia apropriar-se [...] das economias coloniais – simples anexos complementares da Europa – devido ao fato de que seu monopólio permitia vender o mais caro possível as mercadorias europeias na América e, em contrapartida, comprar aos preços mais baixos possíveis a produção colonial. [...]. Para que o sistema pudesse funcionar as formas de exploração do trabalho deveriam ser de tal tipo que permitissem a concentração da renda nas mãos da classe dominante colonial: ainda quando a maior parte do excedente se transferia para a metrópole, a parte restante se concentrava, garantindo assim a continuidade do processo produtivo e da importação de artigos europeus. [...] CARDOSO, Ciro Flamarion S.; BRIGNOLI, Héctor Pérez. História econômica da América Latina. Rio de Janeiro: Graal, 1983. p. 69-70.

A descrição feita no documento permite concluir que:
( A ) a adoção da mão de obra escrava nas colônias foi fundamental para o funcionamento da exploração local e para o acúmulo primitivo de capitais.
( B ) as relações mercantis modernas tinham como objetivo a formação de um mercado econômico interno e dinâmico nas colônias americanas.
( C ) a produção econômica colonial concorria com a produção metropolitana, integrando as relações comerciais entre Europa e América nas nascentes ideias liberais, o que propiciava o crescimento econômico dos continentes por meio da livre concorrência.
( D ) o acúmulo primitivo de capitais ocorria apenas em função do pacto colonial, circunscrito ao lucro oriundo da revenda de produtos coloniais no mercado consumidor europeu.
( E ) a mão de obra assalariada se articulava com a exploração colonial de modo a permitir o acúmulo primitivo de capitais.

Gabarito: A
Comentários:
A exploração colonial feita por metrópoles europeias entre os séculos XV e XIX fundamentava-se em pressupostos mercantilistas, de modo a estabelecer um monopólio sobre as riquezas coloniais, com o fim de propiciar o acúmulo de capitais por parte da metrópole, especialmente em função da circulação de mercadorias. A relação econômica entre metrópole e colônia obedecia aos parâmetros estabelecidos pelo pacto colonial, por meio do qual a colônia estaria limitada a fornecer gêneros tropicais e metais preciosos à metrópole e somente desta poderia adquirir produtos manufaturados e mão de obra escrava de origem africana. O objetivo central era o enriquecimento da metrópole, o que fica expresso inclusive na predileção pela mão de obra escrava africana, já que o comércio dessas pessoas gerava lucro tanto para o comerciante de escravos  quanto para a metrópole, que auferia impostos sobre tal relação comercial. A economia colonial complementava a economia metropolitana, propiciando também o acúmulo de riquezas por parte das elites coloniais, o que ocorria não apenas por meio da retenção de parte dos lucros oriundos do comércio dos produtos locais, como pelo uso da mão de obra escrava, por definição não remunerada.

Competência ENEM: 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
Habilidade ENEM: 18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

QUESTÃO 06. Leia o documento, de modo a estabelecer relações entre a etiqueta praticada no Antigo Regime e o exercício do  poder régio. A corte toda assiste às refeições do rei: ele come só, ou com a família real, muito raramente convida alguém à sua mesa. Luís quer beber: o nobre que o serve proclama: “Bebida para el rei”. Faz uma reverência, vai ao bufê tomar de um cortesão a bandeja de ouro com o copo e as garrafas d’água e vinho, retorna entre dois domésticos. Depois de nova reverência, os servidores provam as bebidas em taças de vermeil (velho hábito, para verificar se não há veneno); o fidalgo inclina-se e apresenta o copo e as garrafas. O próprio rei serve-se da bebida (Luís XIV nunca tomava puro o vinho). E o fidalgo, depois de curvar-se pela quarta vez, devolve a bandeja ao doméstico, que a repõe no bufê. Este cerimonial leva uns dez minutos, comer e beber, de funções banais do dia a dia, se elevam a gestos espetaculares, que seduzem e se exibem. [...] RIBEIRO, Renato. A etiqueta no Antigo Regime. 4. ed. São Paulo: Moderna, 1998. p. 43 – 44. (Coleção Polêmica).

O relato das práticas cotidianas na corte de Luís XIV é exemplo:
(A) de uma estratégia real de controle político da nobreza, consubstanciada no uso de hábitos cotidianos para destacar o status político de alguns nobres junto ao rei.
(B) de hábitos culturais inscritos na vida privada dos cortesãos da França moderna, evidenciando que estão circunscritos à intimidade das famílias nobiliárquicas.
(C) do modelo de controle político adotado pelo rei em relação à burguesia francesa.
(D) do direcionamento fútil dos recursos recolhidos junto ao Terceiro Estado pela corte francesa, sendo, pois, desprovido de um sentido político.
(E) da socialização da riqueza junto a diversos segmentos sociais como estratégia de manutenção do poder político por parte do rei.
Gabarito: A
Comentários: A monarquia absolutista era a forma de governo dos Estados europeus durante a Idade Moderna, caracterizando- se pela centralização da administração de recursos, da criação de leis e da prestação de justiça. O rei fundamentava seu poder ideologicamente de acordo com a Teoria do Direito Divino dos reis, bem como se utilizava de estratégias simbólicas que reafirmavam o centralismo no imaginário social francês – propaganda política, por exemplo. Como forma de conter possíveis revoltas, a autoridade real conferia benefícios a determinados grupos sociais, por exemplo, concessão de títulos nobiliárquicos à burguesia e transferência à nobreza de recursos recolhidos junto ao Terceiro Estado. Outra estratégia utilizada pelo rei junto à nobreza era permitir que esta participasse de atos cotidianos associados à intimidade da realeza, sendo que a privação desse convívio podia significar marginalização política do rei em relação ao nobre.

Competência ENEM: 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Habilidade ENEM: 4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.